Igreja celebra Dia de Oração pela Santificação do Clero no dia 28

26 de junho de 2019

A Igreja celebra na próxima sexta-feira (28) a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Nesta data também, desde 1995, por incentivo de São João Paulo II, iniciou-se a dedicar um dia de oração pela Santificação dos Sacerdotes. Na arquidiocese de Pouso Alegre, o clero arquidiocesano se reunirá no Seminário Nossa Senhora Auxiliadora para uma manhã de oração e espiritualidade.

Entre a programação está um momento de reflexão com o padre Adilson Rocha e um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento. O encontro começa às 9h.

“A espiritualidade sacerdotal é intrinsecamente eucarística; a semente desta espiritualidade encontra-se já nas palavras que o Bispo pronuncia na liturgia da ordenação: ‘Recebe a oferenda do povo santo para a apresentares a Deus. Toma consciência do que virás a fazer, imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor’” (Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, nº 80).

Homilia do Papa Francisco

A Comissão Episcopal de Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou às arquidioceses as homilias proferidas pelo Papa Francisco nas últimas sete quintas-feiras santas. Leia as homilias completas aqui

Leia alguns trechos das homilias:

– 28 de março de 2013
É preciso chegar a experimentar assim a nossa unção, com o seu poder e a sua eficácia redentora: nas «periferias» onde não falta sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus. Não é, concretamente, nas auto-experiências ou nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor: os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de método em método leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graça, que se ativa e cresce na medida em que, com fé, saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção que temos àqueles que não têm nada de nada.

-17 de abril de 2014

Imagem: arquivo da internet

Ungidos com óleo de alegria para ungir com óleo de alegria. A alegria sacerdotal tem a sua fonte no Amor do Pai, e o Senhor deseja que a alegria deste amor «esteja em nós» e «seja completa» (Jo 15, 11). Gosto de pensar na alegria contemplando Nossa Senhora: Maria é «Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 288), e creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens. O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças; por isso, a nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno é a oração da nossa Mãe: sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a minha pequenez (cf. Lc 1, 48). E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria na nossa pequenez!

– 2 de abril de 2015
Não são tarefas fáceis, não são tarefas externas, como, por exemplo, as atividades manuais: construir um novo salão paroquial, ou traçar as linhas dum campo de futebol para os jovens do oratório, etc. Os compromissos mencionados por Jesus envolvem a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove. Alegramo-nos com os noivos que vão casar; rimos com a criança que trazem para batizar; acompanhamos os jovens que se preparam para o matrimónio e para ser família; entristecemo-nos com quem recebe a extrema-unção no leito do hospital; choramos com os que enterram uma pessoa querida… Tantas emoções! Se tivermos o coração aberto, estas emoções e tanto carinho cansam o coração do pastor. Para nós, sacerdotes, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração; e o nosso, sofrendo com eles, vai-se desgastando, divide-se em mil pedaços, compadece-se e parece até ser comido pelas pessoas: tomai, comei. Esta é a palavra que o sacerdote de Jesus sussurra sem cessar, quando está a cuidar do seu povo fiel: tomai e comei, tomai e bebei… E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus, etc., o que sempre, sempre cansa.

-24 de março de 2016
Nós, como sacerdotes, identifiquemo-nos com aquele povo descartado, que o Senhor salva, e lembremo-nos de que existem multidões inumeráveis de pessoas pobres, ignorantes, prisioneiras, que estão naquela situação porque outros as oprimem. Mas lembremo-nos também de que cada um de nós sabe em que medida tantas vezes somos cegos, estamos privados da luz maravilhosa da fé, e não porque nos falte o Evangelho ao alcance da mão, mas por um excesso de teologias complicadas. Sentimos que a nossa alma morre sedenta de espiritualidade, e não por falta de Água Viva – que nos limitamos a sorver aos goles – mas por um excesso de espiritualidades sem compromisso, espiritualidades superficiais. Sentimo-nos também prisioneiros, não cercados – como tantos povos – por muros intransponíveis de pedra ou barreiras de aço, mas por um mundanismo virtual que se abre e fecha com um simples clique. Somos oprimidos, não por ameaças e empurrões, como muitas pessoas pobres, mas pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores.

– 13 de abril de 2017
A Boa-Nova pode parecer simplesmente um modo diferente de dizer «Evangelho», como «feliz anúncio» ou «boa notícia». Todavia contém algo que compendia em si tudo o mais: a alegria do Evangelho. Compendia tudo, porque é jubilosa em si mesma. A Boa-Nova é a pérola preciosa do Evangelho. Não é um objeto; mas uma missão. Bem o sabe quem experimenta «a suave e reconfortante alegria de evangelizar» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 10). A Boa-Nova nasce da Unção. A primeira, a «grande unção sacerdotal» de Jesus, é a que fez o Espírito Santo no seio de Maria. Naqueles dias, a boa-nova da Anunciação fez a Virgem Mãe cantar o Magnificat, encheu de um sacro silêncio o coração de José, seu esposo, e fez saltar de gozo João no seio de sua mãe Isabel. Hoje, Jesus regressa a Nazaré e a alegria do Espírito renova a Unção na pequena sinagoga local: o Espírito pousa e espalha-Se sobre Ele, ungindo-O com o óleo da alegria (cf. Sal 45/44, 8). A Boa-Nova. Uma única palavra – Evangelho – que, no ato de ser anunciada, se torna verdade jubilosa e misericordiosa. Que ninguém procure separar estas três graças do Evangelho: a sua Verdade – não negociável –, a sua Misericórdia – incondicional com todos os pecadores – e a sua Alegria – íntima e inclusiva. Verdade, misericórdia e alegria: todas três juntas.

– 29 de março de 2018

Imagem: arquivo da internet

Sugiro, para meditação, três âmbitos de proximidade sacerdotal nos quais estas palavras «fazei o que Ele vos disser» devem ressoar – de mil modos diferentes, mas com o mesmo tom materno – no coração das pessoas com quem falamos: o âmbito do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.

A proximidade no diálogo espiritual, podemos meditá-la contemplando o encontro do Senhor com a Samaritana (cf. Jo 4, 5-41). O Senhor começa por lhe ensinar a reconhecer como adorar, em Espírito e em verdade; depois, com delicadeza, ajuda-a a dar um nome ao seu pecado, sem a ofender; e, por fim, o Senhor deixa-Se contagiar pelo seu espírito missionário e vai, com ela, evangelizar a sua povoação. Modelo de diálogo espiritual é este do Senhor, que sabe trazer à luz o pecado da Samaritana sem ensombrar a sua oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária.

A proximidade na Confissão, podemos meditá-la contemplando a passagem da mulher adúltera (cf. Jo 8, 3-11). Lá se vê claramente como a proximidade é decisiva, porque as verdades de Jesus sempre aproximam e se dizem (podem-se dizer sempre) face a face. Fixar o outro nos olhos – como o Senhor, quando Se levanta depois de ter estado de joelhos junto da adúltera que queriam lapidar, e lhe diz «também Eu não te condeno» (8, 11) – não é ir contra a lei. E pode-se acrescentar «de agora em diante não tornes a pecar», não com um tom que pertence à esfera jurídica da verdade-definição (o tom de quem deve determinar quais são as condições da Misericórdia divina), mas com uma frase dita na área da verdade-fiel que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo deste «não tornes a pecar» é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.

Por último, o âmbito da pregação. Meditemos nele pensando nas pessoas que estão afastadas e façamo-lo escutando a primeira pregação de Pedro, que teve lugar no contexto do Pentecostes (At 2, 14-36.38-40). Pedro anuncia que a palavra é «para todos os que estão longe» (2, 39), e prega de tal maneira que o querigma «os emocionou até ao fundo dos corações» e os fez perguntar: «Que havemos de fazer?» (2, 37). Uma pergunta que, como dizíamos, devemos pôr e responder sempre em tom mariano, eclesial. A homilia é a pedra de toque «para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo» (Exort. ap.Evangelii gaudium, 135). Na homilia, vê-se quão próximo temos estado de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária.

– 18 de abril de 2019:
Concretizando para nós, queridos irmãos sacerdotes, não devemos esquecer que os nossos modelos evangélicos são este «povo», esta multidão com estes rostos concretos, que a unção do Senhor levanta e vivifica. São aqueles que completam e tornam real a unção do Espírito em nós, que fomos ungidos para ungir. Fomos tomados dentre eles e podemos, sem medo, identificar-nos com esta gente simples. Cada um de nós tem a sua história. Um pouco de memória far-nos-á muito bem. Eles são imagem da nossa alma e imagem da Igreja. Cada um encarna o coração único do nosso povo.

Nós, sacerdotes, somos o pobre e queremos ter o coração da viúva pobre quando damos esmola e tocamos a mão do mendigo fixando-o nos olhos. Nós, sacerdotes, somos Bartimeu, e levantamo-nos cada manhã para rezar: «Senhor, que eu veja!» (cf. Mc 10, 51). Nós, sacerdotes, somos, nos vários momentos do nosso pecado, o ferido espancado deixado meio morto pelos ladrões. E queremos ser os primeiros a estar entre as mãos compassivas do Bom Samaritano, para depois podermos com as mãos ter compaixão dos outros.

Confesso-vos que, quando crismo e ordeno, gosto de espalhar bem o Crisma na testa e nas mãos de quantos são ungidos. Ungindo bem, experimenta-se que ali se renova a nossa própria unção. Uma coisa quero dizer: Não somos distribuidores de azeite em garrafa. Somos ungidos, para ungir. Ungimos, distribuindo-nos a nós mesmos, distribuindo a nossa vocação e o nosso coração. Enquanto ungimos, somos de novo ungidos pela fé e pela afeição do nosso povo. Ungimos, sujando as nossas mãos ao tocar as feridas, os pecados, as amarguras do povo; ungimos perfumando as nossas mãos ao tocar a sua fé, as suas esperanças, a sua fidelidade e a generosidade sem reservas da sua doação, que muitas pessoas eruditas designam como superstição.