O desafio da sinodalidade para 2022: o ano que será o que quisermos

16 de fevereiro de 2022

Começamos um novo ano, uma nova caminhada. Fizemos muitos planos, projetos, muitos pedidos a Deus e aos santos de devoção. Fizemos muitos propósitos! No entanto, sabemos que 2022 será para cada um de nós aquilo que nos dispusermos a fazer dele. A contagem do tempo, embora siga os ciclos da natureza e do universo, é uma criação artificial humana para marcar os dias, meses e anos e a vida. É uma das mais significativas invenções do homo sapiens, comum a várias culturas e universalizada no calendário ocidental, também chamado Gregoriano, pois foi criado pelo Papa Gregório XIII em 1582. Graças ao calendário, vamos conseguindo contar nossa história e, nessa história, dá-se a Salvação, pela encarnação e ressurreição de Jesus, o verbo de Deus.

Mas, o que vamos fazer de 2022? Do ponto de vista da Igreja Católica, seguiremos o calendário litúrgico, que nos insere no mistério salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pastoralmente, somos convocados a diversos eventos da Igreja Universal, da Igreja do Brasil e da Igreja local, diocesana. Para enumerar alguns eventos:

– o Sínodo sobre a Sinodalidade convocado pelo Papa Francisco para ser concluído em 2023; também convocados pelo Papa, os projetos “Economia de Francisco e Clara” e “Pacto Educativo Global” – preocupações do Papa com o bem-estar das populações mais pobres e com a vida do planeta;

– em nível de Brasil, teremos a Campanha da Fraternidade, que tratará, pela terceira vez, da Educação; o XVIII Congresso Eucarístico Nacional, em Recife – PE, no mês de novembro, com o tema: “Pão em todas as mesas”, e a 6ª Semana Social Brasileira, com o tema “Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho”;

– em nível arquidiocesano, teremos a execução do 1º Sínodo da Arquidiocese, cujo tema é “Sínodo, caminho de comunhão para a missão”.

Como cristãos e cristãs, membros da Igreja Católica, somos chamados a participar e contribuir com esses eventos e propostas de forma ativa e efetiva. O Concílio Vaticano II ensina que a Igreja somos todos os batizados e batizadas e não apenas a hierarquia. Pela graça que o Batismo nos confere temos o direito e o dever de “edificar” a Igreja em corresponsabilidade.

Em temos do Papa Francisco, somos desafiados a uma caminhada cada vez mais sinodal que implica o diálogo fraterno e maduro entre nós católicos batizados, como cristãos leigos e leigas, cristãos consagrados e consagradas e cristãos ordenados – diáconos, padres e bispos. O caminho sinodal implica um pouco mais: o diálogo construtivo com os cristãos que vivem a fé em outras Igrejas e mesmo com os crentes de outras pertenças religiosas. Esse caminho deve ser feito com humildade, no desejo de aprender e de construir juntos um mundo melhor, mais de acordo com a vontade de Deus.

No entanto, o maior desafio de uma jornada sinodal, que quer ser o futuro da Igreja, talvez seja o caminhar com a sociedade, pois, muitas vezes, estamos na sociedade, mas negamos a sociedade, já que temos dificuldade em conjugar fé e vida. Historicamente influenciados pelo dualismo da filosofia grega, dividimos o ser humano em corpo e alma. Desta forma, negamos a origem semita de nossa fé judaico-cristã, que vê o ser humano uma realidade como um só, sem divisões.

Quando separamos o corpo da alma, separamos a fé da realidade. A consequência desta divisão resulta desastrosa: uma vida de fé incoerente que escandaliza o mundo e já não consegue ser sinal de Jesus Cristo para ninguém, como a do cristão que é “pró-vida”, mas não se importa que os já nascidos vivam sem dignidade. E essa situação, por vezes, é causada por pessoas de fé cristã: o cristão que vai à mesa da Eucaristia – o banquete da vida aos finais de semana, mas defende a morte de outras pessoas, também outros cristãos, e a destruição do planeta Terra; o cristão que se comove diante de uma imagem do Crucificado ensanguentado, mas que ironiza os corpos de pessoas pretas, indígenas e LGBTQIA+ que sofrem violência social e institucional.

O caminho sinodal convocado por Francisco é uma proposta, um chamado a um encontro de nós, cristãs e cristãos conosco mesmos, com nossa fé, com o Evangelho e com Jesus de Nazaré, o Crucificado/Ressuscitado de Jerusalém.
O ano de 2022 se nos oferece como sendo para construções e reconstruções, mudança de realidade e reencontro com o essencial do ser humano e da fé em Cristo, que morreu pelos pecadores e pelas pecadoras. É um ano, que tendo eleições majoritárias – para presidente, governadores, deputados estaduais e federais e senadores –, nos permite mudar o destino de nosso país, mais ou menos; ou ainda continuar como estamos. E até mesmo piorar. Mas o Brasil, a Igreja, cada um de nós… enfim, 2022 será aquilo que decidirmos que deve ser.

 

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