#Reflexão: 2º domingo do Tempo Comum (14 de janeiro)

9 de janeiro de 2024

A Igreja celebra o 2º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (14). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: 1Sm 3,3b-10.19
Salmo: 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R. 8a.9a)
2ª Leitura: 1Cor 6,13c-15a.17-20
Evangelho: Jo 1,35-42

Acesse aqui as leituras.

ATENTO AO SENHOR QUE NOS CHAMA A ESTARMOS COM ELE

Domingo passado celebramos a manifestação de Jesus a todos os povos (Epifania). Na segunda-feira foi a celebração do Batismo de Jesus. Retomando a caminhada do Tempo Comum aos domingos, este ano vamos rezar com o Evangelho de Marcos. Sabemos que a nossa missão tem origem e fonte no nosso Batismo. Assim, também foi com Jesus: com o Batismo realizado no Jordão, Jesus inicia a sua missão de anunciar o Reino de Deus. Ele estava pronto para cumprir a vontade de Deus com palavras e ações concreta de misericórdia. Sinais visíveis e sensíveis da redenção que deveria semear no mundo. O início da missão de Jesus marca também o início da comunidade de discípulos que o Mestre procurou constituir.

Chamar pessoas para uma missão é algo que atravessa toda a Sagrada Escritura. Homens e mulheres são convocados para cumprir diversas missões e manifestar a vontade de Deus. Não são pessoas já prontas e conscientes de tudo que devem fazer, mas pessoas comuns que se tornam especiais aos olhos de Deus depois que respondem positivamente ao convite de Deus.

Na primeira leitura, temos a história da vocação de Samuel. Enquanto criança, ele morava no Templo, e dormia ao lado da Arca da Aliança. No local mais sagrado para o Povo de Deus, no meio da noite, Deus chama o pequeno Samuel. Eram tempos difíceis e o povo encontrava muito distante de Deus, mas Ele sempre próximo de sua gente e por isso, prepara Samuel, último dos juízes, para ser seu profeta e porta-voz. Despertado no meio da noite, Samuel rapidamente se levanta e se dirige ao sacerdote Eli pensando que teria sido ele a chamá-lo.

O chamado de Deus foi suave e sereno, no silêncio da noite, tão tranquilo e normal que o menino Samuel pensava se tratar de alguém que ele conhecia.

Há um grande respeito de Deus por nós, mesmo “precisando” contar conosco para juntos melhorar o nosso próprio mundo, Ele, no entanto, respeita o nosso espaço, tempo e condições. Nos chama e nos fala, mas sem entrar na nossa vida com violência ou nos obrigando a aceitá-Lo. Samuel nos três primeiros chamados não conseguiu perceber nada de extraordinário e profundo, mas somente como uma voz conhecida. Por três vezes o chama. O menino, por outro lado, demonstra estar disposto sempre a servir e a cumprir a vontade de quem lhe pede algo. Ele levanta-se e vai até Eli, pois era a pessoa que ele conhecia.

Coube ao sacerdote Eli a missão de introduzir o futuro profeta Samuel nos caminhos de Deus. Alguém como ponte, experiente e sensível às coisas divinas, auxilia o jovem aprendiz a dar os primeiros passos na intimidade com Deus. O conselho de Eli foi: “Fala que teu servo escuta”. Abertura para acolher a Palavra e a disposição de servir como um servo ao seu Senhor. Não basta alguém estar no lugar sagrado, falar ou repetir palavras diante do Senhor é fundamental a atitude de escuta e determinação em servir ao Senhor. Ele nos fala e quer contar conosco, mas precisamos estar atentos e disponíveis.

No Evangelho de João encontramos uma cena quase semelhante de chamado e resposta. O texto inicia lembrando que algo ocorreu um dia antes do fato narrado pelo evangelista. Jesus tinha ido ao Jordão para ser batizado por João Batista. No Batismo, Jesus foi indicado pelo Batista como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e ele dá seu testemunho e proclama que Jesus é o salvador e o Messias esperado. Pois bem, no dia seguinte, João estava com dois discípulos e viu Jesus que passava e novamente indicou e chamou Jesus de “Cordeiro de Deus”. Jesus estava passando, iniciando sua missão e João estava parado e percebeu que o seu tempo estava terminando. Ele já tinha proclamado que nada significava em relação ao Salvador (Jesus) que estava para chegar. João não é apegado a nada, nem a seus discípulos. Os dois discípulos deixam de seguir João para ir ao encontro de Jesus indicado pelo Batista.

O Batista está parado, mas tem um olhar profundo por isso, o quarto evangelista afirma que “João fixando o olhar sobre Jesus” (1,36). É um olhar penetrante de alguém que vai ao mais profundo e não somente na aparência. O mesmo olhar penetrante e profundo reaparece quando Jesus “fixa o olhar sobre Pedro” (1,42).

João Batista chama Jesus de “cordeiro”, um animal conhecido por todos, pois era usado nos sacrifícios do Templo. Com o sangue e o sacrifício do cordeiro, o fiel conseguia sua purificação perante Deus. Jesus veio eliminar esse tipo de holocausto que tinha também cumprido sua missão. Não mais derramar sangue de ninguém e nem de animais, Jesus mesmo derramará seu próprio sangue para nos salvar. O último e o maior sacrifício se encerrará com a cruz de Jesus.

As primeiras palavras de Jesus no Evangelho de João é uma pergunta que Ele faz aos dois discípulos de João: “O que vocês procuram?”. Assim, Jesus inicia tudo, ouvindo os dois discípulos de João. A pergunta do Mestre Jesus possui uma questão profundamente humana: O que realmente nós procuramos? Onde queremos chegar com tudo que fazemos? Para onde caminhamos? Jesus não perguntou aos dois: quem vocês procuram? Mas, o que eles desejavam (procuravam). Talvez, os dois queriam somente ver algo, conhecer para satisfazer uma curiosidade, ver algo espetacular.

André e outro discípulo de João respondem com outra pergunta: “Rabi, onde moras?” A resposta parece desconcertante e até improvisada (não sabendo que resposta dar, fizeram uma nova pergunta), mas foi o suficiente para despertar em Jesus algo que merecia credibilidade em relação aos dois.

“Vinde e vede” foi a resposta-convite do novo Mestre. Os dois passaram o dia com Jesus e certamente puderam ver e experimentar quem Ele era e como se revelava com o Salvador anunciado por João Batista.

Queriam saber o local onde Jesus morava. A “casa” do novo Mestre é a convivência com o povo nas praças e vilas, com seus sofrimentos e necessidade; suas palavras são mais que consoladoras, atingiam o coração e a vida de todos. Eles ficaram encantados vendo não onde Jesus morava, mas quem Ele era.

O convite de Jesus é a condição primordial para o discipulado de Jesus. Ele precisa de pessoas que experimentem seu amor e sua misericórdia e sejam portadores não de normas e preceitos, mas no amor de Deus. A intimidade daquele dia com Jesus transformou a vida dos dois novos discípulos a tal ponto que ficou gravado até o momento quando tudo começou aconteceu: na hora décima.

A experiência do amor e da intimidade com Deus é algo transbordante e contagiante. Após aquele dia em que passaram juntos com Jesus, eles voltaram para a família e lá anunciaram não mais alguém que se ouvia falar, mas “o Messias”. Eles tornam-se portadores da Boa Nova e da redenção. São as novas pontes como João Batista foi para eles. Eli foi ponte para o jovem Samuel, agora André foi ponte para Pedro.

Segundo a tradição de São João, foi André, ao compartilhar a experiência que eles tinham tido com Jesus, que levou Simão Pedro até Jesus. Ao vê-lo, o Mestre não lhe pergunta nada e ele nada questiona, mas lhe impõe uma missão que já inicia com o seu nome.

Para os discípulos de João, Jesus faz um convite de passar o dia com Ele e assim, eles têm suas vidas transformadas pela intimidade e convivência com Jesus. Com Pedro foi diferente, Jesus imediatamente viu a profundidade do coração daquele homem pescador e lhe disse: “Serás chamado Cefas (pedra)”, um novo nome para uma grande missão. Conhecemos Pedro nos relatos evangélicos e realmente foi alguém como “pedra” para seus amigos e apóstolos, ponto de apoio e cabeça do grupo no início da Igreja de Cristo.

Seguir Jesus, mas antes ouvir seu chamado e o que Ele quer nos dizer. Experimentar sua intimidade de Salvador e de Pastor que quer sempre nosso bem. O mundo precisa de novos discípulos capazes que contagiar o mundo com o mesmo amor que recebem da intimidade com Deus. Não um Jesus que impõe, mas que convida a vir e experimentar, ver e compartilhar a grandeza do amor de Deus por cada um de nós. Devemos ajudar outros a experimentar esse mesmo amor redentor e misericordioso de nosso Mestre Jesus.

Como o jovem Samuel precisamos aprender a nos colocar aos pés de Deus, na intimidade de nossas orações e de nossas Igrejas e repetir com ele: fala que teu servo escuta. Servir a Deus com todo o coração, com todo o nosso ser, com toda nossa vida (como nos fala Paulo na 2ª leitura) e tornamos também hoje como uma ponte para ligar Deus a tantas pessoas que ainda não conhecem e nem experimentaram ainda seu amor.

Faça o download da reflexão em pdf.