Da oração conjugal à oração familiar – Parte 2
No artigo anterior, refletimos sobre o valor da oração conjugal e como ela pode auxiliar o casal a buscar a graça santificante do sacramento do Matrimônio. Neste artigo, iremos trabalhar o tema da oração familiar tendo como referência a obra “Espiritualidade conjugal – uma palavra suspeita”, do padre Henri Cafarrel, fundador do Movimento das Equipes de Nossa Senhora.
Pe. Henri Cafarrel nos diz em seu livro que muito rapidamente o casal se torna família e a oração conjugal, de um modo natural, evolui para a oração familiar. Isso não significa que a oração conjugal deixe de existir, mas ocorre um desenvolvimento gradativo.
A oração familiar nasce da maturidade espiritual do casal, que, por saberem os benefícios de orarem em comum, desejam ampliar essa realidade orante também aos filhos. Muitos casais realizam a oração familiar apenas por tradição ou como um dever. Outros colocam os filhos no contexto orante apenas como meros expectadores. Há casos em que os pais obrigam seus filhos a recitar o Terço ou outras orações da Igreja. Todos esses caminhos, que muitos casais utilizam para o momento da oração familiar, geram dispersão dos filhos e abandono da rotina orante na família.
A oração conjugal deve caminhar para a oração familiar. Isso não significa que o casal deva abandonar a oração conjugal. A oração familiar é uma extensão da oração conjugal. Ambas estão entrelaçadas e se complementam, gerando frutos de santidade também nos filhos.
A oração familiar deve dar um grande espaço à Palavra de Deus, acompanhada de um momento de silêncio e meditação e, em seguida, de uma partilha espontânea sobre o que Deus falou e como todos respondem ao Senhor. Essa metodologia é a mesma praticada na oração conjugal. Contudo, na oração familiar, também estão presentes os filhos, que podem ser crianças, adolescentes, jovens ou adultos.
É de fundamental importância que o casal tenha sensibilidade para respeitar as etapas de amadurecimento espiritual de cada filho em seus níveis de desenvolvimento humano, psicológico e espiritual dentro da atividade orante. Uma metodologia mais elaborada acerca da reflexão da Palavra de Deus pode tornar monótono aquele momento para uma criança de cinco anos. No entanto, para um jovem pode ser excelente utilizar este recurso. Tudo irá depender de como cada filho se encontra na caminhada cristã. Bom senso sempre será fundamental.
O tempo também é essencial. Crianças se cansam com bastante facilidade. Realizar uma oração familiar que ultrapasse os dez minutos pode ser um verdadeiro tormento para uma criança ainda pequena. O gosto pela oração familiar será desenvolvido no coração de cada filho pela atração e não pela imposição exagerada de normas e regras que apenas os adultos compreendem.
Os pais devem ensinar seus filhos que a oração é um diálogo de amor com Deus. Essa conversa se desenvolve na espontaneidade. Por isso, o casal deve incentivar os filhos a se expressarem diante de Deus com palavras simples que brotam da alma e da compreensão de Deus que a idade lhes permite ter. Esse ensino se dará, em primeiro lugar, pelo exemplo dos próprios pais, evitando, na oração familiar junto aos filhos ainda pequenos, usarem palavras difíceis ou até mesmo incompreensíveis para a idade das crianças.
A oração familiar é um fator de unidade no lar. Ela promove a comunhão de todos os membros. Reunidos em comunidade, formando um “Santuário de Amor”, uma “Igreja Doméstica”, o casal ajudará a desenvolver na alma dos filhos um imenso amor a Deus e a sua Palavra.
Segundo padre Henri Cafarrel, o espetáculo de um pai e de uma mãe em adoração diante de Deus forma a alma orante dos filhos. Por isso, os gestos e palavras dos pais revelam a importância da adoração a Deus em espírito e verdade.
Ao final deste artigo, reafirmo o que já alertei no texto anterior: a oração conjugal é indispensável! Se a oração conjugal for verdadeira, a oração familiar também será. Ambos os momentos se complementam e um não dispensa o outro.