Espiritualidade do Tempo do Advento
O tempo litúrgico do Advento é próprio do ocidente. No fim do século IV, na Gália e na Espanha, encontramos um período preparatório para o Natal, com forte caráter ascético, chamado Adventus. O termo adventus, no vocabulário pagão, significa “acontecimento” ou aniversário de um determinado acontecimento. Normalmente este termo referia-se à ascensão do imperador ao trono. No vocabulário litúrgico, indicava o nascimento de Jesus e o seu aniversário, depois a preparação para tal acontecimento e, por fim, a expectativa da sua segunda vinda. A origem do Advento vai do século IV até a metade do século VI.
A liturgia do tempo do Advento convida os fiéis a viverem os comportamentos essenciais do cristão: a expectativa alegre e vigilante da chegada do Senhor, a esperança, a conversão e a pobreza. O papa emérito Bento XVI, em uma meditação sobre o Advento no ano de 2005, se expressou sobre este tempo litúrgico:
“No Advento, o povo cristão revive o duplo movimento do espírito: por um lado, eleva o olhar rumo à meta final de sua peregrinação na história, que é a vinda gloriosa do Senhor Jesus; por outro, recordando como emoção o seu nascimento em Belém, inclina-se diante do presépio”.
O Advento é marcado pela vigilância! “Vigiai”: nos ordena o Senhor! Estar atentos e vigilantes é requisito fundamente para bem viver este tempo profundo de espera do Senhor que vem. A atitude de vigilância é a postura de pessoas despertas, atentas a si mesmas, a Deus, e ao próximo. Enquanto estamos vigilantes, vamos reconhecendo a presença do Cristo em cada momento da vida.
Esta expectativa vigilante traz consigo um convite à alegria. Este tempo nos recorda a alegre esperança de que aquilo que esperamos certamente acontecerá. Deus é fiel em suas promessas. Aquele que veio uma primeira vez, na plenitude dos tempos, virá uma segunda vez, revestido de glória e majestade. Essa certeza deve despertar no coração dos cristãos uma alegria serena, que não é antecipada pela ansiedade, mas pela esperança da realização da promessa divina.
O Adento se reveste de esperança. É um tempo que nos educa para a vivência da esperança sem desanimar na caminhada cristã. Animados pela certeza da vinda do Senhor, somos chamados a caminhar com o coração confiante de que Cristo virá. Em uma sociedade que nos rouba a esperança de dias melhores e, por vezes, sufoca as pessoas de tristeza e desânimo, o Advento reacende na alma dos cristãos a esperança da vida, do amor e da paz.
A conversão também marca de modo particular a vida do cristão no tempo do Advento. É necessário estar vigilante e firme na esperança para fazer memória da vinda do Senhor e esperar confiante a sua volta no fim dos tempos. Isso exige um processo de conversão permanente. Em uma homilia proferida na capela da Casa Santa Marta, no dia 14 de março de 2017, o papa Francisco se expressou acerca da conversão:
“No caminho da vida, da vida cristã, se aprende todos os dias. Deve-se aprender todos os dias a fazer algo, a ser melhores do que o dia anterior. Aprender. Afastar-se do mal e aprender a fazer o bem: esta é a regra da conversão. Porque converter-se não é consultar uma fada que com a varinha de condão nos converte. Não! É um caminho. É um caminho de afastar-se e de aprender”.
Este tempo ainda é marcado pela pobreza. Quando nos referimos à pobreza, não estamos falando tanto no sentido econômico quanto sobre o pobre no sentido bíblico: aquele que confia em Deus e coloca seu apoio total Nele. Quem coloca sua esperança nos bens terrenos abandonou a Deus e vive preso naquilo que é passageiro. Somente Deus não passa. O abandono em Deus deve impregnar a vida cristã neste tempo. Nossa confiança deve estar enraizada em Deus.
O tempo litúrgico do Advento é um caminho pedagógico de crescimento espiritual no amor e confiança em Jesus Cristo. Vivendo intensamente as virtudes cristãs, iremos nos preparar adequadamente para celebrar o Natal do Senhor enquanto aguardamos confiantes sua segunda vinda gloriosa.