#Reflexão: 16º domingo do Tempo Comum (17 de julho)
A Igreja celebra, no dia 17, o 16º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Gn 18,1-10a
Salmo: 14(15),2-3ab.3cd-4ab.5 (R. 1a)
2ª Leitura: Cl 1,24-28
Evangelho: Lc 10,38-42
MARTA E MARIA: ESCUTAR É SERVIR
Acolher bem é sempre um modo de já demonstrar afeto e estima pela pessoa. O povo da Bíblia sempre cultivou esta virtude, pois também foi acolhido por outros povos até chegar à Terra Prometida.
Na primeira leitura, temos o belo exemplo de Abraão que abrigado do sol forte do meio dia, insiste para que três peregrinos desconhecidos aceitassem sua hospitalidade. Ele oferece o que tem de melhor em sua casa e de suas coisas. No diálogo que acontece entre eles, se descobre que são mensageiros de uma promessa divina: Abraão e Sara teriam um filho em um ano. O casal já tinha tentado de tudo satisfazer o pedido de Deus, mas não tinham compreendido como tudo deveria se realizar. A acolhida generosa de Abraão foi o último sinal para Deus para que o desejo de toda uma vida do casal (ter um descendente) se encontrasse com a vontade divina. A carta aos Hebreus medita esta passagem e diz que “alguns sem saber acolheram anjos” (Hb 13,2).
Lucas no Evangelho do domingo passado nos apresentou a história do Samaritano Misericordioso. Uma nova religião onde somos chamados a olhar com a mesma intensidade, profundidade e misericórdia o rosto de cada pessoa, principalmente dos mais necessitados. Neste domingo, temos também o mesmo gesto sincero e alegre da acolhida, mas desta vez, de duas irmãs. Abraão acolheu três desconhecidos, Marta e Maria acolheram um grande amigo: Jesus.
Lucas inicia recordando do caminho que estava fazendo Jesus com seus discípulos para Jerusalém. Quando iniciou sua jornada ainda na Galileia (10,1ss), Jesus tinha instruído os discípulos para entrar nas vilas, mas principalmente nas casas e ali iniciar a missão. No diálogo com o doutor da lei (10,25ss), Jesus apresenta o grandioso exemplo de um samaritano que encontrando-se em viagem, interrompe suas atividades para socorrer um moribundo desconhecido à beira da estrada. Agora é Jesus quem é acolhido em uma casa por duas irmãs.
Todos estavam a caminho da Cidade Santa, mas Lucas afirma que é Jesus quem entra em uma vila e aceita ser acolhido dentro de uma casa habitada por duas mulheres. O termo “casa” em Lucas, além de significar o lugar da convivência familiar, também expressa a “intimidade do coração”. Como instruíra os discípulos (Lc 10,5ss), na casa que encontrarem acolhida, os discípulos deveriam oferecer a paz, agora é Jesus quem é recebido com alegria por duas mulheres.
Marta é quem toma a iniciativa de tudo, mas sua irmã (Maria) não faz o que ela esperava, pois Jesus estava em sua casa e, segundo Marta, Ele merecia o melhor. Aquela casa de duas irmãs [São João menciona Marta e Maria com um irmão, Lázaro], certamente não era entre as famílias mais ricas; nem poderiam oferecer um banquete, mas mesmo assim, Marta queria fazer o máximo e o melhor para o Mestre. Maria, estranhamente, não segue sua irmã, mas se coloca aos pés de Jesus para “escutá-lo”. A expressão “aos pés” não significa tanto uma posição onde Jesus estaria sentado e Maria aos seus pés [não existiam cadeiras nas casas simples], mas uma expressão que recorda um discípulo que está aprendendo do seu Mestre, por isto, em silêncio e tranquila, Maria somente escutava. Maria se ajoelha para escutar; Marta se levanta para criticar.
Lucas descreve Marta com uma pessoa totalmente envolvida no serviço de casa. Certamente, ela estava procurando oferecer o melhor de si para Jesus, como Abraão o fez para os três estrangeiros na primeira leitura. Mas, como se trata de Jesus em sua casa, a atitude de Marta acaba deixando em segundo plano o principal. Aquela visita especial não queria um tratamento comum (receber uma bela refeição), mas diferente. Jesus não entrou na casa das irmãs para ser servido, mas para continuar servindo. Não é Jesus quem deve receber algo, mas é Ele próprio quem deseja oferecer o melhor de si que são os seus ensinamentos. Nosso Senhor tinha instruídos os missionários ao serem acolhidos por uma família que deveriam comer o que o eles comiam; Assim, para Jesus bastaria o “mesmo prato de sempre”; Jesus é quem queria oferecer o melhor.
As duas irmãs deveriam ser muito próximas de Jesus e, possivelmente, não tinha sido a primeira vez que Jesus tinha estado naquela casa. Em nome de uma intimidade profunda, Marta resolve colocar tudo dentro de sua lógica e prioridade. Agitada como estava, ela resolve reclamar com Jesus de sua irmã. A presença de Cristo não tinha trazido paz para ela, mas não por causa de Jesus. A afobação nas tarefas de casa por causa da visita ilustre tinha roubado a paz de Marta que dirige palavras e críticas a Jesus e a sua irmã Maria. Marta quer ensinar Jesus o que tem que fazer; sendo que Jesus, desde que entrou na casa já ensinava; Marta vê tudo, mas não escuta.
Assim, suas primeiras palavras são dirigidas a Jesus: “não te importa…” Marta critica Jesus colocando-O na mesma situação de sua irmã ou de alguém que não se preocupa com o excesso de atividade que ela (Marta) estava tendo. Interessante que em nenhum momento Jesus exige algo das duas, mas Ele próprio que procura oferecer suas palavras. Marta tinha criado um modo pessoal de agradar Jesus, mas acabou se sentindo conturbada com tudo. Marta queria que Maria, sua irmã, fosse como ela e agisse como ela. Marta não reclama diretamente com sua irmã, mas procura usar da autoridade de Jesus para confirmar seus princípios. Quantas vezes não fazemos o mesmo em nossas orações pedindo a Deus punição e castigo contra certas pessoas, achando que até Deus tem que se ajustar ao nosso modo de ver as coisas. Marta não é maldosa e nem deve ser vista como oposta a Maria. Ela tem uma preocupação legítima, mas exagerada: não era aquilo que Jesus esperava dela, ela queria oferecer algo que Jesus não necessitava. Marta reclama da indiferença de Jesus, de sua solidão e por fim, dá uma ordem a Jesus… Marta, definitivamente, não entendeu o sentido daquela visita especial.
Marta reclama de solidão em seu “serviço” (diakonia). Jesus estava em sua casa e Marta se sente sufocada pelo serviço que queria oferecer ao ilustre hóspede. Nosso serviço e nossas orações devem ser algo que devemos realizar com alegria e um meio de compartilharmos a nossa intimidade com Deus. Marta estava perdendo a oportunidade de primeiro ser servida por Jesus, para depois servir aos outros.
Jesus não entra no jogo de Marta, mas com carinho aponta aquilo que ela deveria corrigir nela mesma. Com duplo chamado: “Marta, Marta!”, Nosso Senhor procura, carinhosamente, corrigir Marta. Jesus resume muito bem em dois pontos: “Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas!”. Jesus não critica o serviço e nem o desejo que ela tinha de fazer o melhor, mas sim a “agitação exagerada” e uma “inquietação interior” que Marta havia criado e tentava envolver Jesus.
Por fim, Jesus recoloca Maria ao centro do debate, mas não para fazer o que disse Marta, mas para apontar a sua feliz escolha. Maria optou em acolher de modo silencioso e tranquilo o melhor de Jesus que estava em suas palavras. Esta é a melhor e a primeira parte que nós devemos sempre recordar ao acolher Jesus em nossa “casa” (coração). Nossas agitações interiores tentem a nos dão a sensação de que nós estamos sozinhos e que tudo não tem sentido. Para Jesus, nada disso tem valor se não nos encontramos em paz e a mudança não depende de Jesus, mas de nós. Mais do que falar, exigir e até brigar com Deus, devemos nos colocar aos seus pés e acolher como um delicioso alimento, as palavras de vida de Jesus.