Missa do Crisma é celebrada na Catedral Metropolitana

15 de maio de 2021
Foto: Fernanda Gomes

A arquidiocese de Pouso Alegre celebrou na manhã deste sábado (15), a Missa do Crisma, tradicionalmente celebrada na Quinta-feira Santa e que pelo segundo ano consecutivo foi adiada por causa da pandemia. A Eucaristia foi presidida pelo arcebispo metropolitano, dom José Luiz Majella Delgado-C.Ss.R., concelebrara por representantes do clero e do laicato das comunidades paroquiais. Foram cumpridas todas as exigências sanitárias do município de Pouso Alegre.

Todas as vítimas da Covid-19 foram colocadas em oração pelo arcebispo.

“Em nossas celebrações cotidianas recordamos todas as vítimas desta pandemia. Queremos hoje, com o significado próprio desta concelebração arquidiocesana, que anualmente a missa Crismal nos proporciona, ter presente quantos foram atingidos diretamente pela pandemia: os doentes e os que deles cuidam, os falecidos e seus familiares que choram a partida dos seus entes queridos, por vezes, sem poder dizer-lhes o último adeus”. Dom Majella também fez essa oração:

“O Senhor da vida acolha no seu Reino os falecidos, dê conforto e esperança aos que ainda se encontram atravessando esta provação, não falte com o necessário aos que sofrem as consequências sociais desta pandemia e desperte em todos nós sentimentos mobilizadores de apoio fraterno e solidário”.

Em sua homilia, ao dirigir-se ao presbitério, o arcebispo lembrou que padre é pai, por isso é preciso ter como exemplo São José. A alegria e a responsabilidade de ser pai na Igreja perante um contexto tão conturbado. 

“Padre significa fidelidade à vocação, de modo contínuo, sem parênteses nem interrupções. No ser padre tudo é importante. Adicionar-lhe o coração especifica o modo de servir e viver o ministério. Com coração de pai, de padre, mostra o caminho a percorrer. O ministério é exigente. Necessita da nossa inteligência, investida com tudo o que temos, e não de um modo parcial. O sacerdócio, para ser útil e compreendido, necessita de ser exercido com coração”. 

Hoje, o sacerdócio, à imagem de São José, deve ser exercido com o coração no sentido da compaixão: proximidade, dedicação, capacidade de se deixar comover pelos dramas e dores, ternura, carinho, solicitude, presença. Um coração que não deve ser de pedra, mas de carne”.

Foto: Fernanda Gomes

Dom Majella também lembrou do desafio da Igreja, hoje, que são os jovens. A Igreja precisa ajudar os jovens a redescobrir os valores e recuperar seus sonhos, tornando-se protagonistas na evangelização.

“A juventude precisa ser protagonista da ação evangelizadora. Onde estão os nossos jovens neste tempo nefasto da pandemia? Percebemos a diminuição de presenças nas comunidades cristãs. Os sonhos dos jovens estão sendo destruídos. Como ajudá-los na reconstrução dos sonhos? Quantos que abandonaram os estudos? Estão perdidos, sem rumos. Como padres, pais, não podemos ficar olhando para os nossos jovens e esperar por alguma oportunidade. O tempo é agora. Vamos criar juntos com eles um espaço seguro de partilha de experiências e aprendizagens, onde são convidados a pensar em conjunto em propostas e soluções diante do novo mundo que se apresenta nesta pandemia. Vamos incentivá-los a arriscar ter sonhos. Precisamos incrementar nos jovens emoções positivas como a esperança, a alegria e a vontade de fazer algo pelos outros. É urgente criar uma cultura do encontro, se aproximando dos jovens e aproximando os jovens”.

Renovação das promessas sacerdotais

A reforma litúrgica do Vaticano II, manteve uma antiga cerimônia e acrescentou o rito da Renovação das Promessas Sacerdotais, que antecede a Bênção dos Óleos e a Confecção do Crisma. Jesus, junto com a eucaristia, instituiu também o sacerdócio, dizendo aos apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Por isso, nesta missa, os sacerdotes das dioceses concelebram com seu Bispo, como sinal de unidade e de comunhão sacerdotal.

O bispo, os sacerdotes e diáconos participam do mesmo sacerdócio de Jesus Cristo, embora em graus diferentes. O clero renova as promessas sacerdotais pronunciadas no dia da ordenação, expressando a comunhão diocesana em torno do Mistério Pascal de Cristo, constituindo um momento forte de comunhão eclesial, de participação intensa das comunidades e de valorização dos sacramentos da vida da Igreja.

Os Santos Óleos

Foto: Fernanda Gomes

Durante a celebração, se abençoa o óleo dos catecúmenos e dos enfermos e se consagra o Santo Crisma, daí, a celebração ser também chamada ‘Missa dos Santos Óleos’. Depois da missa, os padres voltam para suas comunidades levam a porção dos óleos para que possa ocorrer a prática dos sacramentos dos seus fiéis.

Óleo dos Catecúmenos: Concede a força do Espírito Santo aqueles que serão batizados para que possam ser lutadores de Deus, ao lado de Cristo, contra o Espírito do mal.

Óleo dos Enfermos: É um sinal utilizado pelo sacramento da Unção dos Enfermos, que traz o conforto e a força do Espírito Santo para o doente no momento de seu sofrimento. O doente é ungido na fronte e na palma das mãos.

Santo Crisma: É um óleo utilizado nas unções consacratórias dos seguintes sacramentos: depois da imersão nas águas do batismo, o batizado é ungido na fronte; na Confirmação é o símbolo principal da consagração, também na fronte; depois da Ordenação Episcopal, sobre a cabeça do novo bispo; depois da ordenação sacerdotal, na palma das mãos do néo-sacerdote.

Leia a homilia do arcebispo

Este ano, novamente por causa da pandemia, não nos foi possível reunir-se na manhã da Quinta-feira Santa para a concelebração Crismal. Recordo que no ano passado, também por causa da Covid-19, só foi possível fazê-lo no mês de aposto, na proximidade do dia do padre e da data dos 120 anos do decreto de fundação da diocese de Pouso Alegre. Na ocasião, escolhemos para concelebrar na capela do Carmelo da Sagrada Família, com a restrição presencial das Irmãs carmelitas e dos padres.

Estamos, mesmo assim, gratos a Deus que, apesar das exigências que nos sentimos obrigados por causa da pandemia que ainda está assolando o Brasil e o mundo, nos permite este ano concelebrar esta Eucaristia, ainda no tempo Pascal, aqui na Catedral, com fiéis representando as nossas comunidades paroquiais.

Foto: Fernanda Gomes

Em nossas celebrações cotidianas recordamos todas as vítimas desta pandemia. Queremos hoje, com o significado próprio desta concelebração arquidiocesana, que anualmente a missa Crismal nos proporciona, ter presente quantos foram atingidos diretamente pela pandemia: os doentes e os que deles cuidam, os falecidos e seus familiares que choram a partida dos seus entes queridos, por vezes, sem poder dizer-lhes o último adeus.

O Senhor da vida acolha no seu Reino os falecidos, dê conforto e esperança aos que ainda se encontram atravessando esta provação, não falte com o necessário aos que sofrem as consequências sociais desta pandemia e desperte em todos nós sentimentos mobilizadores de apoio fraterno e solidário.

No Evangelho que ouvimos, Jesus se apresenta como o ungido de Deus, como Cristo, então isto quer dizer precisamente que Ele age por missão do Pai e na unidade com o Espírito Santo e que, desta forma, entrega ao mundo uma nova realeza, um novo sacerdócio, um renovado modo de ser profeta que não busca a si mesmo, mas vive para Aquele em vista de quem o mundo foi criado. Hoje, voltemos a colocar as nossas mãos ungidas, essas mãos que no dia da nossa ordenação sacerdotal foram ungidas com o óleo, que é o sinal do Espírito Santo e da sua força, à disposição de Jesus e peçamos-lhe que nos tome novamente pelas mãos e que nos oriente. 

O Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro Universal da Igreja, ofereceu-nos uma Carta Apostólica a que deu o nome de “Patris Corte”- Com o Coração do Pai. O objetivo era claro: “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”. 

Por ocasião da 58ª Jornada Mundial de orações pelas vocações, o Papa Francisco apresentou um tema ligado a São José, colocando-o como figura central de modelo para as vocações.

“(…) Ele não era famoso e nem se fazia notar. Contudo, através de sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus: tinha um coração de pai, capaz de dar e gerar vida no dia a dia. E é isto que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias”, afirma o papa. 

Recordo que no meu tempo de seminário a devoção a São José era alimentada na formação e celebrávamos o 19 de março como um dia festivo, Eucaristia e sessão solene. Com São José aprendíamos a ser padres. Também, na minha família, a devoção a São José sempre foi um destaque. Precioso legado recebido de meus pais. Quando estou diante de alguma dificuldade, digo em meu coração: “São José, vai lá”. Sinto-me amparado.

Com São José e como ele, todos nós somos “pai”, padre, e precisamos de interpretar e de reconhecer que não se trata de uma simples palavra usada pela tradição, como poderiam ter sido outras. Possui uma inequívoca densidade de conteúdo que dispensa grandes atributos. Bastaria que parássemos aqui. A alegria e a responsabilidade de ser pai na Igreja perante um contexto tão conturbado. 

Padre significa fidelidade à vocação, de modo contínuo, sem parênteses nem interrupções. No ser padre tudo é importante. Adicionar-lhe o coração especifica o modo de servir e viver o ministério. Com coração de pai, de padre, mostra o caminho a percorrer. O ministério é exigente. Necessita da nossa inteligência, investida com tudo o que temos, e não de um modo parcial. O sacerdócio, para ser útil e compreendido, necessita de ser exercido com coração. 

Hoje, o sacerdócio, à imagem de São José, deve ser exercido com o coração no sentido da compaixão: proximidade, dedicação, capacidade de se deixar comover pelos dramas e dores, ternura, carinho, solicitude, presença. Um coração que não deve ser de pedra, mas de carne. 

O coração assinala a lógica do acolhimento e este exige dois comportamentos muito concretos. Caminhando com os outros, teremos de saber acolher, na variedade das situações, nunca excluindo ninguém, mas atendendo com coração aberto. Todos e tudo tem espaço num coração sacerdotal que não se fecha a ninguém. Como São José, um pai amado por Jesus e Maria, mas também pelo povo Cristão. Nunca seremos esquecidos pelo cuidado prestado ao próximo. 

O coração de pai tem diversos atributos. Enumerá-los mostra a vontade de um sacerdócio à imagem de São José. José ofereceu ternura com todas as atitudes e palavras que poderemos imaginar. Não precisamos de grandes coisas. Os pequenos gestos falam muito quando estão carregados de amor. Custa um pouco, mas valem muito. 

Como padres temo que ser um pai trabalhador. O trabalho, no ministério sacerdotal, não é uma questão laboral. Entregues, por escolha em adesão a um chamado à causa do Reino, sabemos que Deus Pai trabalha dia e noite e sabemos que a missão é para todas as horas. Nunca tivemos nem nunca teremos horário de trabalho. Temos orgulho de ser colaboradores de Deus na tarefa de recriar a humanidade. 

São José trabalhou com Jesus. O trabalho do sacerdote ja foi muito solitário. Cada um na sua paróquia. Hoje terá de ser sempre com outros, sacerdotes e leigos. Estes não são meros executores de ordens. Enriquecemo-nos com eles e a Igreja será sempre um projeto comum. É por isso que a nossa arquidiocese vive neste momento a sua caminhada pré-sinodal. A pandemia não está ofuscando o horizonte da nossa missão evangelizadora. Precisamos escutar uns aos outros, para isso o Sínodo diocesano. O mais importante nas nossas comunidades paroquiais é o caminhar juntos, lendo os sinais dos tempos e nos mantendo abertos à novidades do Espírito. Nesta etapa de formação dos animadores sinodais já estamos tirando lições da sinuosidade. Acreditemos na nossa unidade.

Nos dias de hoje, temos um enorme desafio de criar juntos um espaço nas comunidades paroquiais para os jovens. A juventude precisa ser protagonista da ação evangelizadora. Onde estão os nossos jovens neste tempo nefasto da pandemia? Percebemos a diminuição de presenças nas comunidades cristãs. Os sonhos dos jovens estão sendo destruídos. Como ajudá-los na reconstrução dos sonhos? Quantos que abandonaram os estudos? Estão perdidos, sem rumos. Como padres, pais, não podemos ficar olhando para os nossos jovens e esperar por alguma oportunidade. O tempo é agora. Vamos criar juntos com eles um espaço seguro de partilha de experiências e aprendizagens, onde são convidados a pensar em conjunto em propostas e soluções diante do novo mundo que se apresenta nesta pandemia. Vamos incentivá-los a arriscar ter sonhos. Precisamos incrementar nos jovens emoções positivas como a esperança, a alegria e a vontade de fazer algo pelos outros. É urgente criar uma cultura do encontro, se aproximando dos jovens e aproximando os jovens. 

Que São José se torne para todos um mestre singular no serviço da missão salvífico de Cristo, que, na Igreja, compete a cada um e a todos. 

Queridos padres, hoje, dou graças a Deus por cada um de vocês, pelo chamado que Deus dirigiu a você e ao qual respondeu, pelo esforço no serviço dos irmãos, pelas dores aliviadas e pela coragem e esperança infundida em nome de Deus, particularmente nestes tempos difíceis da pandemia. Coragem, caros padres! O Senhor não nos faltará com a sua Graça. Unidos a Ele e entre nós, seremos sinais e portadores do seu amor que cura, unifica, fortifica e salva. É com estes sentimentos que vos convido, caros padres, a renovar as promessas sacerdotais, ao serviço dos irmãos e irmãs aos quais o Senhor nos enviou. 

Porque trabalhamos juntos por uma Igreja sinodal e samaritana, caminhando juntos e oferecendo as nossas mãos para cuidar do próximo, peçamos a Jesus para nos atrair cada vez mais para dentro d’Ele, a fim de nos tornarmos verdadeiramente sacerdotes. 

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