#Reflexão: 1º Domingo da Quaresma (6 de março)

28 de fevereiro de 2022

A Igreja, neste domingo (6), celebra o 1º Domingo da Quaresma. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Dt 26,4-10

Salmo – Sl 90,1-2.10-11.12-13.14-15 (R. cf.15b)

2ª Leitura – Rm 10,8-13

Evangelho – Lc 4,1-13

Acesse aqui as leituras.

 

VENCENDO AS TENTAÇÕES

 

Iniciamos a Quaresma recordando das três práticas de piedade judaica que também nós somos convidados a vivenciar de um modo mais intenso neste tempo. A “caridade” deve ser vivida mais intensamente como expressão da misericórdia de Deus em nossa vida. A “oração” deve ser mais profunda buscando melhorar nossa relação filial com Deus Pai. O “jejum” deve ser visto como uma forma de repensarmos nossa relação com nós próprios, buscando ter consciência e controle sobre os desejos.

Segundo os evangelistas, no momento do Batismo, Jesus é revelado como Filho de Deus com uma voz vinda do céu. Publicamente, Jesus é confirmado em sua relação mais profunda com Deus através de sua filiação.

Lucas, no Evangelho deste domingo, nos apresenta Jesus sendo conduzido ao deserto pelo Espírito Santo. Lá, o Mestre não encontrou somente o silêncio do deserto, mas também encontrou o diabo, que procurou ao máximo atrapalhá-lo em sua oração. Quando Jesus se encontrava mais fraco, o mal se fez mais forte. Após quarenta dias, o diabo apresentou propostas a Jesus que se mostravam inocentes, mas escondiam consequências sérias para a missão do Mestre.

Nas três tentações, encontramos as principais armas utilizadas pelo diabo para seduzir Jesus, bem como as armas que nós devemos utilizar para conseguirmos nos livrar das tentações que nós também sofremos.

Na 1ª tentação, o mal mostra a sua principal arma: a dúvida. “Se tu és Filho de Deus…” (repetirá na 3ª tentação). O mal provoca Jesus e cria uma lógica que é uma armadilha. “Diabo” significa “divisor”. Se Jesus escutasse o que o diabo propusera, Nosso Senhor teria que fazer algo (transformar pedra em pão) para provar ser Filho de Deus. Se assim fizesse, teria aberto uma “porta” para tantas outras dúvidas que O arrastariam para insegurança e incertezas em relação a Ele próprio e, principalmente, em sua relação com Deus. O mal semeia dúvida sobre aquilo que é essencial e fundamental entre Jesus e Deus: sua relação filial. No Batismo, os céus revelaram que Jesus é Filho de Deus. Agora, o diabo, da terra, tenta provocar Jesus a testar se Deus é realmente seu Pai.

O mal prossegue: “(…) ordena a esta pedra que se transforme em pão”. Alguém poderia até afirmar: “Mas, Jesus estava com fome, ninguém estava vendo. Ademais, não iria fazer nenhuma falta uma pedra a menos naquele lugar!”. Produzir milagres para si próprio: Jesus jamais fez isso. Tudo que Ele realizou foi para os outros, para o bem das pessoas: curas, milagres, multiplicação de pães e peixes… Provocar um “milagre” para si, para satisfazer uma necessidade física, nunca fez parte do projeto de Jesus. A questão torna-se mais perigosa visto que é sugerida pelo mal e não por Deus. Dar ouvido ao diabo era se abrir para outras propostas cuja necessidade seria somente para proveito próprio e pessoal. Jesus não discute e nem rebate a proposta do diabo, mas se ancora na Palavra de Deus. Saciar a fome é um bem, mas a Palavra de Deus é uma riqueza muito maior e melhor para Ele. Contra essa tentação do prazer para si próprio, Jesus reforça a prática da caridade.

Na segunda tentação, o diabo propõe a Jesus duas coisas fascinantes: glória e poder. Ao mostrar todos os reinos deste mundo, revela o seu poder nesta terra. Entretanto, há um grande engano escondido na proposta do tentador. O diabo “mostrou” o poder e a glória deste mundo. O mal procura sempre fascinar com o brilho do grande e do poder e usa de um instrumento que lhe é próprio. Ele procura seduzir Jesus com uma mentira: que tudo lhe pertence. O mal, jamais, recebeu algo de Deus, pois tudo sempre pertenceu a Deus Criador e a humanidade é quem recebeu a criação como dom para conservá-la. O diabo promete o que não pode dar. É a mentira que seduziu Adão e Eva no Paraíso. Jesus não precisa de poder e, muito menos, negociar com o diabo. O tentador propõe uma troca com Jesus: dá algo para receber outra coisa. Jesus nunca quis nada em troca em tudo que realizou. A misericórdia de Deus ensinada e praticada por Jesus é sempre gratuita, generosa e abundante em relação a nós. Nosso Senhor rebate o tentador, novamente, com a Palavra de Deus lembrando que somente a Deus se deve ser fiel e servi-Lo. Jesus não precisa de mais nada para realizar sua missão, senão do poder que vem da sua relação com Deus Pai. Contra essa tentação de glórias e poder deste mundo, Jesus reforça a prática da renúncia através do jejum.

A terceira tentativa de desviar Jesus do caminho de Deus acontece na Cidade Santa, Jerusalém, em um lugar onde todo povo se reunia. Qualquer coisa que lá acontecesse teria uma repercussão em Israel. O diabo tenta novamente semear dúvida, desafiando Jesus: “Se és o Filho de Deus”. A tentação é de transformar tudo que recebeu de Deus em algo voltado somente a Jesus. Fama e prestígio encantam ainda hoje muitas pessoas. Mas, o diabo acrescenta algo diferente. Ele cita a Palavra de Deus. O mal conhece as Escrituras, que são somente um instrumento para seduzir e arrastar Jesus para o seu projeto pessoal. Não basta conhecer a Palavra. É preciso acreditar com o coração e traduzi-la em gestos concretos de vida, como nos diz São Paulo na 2ª leitura. A oração deve ser sempre a forma do cristão perceber qual é a vontade de Deus e o melhor modo de servi-Lo.

As tentações, por parte do diabo, procuram seduzir Jesus para satisfazer suas necessidades pessoais; para possuir poder e glória em relação ao próximo e tentar Deus a produzir um milagre. O diabo, que usa a Palavra de Deus, procura seduzir Jesus a usar das forças de Deus e de seus anjos para encantar e obter fama. Jesus termina também com a Palavra de Deus, compreendida em sua essência fundamental: devemos sempre servir a Deus! O exemplo de Jesus é essencial para nós: a escuta constante de Deus e da sua Palavra. Esses são os instrumentos para vencer sempre as tentações e as ações do mal.

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