#Reflexão: Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (02 de abril)

30 de março de 2023

A Igreja celebra o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor no próximo dia 2 de abril. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 50,4-7

Salmo: Sl 21(22),8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)
2ª Leitura: Fl 2,6-11
Evangelho: Mt 26,14-27,66 ou mais breve 26,11-54

Acesse aqui as leituras.

DA HOSANA A CRUZ

A celebração do Domingo de Ramos já antecipa para nós quase tudo que recordamos e celebramos sobre os últimos dias de Jesus neste mundo. Não se tratou de uma morte inesperada e inevitável, mas de algo que foi assumido até as últimas consequências. Desde o início, Ele poderia ter evitado ou se livrado de qualquer sofrimento, mas escolheu percorrer um caminho carregando todos os sofrimentos, as dores e os pecados da humanidade. Não foi fácil para os discípulos, participar de tudo aquilo que Jesus enfrentou, pois estavam acostumados a ver o Mestre deles vencer todos os obstáculos e resolver todos os problemas humanos que lhe foram apresentados: desde curas físicas, dramas pessoais, pecados e derrotar até mesmo Satanás. Era um “Mestre ideal”, pois sempre estava pronto a curar e libertar as pessoas. Mas, a missão de Jesus deveria abranger o mal em sua raiz mais profunda e atingir a todas as pessoas em todos os lugares e tempo.

A escolha livre de Jesus de percorrer o caminho último de cada pessoa (a morte) foi uma surpresa que ninguém esperava. Todos queriam alguém que enfrentasse tudo por eles, mas não alguém que sofresse como cada ser humano sofre ou que morresse como todos um dia devem também morrer.

A liturgia deste domingo propõe a imagem da entrada de Jesus em Jerusalém em um jumentinho. Ainda era um tanto recente a forte imagem do general Pompeu (63 a.C.) que entrou solenemente na Cidade Santa em um imponente cavalo (era o animal de guerra da época). O general romano, dessa forma, tomou posse do território dos judeus, da sua cidade e do Templo de Jerusalém! Jesus repetiu o gesto, mas tudo ao contrário: entrou sobre um jumentinho (animal de carga e serviço), foi acolhido pelo povo como filho de Davi (ligação com a história do povo de Deus) e não tinha nenhuma intenção de dominar ou conquistar. Não se repete a história do general romano, mas sim as palavras do profeta Zacarias (cf. 9,9). Jesus veio para servir e não para dominar, para salvar e não para matar, para resgatar do pior inimigo (pecado) e não para semear tirania, veio para doar a verdadeira vida doando a sua própria vida!

As leituras da celebração nos recordam da imagem do servo de Deus que toma sobre si aquilo que representa toda dor e sofrimento da humanidade. Ele assumiu algo que não Lhe era próprio e aceitou toda humilhação mesmo sendo inocente. Jesus não foi “mais um” neste mundo, mas assumiu a realidade humana mesmo sendo de condição divina, se fez homem, mas na realidade mais humilde e simples: como servo. E toda a vida de Jesus foi iluminada por esta condição de vida que definiu sua existência: serviu a Deus e a toda humanidade em todas as suas realidades.

As últimas horas de Jesus com os discípulos revelaram a sua consciência e liberdade diante de tudo que, posteriormente, Lhe acontecera. Tudo começou a se definir em torno de uma mesa e de uma refeição. Todos os particulares foram planejados e desejados por Jesus. Jesus sabia de tudo que estava acontecendo ao seu redor, principalmente que um daqueles que Ele mesmo escolheu, iria traí-Lo. As palavras e os gestos de Cristo revelam o respeito pela escolha que Judas já tinha feito por algumas moedas de prata. Jesus tenta tocar seu coração, mas nem suas palavras e nem mesmo a Eucaristia que Ele instituiu naquela noite, conseguiram mudar o coração corrompido do discípulo. Tudo que Jesus fez, falou e ensinou foi trocado por uma soma que era suficiente para comprar um escravo ou um servo.

Outro discípulo, Pedro, se sentiu tocado pelas palavras do Mestre, prometeu algo baseado na imagem do Mestre todo poderoso que ele tinha visto atuar em diversas situações extremas, em todas elas, Jesus se livrou com facilidade. Assim, foi “fácil” para Pedro prometer fidelidade até ao extremo. Pobre amigo de Jesus: não sabia o que era ainda enfrentar o extremo da dor e do sofrimento que em poucas horas depois, ele presenciou.

Tudo foi realizado por Jesus em profunda comunhão com o Pai. Era necessário enfrentar a morte em seu terreno de batalha. A vida de Jesus não foi tirada e nem roubada, Ele livremente a entregou. O caminho da vitória de Jesus e da morte, tinha que passar pelo peso da cruz e do sofrimento. Era um cálice não de vinho, mas de vinagre que Ele tinha que beber sozinho e livremente.

Durante a prisão de Jesus, um dos discípulos (João 18,10 informa que foi Pedro) tentou resolver tudo ao seu modo: sacou uma espada e feriu a orelha de um servo do Templo. É o modo humano de resolver a violência, produzindo mais violência. Ainda hoje o preço da morte de alguns é sempre a morte de mais pessoas.

O processo que acompanhamos no Evangelho de Mateus transparece a serenidade de Jesus diante da extrema maldade exatamente daqueles que representavam o que havia de mais sagrado para todos. Os líderes religiosos usaram de todos os meios para por fim à vida de Jesus. O mal obscureceu o coração e a visão de todos. Eles não tinham receio de manipular e usar da mentira para por fim a vida de um inocente. A mentira jamais produz o bem! É o principal instrumento daqueles que querem destruir e estão a serviço do mal! Vários reconhecem que Jesus era inocente, mas tudo estava muito bem tramado e pensado pelos religiosos do Templo para dar fim a Cristo Jesus.

O discípulo Pedro, tão corajoso em uma refeição e ao redor de amigos, estava confuso. Ele acompanhou seu mestre talvez para ver uma reação ainda espetacular e fantástica, mas testemunhou alguém que simplesmente se entrega e não reage diante do mal. Pedro o negou, pois estava confuso: Este homem, eu não conheço. Ele sempre viu Jesus forte e imbatível, não entendia a aparente fraqueza e falta de reação de Jesus. Que Mestre eu sigo? Que Pastor eu acredito? Que Deus eu aceito em minha vida?

Diante de Pilatos, o povo foi manipulado, pessoas foram instrumentalizadas e compradas para testemunharem em falso, mas a autoridade romana é que deveria decidir o fim de Jesus. Mesmo percebendo a inocência de Cristo, Pilatos procurou se esquivar de todas as consequências (gesto de lavar as mãos). O “poder” que poderia produzir o bem ao fazer aliança com o mal. Os sacerdotes da época não queriam somente levar Jesus a morte, queriam que ele sofresse e assim, intimidasse a todos que O estavam seguindo.

Tanto a estrutura religiosa e seus líderes, quanto o estado romano se associaram para por fim a alguém que em toda sua vida somente fez o bem e procurou servir a todos. Estes dois gestos (servir e fazer o bem) jamais foram entendidos pelos religiosos daquele tempo como imagens de Deus que é Misericordioso. Sempre proclamaram um Deus da vingança, da separação e voltados somente para um grupo de pessoas (eles).

Até os dias de hoje, muitos ainda procuram um Deus que “resolve os problemas pessoais”, mas sem nenhuma conversão pessoal; um Deus que cura e faz milagres, mas não um Deus companheiro que é solidário conosco na dor e no sofrimento. Mas, Jesus sem a cruz, não é salvador; sem sofrimento, não é redentor; e sem a morte, não se tem a vida eterna. Nosso Senhor percorreu uma estrada, sempre se colocando como guia e convidando seus discípulos a seguir seus passos. Diante da morte, Ele não poderia deixar toda humanidade percorrer o último caminho sem também ensinar qual é a estrada que termina em Deus. Jesus escolheu enfrentar a morte para mostrar para todos que nada neste mundo é maior que o Amor de Deus por todos nós.

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