#Reflexão: 30º domingo do Tempo Comum (23 de outubro)

19 de outubro de 2022

A Igreja celebra, no dia 23, o 30º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Eclo 35,15b-17.20-22a

Salmo: Sl 33(34),2-3.17-18.19.23 (R. 7a.23a)
2ª Leitura: 2Tm 4,6-8.16-18
Evangelho: Lc 18,9-14

Acesse aqui as leituras.

 O FARISEU E O PUBLICANO

            Ouvimos nas leituras que o nosso Deus não faz distinção de pessoas, mas tem uma especial atenção para os mais necessitados. Ele ouve a oração de todos, mas tem um carinho a mais pelas preces dos mais humildes e pobres. Em todas as situações é necessário rezar com humildade, pois somente assim, as orações chegarão a Deus.

No Evangelho deste domingo, Jesus procura alertar sobre os riscos de uma religião praticada somente para si e não conforme a vontade de Deus. São Lucas nos informa que Jesus tinha percebido que muitos se vangloriavam por suas práticas religiosas. Nós não sabemos quem são essas pessoas, mas Nosso Senhor era capaz de realmente perceber o coração de cada um e não tanto o que as pessoas aparentavam para os outros. O detalhe importante notado por Cristo é que tais sujeitos se sentiam diferentes e superiores a tal ponto que desprezavam outras pessoas. Religião que não nos ajuda a aproximar das pessoas, não é religião segundo Jesus.

            Na nova parábola contada por Cristo, os personagens possuem alguns pontos em comum, mas também vários detalhes diferentes. Os dois sobem ao Templo, entram e rezam. São duas pessoas religiosas que creem em Deus, possuem o mesmo desejo de estar na presença de Deus e rezar. Mas, depois cada um se mostra diferente seja na postura como no conteúdo de suas orações.

O fariseu se sente próximo de Deus e sem nenhuma dívida. Reza com uma postura que era comum a um judeu em oração: reza em pé. Inicia sua oração como todos faziam: “O Deus…” e acrescenta aquilo que se devia dizer em uma oração de agradecimento: “graças te dou…”, mas depois sua oração toma outra direção. Ele prossegue dizendo que “não é como os outros homens…”, o fariseu se sente acima de todos, quase próximo de Deus (sua postura em pé revela que ele fala de igual com Deus). Seu olhar para as outras pessoas é de um juiz (ou Deus) que conhece os pecados de todos e, por isto, os despreza. Os “outros” são: ladrões, malfeitores, adúlteros e ele é diferente: não se mistura com essa gente. O desprezo chega ao ponto de se exibir diante de Deus mesmo ali, dentro do Templo, lugar de oração. Ele olha ao seu redor para somente estabelecer sua distância com aquele que ele indica como o mais desprezível naquele ambiente de fé: o publicano. O texto original (grego) usa uma palavra que significa: “voltado para si”, assim, o fariseu rezava “voltado para si”, ele olhava para si para falar a Deus.

            Não olha “os outros” como iguais a ele, mas como um superior; julga e condena como se fosse o próprio Deus. Ofende todas as pessoas, pensado que estava rezando; Fala com Deus, mas maldiz e condena os outros. Louva a Deus, mas amaldiçoa os “outros” e o cobrador de impostos.

O fariseu olha os outros tendo não Deus ou a lei como modelo, mas ele mesmo: ninguém é como ele! Assim, os outros são pessoas com os piores pecados e ele se sente o mais justo (santo) de todos. Ele não tem somente um coração inchado de si próprio, mas também cheio de maldade e preconceito. Olha os outros como um “juiz divino” ao ponto de condená-los como sendo piores que ele. É alguém perdido em si próprio onde ninguém mais tem valor: todos são pecadores segundo o fariseu da parábola.

O fariseu continua sua oração sempre se colocando no centro de tudo, pois ele se sente modelo de vida para os outros. Além de exibir com orgulho sua pessoa, ele também esnoba suas práticas (obras) religiosas. Não se mostra como um judeu comum que observa as leis, mas faz tudo de modo exagerado. De fato, a obrigação do jejum era somente uma vez ao ano, o fariseu da parábola fazia duas vezes por semana; o dízimo para manutenção do Templo era sobre alguns produtos (trigo, azeite, vinho e rebanho; cf. Dt 12,17; 14,23; Ne 13,5.12), o fariseu dava o dízimo de tudo que tinha. O fariseu trata Deus como uma simples pessoa que nada conhece e por isto, ele precisa contar tudo.

O modo de rezar do fariseu é mais uma exibição de si próprio e dá a entender que Deus lhe “devia algo”, pois ele tinha feito muito além do que a obrigação. É marcante em todo o momento da “oração” do fariseu que tudo não está centrado em Deus, mas nele próprio. “Eu” é a palavra que o fariseu mais repete diante de Deus. O zeloso judeu não reza diante de Deus, ele se exibe. Demonstra que não necessita de nada de Deus, ele atingiu o máximo por esforço próprio. Executa com perfeição todos os preceitos, por isto, acha que é perfeito; é meticuloso com todos os princípios da lei, por isto, se vangloria como alguém que conquistou sozinho sua salvação. Ele nada pede a Deus, pois não precisa de Deus para nada: sozinho é capaz de tudo. No fundo, ele não rezava, mas conta vantagens; nada pede, pois não necessita de algo; tudo é perfeito, por isto não sente que tem que mudar nada.

Esnobando-se diante de Deus, ele despreza os “outros homens”. Ele não se interessa pela vida e pela história das pessoas, o importante para o fariseu é que ele se sente diferente e melhor que todos. Sua oração é cheia de si próprio, Deus não tem espaço em sua vida e em suas atividades. Não faz para Deus, mas para si próprio. Em sua oração, o fariseu demonstra que chegou sozinho ao ponto mais alto da vida de uma pessoa religiosa, não há necessidade de mais nada. Neste ponto máximo em que se encontra, ninguém está com ele, pois todos estão abaixo dele. O fariseu reza para um Deus que ele mesmo tinha criado e cultiva uma religião que despreza e julga o próximo. Ele criou um “Deus pessoal”, um ídolo (que era ele próprio) e reza não olhando para Deus, mas para um espelho: não vê Deus, muito menos os outros, mas somente a si próprio.

            O interessante é que ele não é um “sem-religião”, um pecador. O fariseu era observante de todos os particulares da religião; é religioso, pois vai ao Templo e rezava; mas, como nada pede e nada precisa mudar, sua oração não teve retorno e volta para casa no mesmo jeito. Mas, na parábola de Jesus há também outra pessoa que no mesmo local rezava a Deus: um publicano (cobrador de impostos). Ele reza como alguém que sabe de seus pecados e erros. Sua atitude e sua oração mostram alguém que se sente indigno e necessitado de tudo. O fariseu cita o publicano como o último na lista dos “homens pecadores” e o pobre coitado tem consciência de sua realidade, pois se reconhece pecador diante de Deus.

Não sabemos quais pecados o publicano tinha cometido, mas esses profissionais eram malvistos na época de Jesus. Eram judeus (por isto, também estava no Templo rezando) que viviam do recolhimento das taxas e impostos para os romanos. O cobrador de imposto para tirar o seu salário colocava um pouco a mais sobre o valor a ser pago. Tocavam a moeda romana com a esfinge do imperador, por isto também eram considerados impuros. O publicano na parábola se reconhece pecador diante de Deus. Sua atitude e a sua postura mostram alguém com um grande desejo de Deus. Não se sente digno de estar diante de Deus, nem de rezar como os outros em pé e muito menos de olhar para Deus (estava de cabeça baixa). Mas sua oração interior é sincera como são os seus gestos. Dirige-se a Deus como alguém necessitado da misericórdia divina; alguém que é pobre das coisas boas de Deus não obstante certa riqueza que possuía (era publicano e eles tinham uma boa vida, lembremo-nos do publicano Zaqueu). O mais significativo em suas palavras é estar na presença de Deus. Pede e solicita a Deus se dirigindo a Ele na 2a pessoa. A sua oração é íntima e direta de alguém que reconhece Deus como centro em suas orações e necessidades. O publicano reconhece Deus como fonte de perdão e ele como alguém necessitado de sua compaixão.

O fariseu não é condenado por Jesus e nem o publicano exaltado em seu modo de vida. O fariseu fazia tudo e um pouco mais que um fiel judeu deveria cumprir, era um religioso exemplar em relação aos princípios da religião da época, mas ao se colocar diante de Deus, ele destrói tudo que tinha realizado. Sua oração era vazia de Deus e cheia de si mesmo. Nada pede a Deus, por isto, nada recebe. O publicano, diz Jesus, “desceu para sua casa justificado”. Ele pediu perdão e recebeu essa graça que ele leva consigo principalmente para aqueles de sua casa. Sobre o fariseu? Nada sabemos! Mas, certamente saiu do Templo como entrou, pois, nada foi pedir para Deus, pois ele sentia que já tinha atingido o máximo da vida religiosa.

A atitude de oração do publicano é apontada por Jesus como exemplar, pois quem de nós não tem pecado? Diante de Deus, quem de nós ousa levantar os olhos e exigir algo? Somos sempre necessitados das graças de Deus principalmente do seu perdão. O exemplo de santidade e de vida cristã é Jesus Cristo e diante Dele e de tudo que ensinou somos, realmente, pecadores e miseráveis, necessitados sempre da misericórdia de Deus. Nós, mesmo que para as coisas de Deus sejamos aplicados (como o publicano), quantos pecados cometemos em relação à falta de caridade para os nossos irmãos e irmãs, principalmente, os mais necessitados. Buscar o perdão em forma de misericórdia e colocar em prática com aqueles que estão ao nosso lado, essa é a melhor oração que podemos oferecer a Deus.

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