#Reflexão: Vigília de Natal (24 de dezembro)

22 de dezembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 24, a Vigília do Natal do Senhor. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 9,1-6

Salmo: 95
2ª Leitura: Tit. 2, 1-14
Evangelho: Lc 2, 1-14

Acesse aqui as leituras.

MISSA DA NOITE DE NATAL

            Estamos dentro de uma noite especial: o Natal do Senhor! Juntamente com a celebração da Vigília Pascal, também nesta noite, tudo está centrado na luz que governa o mundo e o universo. A luz é o primeiro elemento criado por Deus para iluminar todas as coisas. Estar na luz é viver na segurança de vermos tudo ao nosso redor. Mas o Natal e a Páscoa falam de uma luz ao contrário. Deus – Criador de tudo – esconde sua luz para entrar na realidade humana. No Natal, Ele se faz simples em uma criança; na Páscoa, entra na escuridão da morte para iluminar o caminho que nos separava da eternidade. No Natal, Deus se inclina para alcançar a humanidade em um abraço perfeito onde o infinito se torna história; onde o Criador de tudo se esconde na menor das criaturas. Não se celebra o aniversário de Jesus somente, mas o sonho eterno de Deus de retomar o abraço perdido de seus filhos e filhas.

            A celebração do Natal é uma solenidade que não cabe em uma única missa. São quatro previstas pela Igreja: da véspera (após as 18h do dia 24/12); da Noite (“missa do galo” próxima da meia noite); da aurora (na manhã do dia 25/12) e a missa do dia de Natal. Solene é o modo que Lucas narra o nascimento de Jesus com o seu Evangelho da Missa da Noite.

Lucas inicia todo relato nos situando na história. Jesus é alguém que entra na história humana em um tempo preciso e conhecido, não é uma fantasia ou uma lenda. Por isso, a história começa a contar os anos a partir do seu nascimento. A encarnação não é limitada ao ventre de Maria, mas na história humana concreta daquela época e na história do povo de Deus (da descendência de Davi). Cesar Augusto era o imperador que se sentia senhor da história e da vida das pessoas. “Naqueles dias” em que o imperador exercia seu poder, seria no ano 7 a.C, Roma estava no seu auge como capital do mundo, Otaviano era imperador havia 20 anos. O imperador de Roma é nomeado por São Lucas de “Cesar Augusto”: “Augustus (sublime) sebastos (venerável)”, pois ele se comportava como Deus e dominador do mundo. Augusto pacificou o império, eliminando todas as revoltar. Para celebrar este evento, mandou construir em Roma o “altar da paz”, inaugurado, cerca, dois anos antes do nascimento de Jesus. Quirino era governador da Síria e também da palestina, terra do povo de Deus. Estes eram os grandes que dominavam o mundo da época.

O evangelista Lucas menciona uma “contagem da população”. Recenciamento sempre foi visto pelo povo de Deus como uma ousadia dos governantes, pois somente Deus pode contar e saber quantas pessoas existem. O decreto de Augusto tinha a intenção de saber quanto ele podia contar de homens para a guerra e quanto de impostos poderia cobrar.

Em seguida, Lucas informa aqueles que são contados e que não contavam nada para o império: os pobres e os fracos. O evangelista coloca todos em uma escala sempre se dirigindo ao último. Fala de José (um homem), Maria (mulher grávida) e por fim, o recém-nascido.

Belém é a cidade de origem de Davi. Mas, Jesus não veio para substituir os reinos deste mundo, mas um reino que inicia com os simples e pobres. Lucas fala do nascimento de Jesus de um modo rápido sem detalhes. Diz que era o “primogênito”. Em Israel, o primeiro filho “pertencia” a Deus e devia ser resgatado (readquirido) com um sacrifício de animal. “Envolto em faixa”, para Lucas era o sinal de reconhecimento dos pastores. Há um texto da Sabedoria (cap. 7) que traduz a realidade do rei que nasce como todos os outros: o primeiro grito foi um choro; enrolado em panos… Neste sentido, Lucas coloca que Jesus veio ao mundo (mesmo sendo grande) como qualquer outra pessoa. “Envolver em lençol” (Lc 23,53) poderia ainda já estar ligado ao sepultamento de Jesus após sua morte na cruz. “Colocado na manjedoura”, Lucas poderia estar se referindo a citação de Is 1,3: “o boi conhece seu proprietário…. e Israel não conhece, meu povo não me compreende”. “Não tinha lugar para eles na hospedaria. Não é verdade que foi negado hospitalidade ao casal, pois isto era impensável para o povo judeu, principalmente, uma mulher naquele estado. Os grandes da terra usam e abusam dos pequenos; geram situações críticas, muitas vezes, somente por luxo pessoal. Todos os lugares estavam ocupados por pessoas procurando cumprir as ordens do soberano da época. Deus para vir a este mundo, também foi atingido por essa desordem. Não havia lugar para os últimos entre os mais simples. O mundo girava entorno de decretos desumanos. Assim, não houve lugar para uma mulher prestes a dar à luz nas hospedagens.  Coube aos animais oferecer e dar espaço para que se iniciasse a irradiar uma nova luz neste mundo: tudo inicia entre os desconhecidos e entre aqueles que nada somam para o mundo. A esperança nova brilha onde o mais forte da soberba humana imperava.

No Natal no final do ano que todos os anos ouvimos ao nosso redor se apresenta muito distante do verdadeiro Natal de Jesus. Se fala de tudo que é externo e insignificante: enfeites, luzes artificiais, roupas diferentes, muita comida, presentes… Mas, não se fala de Jesus. O mundo percebeu há um bom tempo que as coisas da fé dão lucro, basta aproveitar de tudo sem falar de nada de Deus: Natal, Páscoa, Corpus Christi, Cinzas (carnaval) etc.

O Natal de Jesus não tem nada de romântico e delicado. Fala-se do drama de uma família que vive constantes momentos onde a vida sempre está em perigo. Onde a realidade humana é reduzida ao mínimo das coisas e pessoas. Toda grávida quase sempre tem a sua mãe como apoio no momento do parto, Maria não teve.

Lucas nos informa de outro grupo marginalizado naquele tempo: os pastores. Eram desprezados, pois não cumpriam a maioria dos preceitos, costumes, pureza ritual e dias sagrados; vivem entre animais a maior parte do tempo; Não eram aceitos como testemunhas (ninguém acreditava nos pastores). Esses são os primeiros a receber a luz nova da presença de Deus. A Nova Luz do Criador começa a trazer esperança com aqueles que Ele foi encontrar entre os mais distantes de todos.

O texto do Evangelho diz que “um sinal encontrareis: um menino envolto em panos”. Todos querem crescer no mundo, se tornar pessoas de expressão e grandeza; somente Deus quis se tornar uma criança.

Deus nas coisas pequenas: esta é a força que rompe no Natal. A humanidade sempre defendeu que tudo tem uma subida do pequeno ao grande; os menores dependem dos maiores; os poderosos se impõem com a força sobre os simples. Os homens querem sair, mandar e se tornarem centro do mundo. Deus, ao contrário, quis descer, servir e se doar. Com o nascimento de Jesus, Deus desceu até os seus filhos; o grande até os pequenos; da cidade a uma gruta; do Templo ao campo de pastores. Quis nascer como qualquer homem neste mundo, uma criança é a realidade mais frágil e desarmada que se pode ter. Não há perigo, somente afeto e carinho. É a nova ordem que se inicia no mundo para que os próprios homens redescubram o sentido de tudo e da própria vida.

No Natal somos convidados a tomar consciência de Deus nas coisas pequenas; naquilo que não se vê com olhos comuns, mas somente com os olhos da fé. Sim, Deus está presente em nossa história, como Deus Conosco! Assim, podemos afirmar que a nossa humanidade, mesma na mais simples realidade e com a ausência de quase tudo de material, os homens e mulheres continuam sendo algo bom para Deus, pois Ele escolher vir ao nosso mundo desta forma.

Aos pastores, o anjo anuncia a principal mensagem de Deus: “Não tenhais medo!” Deus não deve produzir medo jamais! Se há medo, não é Deus que está próximo de ti! Deus se desarma em um recém-nascido! Um Deus que encanta e não produz medo; um Deus que necessita de todo cuidado e carinho.

Como o Natal, Deus inaugura uma nova alegria neste mundo que está muito além das coisas materiais, do poder que oprime e da força que produz a morte. Uma alegria possível a todos, também para os feridos e plenos de defeitos, não somente os melhores e os mais santos. A nova fonte de paz que é anunciada no Natal de Jesus acontece no meio de um turbilhão de problemas e desafios. Na ausência de tudo que nos ilude como a solução para nossos problemas. Uma paz que não cala a humanidade, mas surge a partir de uma manjedoura e com o choro de um recém-nascido. Não tem nada de mais humano, puro e genuíno que um bebê que inicia sua história neste mundo

Natal é uma festa dramática, como é a vida de inúmeras famílias que estão sempre lutando para sobreviver. Deus entra no mundo a partir do ponto mais baixo, fazendo fila como tantos excluídos. É um Deus que se sujeita a uma vida como é a vida da maioria de seus filhos e filhas no tempo e na história. Um Deus que quis viver intensamente a luta diária pela vida, nos limites que são impostos e não escolhidos e na simplicidade da vida. Um Deus que também aprendeu a chorar para que a sua e a nossa vida sejam um único rio que termina sua existência em Deus.

Um bom e Feliz Natal a todos!

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