Santa Juliana de Cornillon: mística do Corpus Christi

7 de junho de 2023

Nasci numa família numerosa. Sou a sexta filha dos doze filhos gerados por papai e mamãe. Todos nós temos nomes de santos, os quais nossos pais nutriam fervorosa devoção.

Quando realizei a linda experiência de ser mãe, eu e meu esposo escolhemos nomes que achávamos bonito pela sonoridade e simplicidade. São os nossos filhos Bruno e Juliana. Depois procurei saber sobre a vida desses santos dos nomes de nossos filhos. E agora, para escrever este artigo, mais profundamente, a vida de Santa Juliana, cuja memória celebra-se em 10 de junho.

Juliana de Cornillon, uma figura feminina não tão conhecida, mas reconhecida pela Igreja por sua santidade de vida, e sobretudo por seu profundo amor e fervor, que favoreceram para a instituição de uma das solenidades litúrgicas mais importantes do ano, a do Corpus Christi. Ajudou-me muito, neste conhecimento, o belo artigo do papa Bento XVI, a partir da audiência geral de 17 de novembro de 2010.

Juliana foi uma “mística”, que viveu numa união íntima com Jesus Cristo e contemplando a presença de Deus num estado de êxtase e bem-aventurança. Como nos ensina sua vida, a ver a ação de Deus nos acontecimentos, aparentemente sem explicação, mas que revelam a força extraordinária produzida pela íntima relação com Deus. É o mistério sempre presente em sua vida!

Santa Juliana ensina-nos com sua mística e espiritualidade a busca do amadurecimento de nossa fé e, a lidar com as dúvidas sempre bem-vindas, que nos lançam a sempre buscar respostas e quem sabe, encontrar a verdade.

Santa Juliana ensina-nos a sua capacidade de contemplação vivida no profundo sentido da presença de Cristo, de modo particular no Sacramento da Eucaristia e na meditação diária das palavras de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt 28,20) Ensina-nos sua constante e fervorosa oração diária e sua paciência histórica pela espera: por 20 anos conservou em segredo a revelação, que tanta alegria trouxe ao seu coração, para que pudesse ter a confirmação de que uma inspiração vem de Deus. Esses testemunhos de Juliana deixam-me feliz, por nossa filha, que carrega em seu nome tanto amor a Deus e aos irmãos e irmãs.

Juliana nasceu em Liège, na Bélgica, por volta dos anos 1191 e 1192. Antes mesmo de Juliana, há que se ressaltar que esta cidade, sede de Diocese, era um verdadeiro ‘cenáculo eucarístico’, pois ali notáveis teólogos explicavam o valor supremo do Sacramento da Eucaristia. E também, da existência de grupos femininos, que se dedicavam ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa, em oração e fazendo obras de caridade, sempre com a orientação de padres.

Imagem de Santa Juliana de Cornillon. Foto: Andreas Praefcke.

As irmãs Inez e Juliana ficaram órfãs. Juliana, com apenas 5 anos, e Inez, foram, então, confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do Convento-leprosário de Mont-Cornillon. Ali, recebeu esmerada educação e acompanhamento de sua vida espiritual. Juliana tornou-se uma monja agostiniana, muito inteligente e dedicada aos estudos, sobretudo na leitura das obras dos Santos Padres, em especial Santo Agostinho e São Bernardo. Em seus momentos de oração diante do Santíssimo Sacramento e nas adorações eucarísticas, Juliana começou a ter visões. A primeira visão Juliana com 16 anos, via a lua esplendorosa e com uma faixa escura, que a atravessava. O Senhor Jesus ajudou-a a compreender o significado dessa visão: a lua simbolizava a vida da Igreja na terra. A faixa escura representava a ausência de uma festa litúrgica em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

A festa de Corpus Christi foi conquistada com a ajuda de Tiago Pantaleão de Troyes, que se tornou papa com o nome de Urbano IV. Em 1264 o papa instituiu a Solenidade de Corpus Christi como festa de preceito para toda a Igreja universal, na quinta-feira sucessiva à Festa de Pentecostes. Na Bula de instituição Transiturus de Hoc Mundo, em 11 de agosto de 1264, o papa evoca as experiências místicas de Juliana, valorizando a sua autenticidade, e escreve: “Embora a Eucaristia seja celebrada solenemente todos os dias, na nossa opinião é justo que, pelo menos uma vez por ano, se lhe reserve mais honra e solene memória (…)”. São Tomás de Aquino, a pedido do papa, compôs os textos do ofício litúrgico dessa grande festividade. Após a morte de Urbano IV, a celebração de Corpus Christi ficou limitada a algumas regiões da Europa, mas o papa João XXII, em 1317, estabeleceu para toda a Igreja. A partir desta data a festa desenvolveu-se maravilhosamente e ainda é muto querida por todo o povo cristão.

Santa Juliana, por meio de sua visão eucarística, incentivou o início da Solenidade de Corpus Christi na Igreja Católica. Foto: Vatican Media.

Santa Juliana experimentou muto sofrimento pela oposição de membros do clero e do superior de quem dependia o seu mosteiro. Decidiu-se por deixar o convento de Mont-Cornillon, e com algumas companheiras, por 10 anos, hospedou-se em vários mosteiros cistercienses. Juliana a nos ensinar com sua humildade, pois nunca dirigiu palavras de crítica ou repreensão aos que se opunham a ela, mas cumpria sua missão de difundir com amor e zelo o culto eucarístico. Juliana faleceu no ano de 1258, em Fosse-La-Ville, na Bélgica, contemplando com um último ardor o amor de Jesus Eucaristia, por ela sempre amado e adorado.

A vida e testemunho de Santa Juliana renovam nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Com amor celebremos a Festa de Corpus Christi especialmente neste ano e, ao longo de todo o ano visitemos o Senhor presente no Sacrário, Ele que é o dom do amor de Deus. Com o olhar de adoração, somos atraídos por Jesus, para dentro do Seu mistério e seremos transformados por Ele. Diante do sacrário rezemos: «Fazei-me crer cada vez mais em Vós, que em Vós eu tenha esperança, que eu vos ame!». Amém!

 

Referência:

Bento XVI. Audiência Geral: Santa Juliana de Cornillon. 17 de novembro de 2010. https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20101117.html

Imagem: Andreas Praefcke. Fotografia de imagem de Santa Juliana de Liège, de Peter Paul Metz, 1896, na Igreja dos Santos Gordiano e Epímaco, na cidade de Leutkirch im Allgäu, Alemanha. https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Juliana_of_Li%C3%A8ge?uselang=pt#/media/File:Merazhofen_Pfarrkirche_Chorgest%C3%BChl_links_Juliana.jpg