“Encantar a Política”: necessário gesto de amor, conforme magistério do papa Francisco

11 de maio de 2022

No dia 28 de abril, durante a 59ª Assembleia Geral da CNBB, foi apresentado aos bispos do Brasil e, à noite, feito lançamento público do projeto “Encantar a Política”. O projeto tem em vista o processo das Eleições Gerais de 2022. O evento de lançamento público, transmitido pelos canais e redes sociais do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), teve uma alta audiência para o formato e contou com a presença de bispos representantes da presidência e do Conselho de Pastoral da CNBB (CONSEP).

Participaram e usaram a palavra dom Jaime Spengler, 1º vice-presidente da Conferência Episcopal, dom Giovane Pereira de Melo, presidente da Comissão Episcopal para Laicato e do Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Camara (CEFEP) e dom José Valdeci, presidente da Comissão Episcopal Sócio transformadora. Participaram também a presidenta do CNLB, Sônia Oliveira; o secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Daniel Seidel; representantes do Coletivo Padres da Caminhada, do Núcleo de Estudos Sociopolítocos (NESP) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas); do Movimento Nacional Fé e Política e da Rede Brasileira de Fé e Política, entre outros. Tal representação demonstra a importância do projeto e o apoio que recebe das lideranças da Igreja Católica do Brasil.

O projeto “Encantar a Política” é motivado pelo desafiador panorama político-social e econômico que passa o Brasil e se inspira no magistério do papa Francisco. Seus horizontes estão nas exortações apostólicas Evangelli Gaudium e Laudato Si’ e se fundamenta na encíclica Fratelli Tutti.

O papa Francisco tem conclamado, em muitas ocasiões, que os fiéis católicos não tenham medo de se inserir na arena política. Isso já o fez nos primeiros meses de seu ministério como bispo de Roma. De maneira especial, na sala Paulo VI, no dia 13 de agosto de 2012, ele afirmou: “Para o cristão é uma obrigação envolver-se na política… devemos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas de caridade, por que busca o bem comum… a política está suja, por quê? Não será porque os cristãos se envolveram na política sem o espírito do Evangelho?”.

Mais recentemente, na Fratelli Tutti, o papa dedicou um capítulo todo sobre o que ele chama “boa política”. Assim, Francisco entende que as cristãs e os cristãos devem se envolver com a política! No entanto, devem, no espírito do Evangelho, fazer a “boa política”, não qualquer política. Fazer política no espírito do Evangelho significa colocar o bem, a vida e o amor como centro e, não, os interesses próprios ou valores que atentem contra a vida e a caridade. A caridade política, por sua vez, segundo o papa, coloca como centro de sua ação a pessoa dos empobrecidos e defende os seus direitos a uma vida digna. Defende também a vida do planeta Terra, nossa “Casa Comum”, como bem disse na Laudato Si’. No espírito do Evangelho, ainda se insere que a vida de todas as pessoas seja digna e haja a fraternidade, a solidariedade, a não violência, a justiça social, a destinação universal do bem comum e a distribuição das riquezas.

Historicamente, a Igreja do Brasil tem dado importante contribuição aos momentos eleitorais. Tem feito posicionamentos claros em defesa da democracia, do estado de direito e contra a corrução. Promoveu e participou de movimentos importantes como a incidência na Assembleia Nacional Constituinte, a iniciativa popular de combate à corrução eleitoral (Lei 9.840/99, Comitês Populares e a Iniciativa Popular para Lei da Ficha Limpa).

O projeto “Encantar a Política” é a continuidade de um trabalho que começou com as eleições de 2020. Naquele ano, um grupo de instituições propôs um material de reflexão. Devido ao êxito do mesmo, continuou com um projeto mais amplo em 2022 que quer ser um projeto de formação permanente. Após um processo amplo de construção participativa e de trazer novas parcerias e apoiadores, o CEFEP, o CNLB e a CBJP apresentaram o “Encantar a Política” aos conselhos da CNBB. O projeto foi amplamente acolhido e apoiado.

O “Encantar a Política” possui três eixos:

1. Curso de Planejamento de Campanhas Eleitorais, em parceria com a PUC Minas, voltado para candidaturas de bases populares;

2. Apoio a candidaturas populares e mandatos coletivos pelo CNLB e a CBJP, o que pode ser seguido por outros grupos. Inclui uma “Carta Compromisso” para candidaturas que queiram se comprometer e, ainda, a denúncia de parlamentares com mandatos, que se dizem católicos, mas votam contra as orientações da CNBB;

3. Um “Caderno”, como um texto base, inspirado e fundamentado na Fratelli Tutti, cuja apresentação foi feita por dom Walmor, presidente da CNBB. Esse Caderno será disponibilizado num hotsite e poderá ser baixado gratuitamente para ser usado à vontade. Também haverá uma versão impressa para algumas regiões do país. No hotsite, serão disponibilizados ainda outros materiais como pequenos vídeos com o conteúdo do Caderno e demais orientações sobre as eleições, cards, material para as redes sociais como Instagram e Facebook, cartas emitidas por dioceses, bispos, congregações religiosas e outros sobre a eleições.

O conteúdo do Caderno do “Encantar a Política” contempla cinco capítulos com os temas, sugeridos pelo papa Francisco na Fratelli Tutti: I. A universalidade do Amor Cristão; II. Amizade Social e Ética na Política; III. As Grandes Causas do Evangelho; IV. Cuidar da Casa Comum; V. 2022 – Eleições e Democracia.

Como nos alerta o papa Francisco, não podemos nos omitir. Neste momento, em que aumenta o empobrecimento do nosso povo, seus direitos sociais são retirados e a democracia é ameaçada, é preciso tomar posição. A posição dos cristãos está indicada pelo Evangelho, em Jo 10,10: ”Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Os que mais têm suas vidas ameaçadas são os pobres. É em favor dos pobres que a Igreja e os cristãos se posicionam.

 

A imagem destacada do artigo apresenta participantes da reunião do Conselho Permanente da CNBB, na qual foi aprovado o projeto “Encantar a Política”, no dia 23 de março de 2022. Fonte: cefep.org.br.