Palácio episcopal: 100 anos acolhendo os pastores da arquidiocese de Pouso Alegre

8 de agosto de 2022

Na próxima quarta (10), o palácio episcopal, patrimônio histórico do município de Pouso Alegre (MG) e residência do arcebispo metropolitano, completará 100 anos de sua inauguração. O historiador Fernando do Vale apresenta dados sobre esse prédio que faz parte da história do Sul de Minas.

Com a instalação da diocese de Pouso Alegre, no primeiro ano do século XX, o padre José Paulino, aos poucos, foi adquirindo bens para compor o patrimônio eclesial. Inicialmente, era composto por uma fazenda, chácara para o seminário (onde hoje está localizado o Exército) e cinco prédios localizados na cidade. Com a nomeação do primeiro bispo, dom João Baptista Correa Nery, no dia 20 de julho de 1901, a residência que passou a ser sua moradia se localizava na esquina das ruas Dom Nery e Adalberto Ferraz.

Primeira residência episcopal que, posteriormente, deu lugar a Escola de Farmácia. Foto: Fernando do Vale.

Contudo, desejava-se construir uma residência mais funcional, adiada perante as dificuldades financeiras que a diocese enfrentava. Diante dos burburinhos que se espalhavam de uma possível transferência da sede eclesial para a cidade da Campanha, a ideia de se construir uma nova residência se tornou realidade. Uma comissão, composta por Cândido Antônio de Barros, capitão Ignácio de Loyola, coronel Octávio Meyer, senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral e padre Antônio Boucher Pinto, ficou responsável por incentivar a população a ajudar nas obras. A pedra fundamental foi lançada no dia 20 de janeiro de 1902 e a sua inauguração ocorreu no dia 5 de junho de 1904. A antiga residência serviu de habitação para dom Nery, dom Antônio Augusto de Assis e dom Octávio Chagas de Miranda.

Primeira residência episcopal, onde hoje se localiza o Colégio São José. Foto: Fernando do Vale.

Com a vinda do Exército para Pouso Alegre, os militares vislumbraram a chácara onde se localizava o seminário diocesano como sendo o local ideal para o estabelecimento da guarnição. Mesmo dom Octávio se opondo aos interesses militares, a chácara foi desapropriada por um valor ínfimo. O seminário e Ginásio Diocesano foram obrigados a se transferirem para a sede da residência episcopal, passando dom Octávio a residir em um dos prédios pertencentes ao bispado localizado na Rua Afonso Pena.

No ano de 1915, foi adquirido um terreno por meio de doação para a construção da nova residência:

“um terreno nesta cidade (Pouso Alegre) havido por compra feita ao Capitão João Pedro da Silveira e sua mulher, por escriptura do 1º Offício, que faz frente para o Palácio Episcopal (antiga residência), à Rua Júlio Brandão, que divide pelas ruas D. Nery e Monsenhor José Paulino, que tem fundos até a divisa do Cel. João Baptista Vieira e herdeiros de Fortunato de Tal”.

Estando legalizado o terreno, as obras da nova residência iniciaram. As obras ficaram a cargo do mestre construtor recém-chegado de Ribeirão Preto (SP), Mario Pio Gissoni, dispensando a quantia total de 85:000$000 (oitenta e cinco contos de réis). No dia 10 de agosto de 1922, dia de Santa Filomena, a qual dom Octávio era muito devoto, inaugurou-se o novo palácio episcopal. As cerimônias iniciaram com uma missa às 7h30min, presidida pelo monsenhor Lafayette Libânio, vigário geral da diocese, com a presença da comunidade, irmandades, representações de colégios e autoridades locais. Ao final da celebração, proferiu um discurso eloquente o cônego Antônio Furtado de Mendonça. Logo após, se dirigiram ao novo palácio episcopal toda população de Pouso Alegre. O convite foi veiculado no jornal “Semana Religiosa”, pois, dom Octávio, fez questão de que todos, sem distinção, participassem daquele ato.

Adentrando o novo palácio episcopal, o bispo diocesano foi saudado pelos alunos do Ginásio São José, da Escola Profissional e do seminário. Dom Octávio usou a palavra, demonstrando seu enorme carinho pelos presentes no ato de inauguração de sua nova residência e agradecendo aos cumprimentos pelo seu natalício, ocorrido no dia 10 de agosto. Fizeram-se presentes também, já no interior do palácio, representantes do Colégio das Irmãs Dorothéas, a quem carinhosamente acolheu o pastor diocesano. Em seguida, dom Octávio iniciou a bênção da casa, percorrendo-a por todos os cômodos e aspergindo-a com água benta. Procedeu-se também a entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus, a bênção do sacrário da capela e da imagem de Santa Filomena. Tendo findado a cerimônia e os discursos, durante a festa, uma banda de música executou belas canções.

Ato de inauguração do novo palácio episcopal da diocese de Pouso Alegre, no dia 10 de agosto de 1922. Foto: Fernando do Vale.

O novo edifício, inaugurado em 1922, possui belo aspecto e acomodações necessárias para a residência dos bispos. Com fachada sóbria e elegante, estava se formando um belo jardim, na época sob a responsabilidade de Jacintho Libânio, monsenhor Lafayette e Mirabeau Ludovico (chofer e jardineiro que trabalhou até o final de sua vida com os bispos). A porta principal conduz a um vestíbulo, com aspecto claro e alegre, na época, decorado por Carlos Titos Wunderling. Do lado esquerdo do vestíbulo, seguia o salão nobre, decorado por cortinas e guarnições, sob a ótica de Leão Gery, da cidade de Campinas (SP). Do lado direito do vestíbulo, se encontrava a secretaria do bispado, o arquivo e o gabinete do vigário geral, todos bem iluminados e pintados com gosto e composto por novos mobiliários. Seguindo ainda pelo térreo, se encontrava a capela, com decoração apropriada, belas cortinas, altar de madeira, oferecido pelo povo da paróquia de Ouro Fino (MG) e executado pela oficina do senhor João Pinheiro, na cidade de Jacutinga (MG). Do outro lado, um amplo refeitório todo mobiliado, trabalho das oficinas de Luiz Checchia & Irmão, de Campinas. Ainda neste pavimento, se encontravam quarto de empregados, cozinha e outras dependências.

No andar superior, acesso conduzido por modesta escada, se encontrava um hall todo iluminado onde eram localizados os seguintes cômodos: biblioteca, sala de bilhar, gabinete e quarto de dormir do senhor bispo diocesano, quarto para o secretário, três quartos para hóspedes e outras dependências. Toda a mobília do quarto do prelado foi oferecida pela paróquia da Vila Braz, atual paróquia São Caetano, em Brasópolis (MG), sob os cuidados dos irmãos Checchia.

O palácio episcopal, durante os anos, foi testemunha de diversos acontecimentos religiosos, como cerimônias, festividades e serviu de hospedagem a diversas personalidades religiosas. Ao completar 50 anos de sacerdócio, durante as comemorações no ano de 1953, dom Octávio recebeu na sua residência o então governador de Minas Gerais e futuro presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Dom Otávio discursa diante de fiéis na entrada do palácio episcopal. Foto: Fernando do Vale.
O então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira, discursa no palácio episcopal, por ocasião dos 50 anos de ordenação sacerdotal de dom Octávio Chagas de Miranda, no ano de 1953. Foto: Fernando do Vale.

Nestes 100 anos de inauguração do palácio episcopal da arquidiocese de Pouso Alegre, residiram os seguintes bispos e arcebispos:  dom Octávio Chagas de Miranda (1922-1959), dom José D’Ângelo Neto (1962-1990), dom João Bergese (1991-1996), dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho (1996-2014) e dom José Luiz Majella Delgado (atual residente). Como bispos auxiliares, também habitaram aquela residência: dom Oscar de Oliveira (1954-1960), dom João Bosco Óliver de Faria (1987-1991) e dom José Francisco Rezende Dias (2001-2003).

O palácio é a residência do atual arcebispo metropolitano, dom José Luiz Delgado Majella, que, com muito amor e respeito pela história da arquidiocese, cuida desse prédio que se tornou patrimônio histórico do município de Pouso Alegre. Mantendo a imponência original da época de sua inauguração, a residência, atualmente, possui dois pavimentos circundados por um belo jardim cercados por muros, primando pela segurança daquele patrimônio e de seu habitante. Atualmente, o muro e o jardim do palácio passam por reforma e revitalização. A arquidiocese pretende concluir essas obras em breve e, com evento solene, comemorar os 100 anos da inauguração do prédio.

Foto atual do palácio episcopal, com destaque para sua lateral esquerda e jardim. Foto: Arquivo pessoal/dom José Luiz Majella Delgado.

Referências bibliográficas:

A Semana Religiosa, 14 de outubro de 1922, ano VII, nº304, Capa.

Documento de Compra e Venda do terreno e benfeitorias do Palácio Episcopal. Acervo da Cúria Metropolitana de Pouso Alegre.

Dossiê de Tombamento da Prefeitura Municipal de Pouso Alegre, 1998. Acervo da Superintendência de Cultura de Pouso Alegre.

Imagens: Fernando do Vale e dom José Luiz Majella Delgado.
A imagem destacada da notícia apresenta perspectiva do palácio episcopal e é dom José Luiz Majella Delgado.

 

 

Seguem mais fotos atuais do palácio episcopal, do arquivo de dom José Luiz Majella Delgado:

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