#Reflexão: 16º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 18 de julho)
A Igreja celebra neste domingo (18), o 16º domingo do tempo comum. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia deste dia.
Leituras:
Salmo – Sl 22,1-3a.3b-4.5.6 (R. 1.6a)
ERAM COMO OVELHAS SEM PASTOR
Uma das imagens mais significativas escolhidas por Jesus para se apresentar ao povo é a imagem do pastor. Em São João, Jesus se apresenta com o Bom Pastor: Ele dá sua vida pelas ovelhas. No Evangelho de São Marcos, continuamos descobrindo quem é Jesus e qual deve ser a resposta daqueles que se propõem a segui-Lo.
É próprio do pastor, cuidar e zelar pelo seu rebanho, pois dele depende também seu sustento e sobrevivência. Jesus nos ensina como aplicar isto em nossa vida, mas conforme o seu exemplo e testemunho.
Jesus, depois de passar por algumas decepções (com os seus parentes, por exemplo), resolveu investir mais intensamente naqueles que aceitaram deixar tudo para segui-Lo: seus discípulos. Mas, Nosso Senhor não montou um grupo de pessoas somente para aprender algo novo. Um “ensinamento novo” de Jesus só tem sentido quando a pessoa humana ganha o centro de tudo; quando os sofrimentos e as dores se tornam a preocupação principal daquele que quer ser seguidor de Cristo. As palavras de Jesus são “palavras de vida” porque brotaram de uma prática constante do amor ao próximo.
Os discípulos de Jesus são chamados a fazer o mesmo. Por isso, após um tempo de escuta e aprendizagem, eles foram enviados para colocar em prática tudo que aprenderam com Jesus. Além da evangelização, destaca-se nas palavras de Jesus (domingo passado), a preocupação pelas necessidades das pessoas (doentes e endemoniados). O discípulo enviado deve ter consciência que é instrumento de uma graça que deve operar nele e através dele. Marcos nos relata o momento quando os apóstolos retornam da missão e contam tudo que fizeram. Mesmo cercados de tantos limites e dificuldades, eles conseguiram colocar em prática o que foi pedido por Jesus.
Após contarem tudo que fizeram, Jesus nota o cansaço de todos. Cristo, Bom Pastor, percebe que precisa cuidar daqueles que foram enviados como pastores no meio do povo. Jesus era capaz de suportar um trabalho intenso, mas não os seus discípulos: estavam cansados. Ele lhes faz um convite de se colocaram à parte, pois não tinham nem tempo de se alimentar. Jesus constantemente enfrentava este dilema de não ter tempo para si, mas somente tempo para as pessoas. O Mestre não está tanto preocupado com os “frutos” da missão, mas com cada missionário, seu bem-estar, por isso, propõe um tempo de repouso.
O convite de Jesus para que todos se retirassem para descansar, também foi um aprendizado para os apóstolos. Era muito importante que eles aprendessem a dosar suas atividades com momentos de descanso. Ninguém deve agir fazendo tudo como se tudo dependesse somente dele; é fundamental equilibrar as atividades para que cada um possa fazer tudo sempre e com boa qualidade.
Jesus convida os apóstolos para uma pausa e repouso para que pudessem trabalhar na messe do Senhor sempre e não somente por um tempo. É o perigo do excesso de atividade (ativismo), pois cansados os pastores muitas vezes passam a maltratar o próprio rebanho.
São Marcos relata que todos partiram em uma barca. O pequeno repouso proposto por Jesus foi das atividades e missão, mas não de sua convivência e presença. O melhor meio de se “reabastecer” de novas energias é a convivência à parte, mas com Jesus. Mas, ao chegarem do outro lado do lago, uma multidão de diversos lugares já estava lá esperando a todos. Jesus muda seus planos de estar um pouco à parte com seus apóstolos, mas não pede a eles para abandonar o pequeno repouso. Jesus, Bom Pastor, procura cuidar daqueles que Ele mesmo estava preparando para ocuparem a missão de pastor neste mundo: seus apóstolos. Ele sabia que precisava zelar deles, pois eles deveriam ser instrumento e canal da graça para muitas pessoas.
Ao desembarcarem do outro lado do lado, Jesus novamente se mostra preocupado com aquela multidão que vê como “ovelhas sem pastor”. Marcos diz que Jesus “teve compaixão” uma marca fundamental em Cristo. É algo que nasce do mais profundo do Seu interior e O move. Ele se encontrava dividido entre o cansaço dos amigos e a desorientação da multidão e, assim, se põe a ensinar e oferece a todos o que Ele tem de melhor.
Seja em relação aos apóstolos como à multidão, o centro de tudo são as pessoas e as suas necessidades. Mas, mais do que coisas materiais e físicas, Jesus lhes oferece o seu ensinamento e a sua presença como Mestre. Jesus ensina os apóstolos o sentido profundo da “compaixão”: mover-se a partir do amor e oferecer o melhor de si mesmo.
Na primeira leitura, temos as palavras de Deus contra os falsos pastores e mestres que estavam mais preocupados em explorar o povo de Deus. São falsos pastores interessados somente em se apropriar e extorquir o que desejam. Não se preocupam com as ovelhas, mas somente do lucro que podem obter do rebanho, por isso, não se importam que os mais simples e os mais humildes se percam e se extraviem. Anunciam prodígios como se tudo dependesse deles e convencem as pessoas a pagarem por aquilo que Deus dá gratuitamente.
O discípulo que Jesus deseja é aquele que se dedica e faz tudo segundo a graça de Deus, pois tudo nos foi dado gratuitamente por parte de Deus que não nos pediu nada em troca. Onde estivermos – conforme a segunda leitura de hoje – somos convidados a oferecer gratuitamente a graça de Deus, como Jesus fez e ensinou os discípulos a fazerem. Assim, se a missão está pesada e desgastante, se retirar por um tempo para se reabastecer com mais graça de Deus para continuar doando-se sem limites ao serviço do povo de Deus.
Que o Senhor nos ensine o sentido profundo da compaixão e nos coloquemos a serviço daqueles que buscam o próprio Cristo Jesus sendo sempre um canal de ligação através de nosso amor de discípulos.