#Reflexão: 17º domingo do Tempo Comum (24 de julho)

21 de julho de 2022

A Igreja celebra, no dia 24, o 17º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Gn 18,20-32

Salmo: 137(138),1-2a.2bc-3.6-7ab.7c-8 (R. 3a)
2ª Leitura: Cl 2,12-14
Evangelho: Lc 11,1-13

Acesse aqui as leituras.

JESUS ENSINA O PAI NOSSO

            Sabemos que a oração é um dos momentos mais especiais na vida daquele que acredita ter fé. Rezar é estabelecer um contato pessoal e íntimo com Deus. Jesus ensina aos seus discípulos não uma “fórmula” de oração com poderes, mas princípios fundamentais que recordamos quando repetimos a bela oração do Pai Nosso. Nestas palavras, estão condensados o verdadeiro retrato de Deus e também o nosso rosto de filhos.

Na primeira leitura, a história de Abraão nos apresenta o que significa rezar: é falar com Deus em um diálogo pessoal (tu com tu), franco, sincero e respeitoso. Abraão intercede por duas cidades completamente corrompidas pelo pecado. Deus estava já determinado abandonar aquela cidade ao seu próprio destino e resolve compartilhar isto com Abraão. A passagem bíblica descreve Abraão como uma pessoa sensível e preocupada pelas pessoas das duas cidades. Ele sabia que em uma delas (Sodoma), habitava seu sobrinho Lot e, assim procura “negociar” com Deus a salvação dos habitantes da cidade, a partir de alguns poucos justos.

Abraão é descrito como alguém mais sensato e misericordioso em relação a Deus. Ele procura todos os meios para salvar aquelas pessoas; Deus é mostrado como um juiz severo, vingativo e frio, determinado em acabar com as cidades. Este era o pensamento e a forma que Deus era visto no AT: pune os pecadores e compensa os justos. Abraão procura corrigir Deus em relação a sua ação e vontade, mostrando que o princípio “todos devem pagar pelo erro de alguns” não era conveniente a um Deus que era chamado de justo e santo. A intercessão de Abraão em parte tem seu fruto, pois pelo menos conseguiu tempo para que os poucos justos saíssem da cidade.

            Jesus é a plena revelação de Deus Pai. Nele não há ódio, vingança ou vontade de punir pecadores, mas um Deus da misericórdia, pronto a ajudar em tudo, como qualquer pai faz de tudo por um filho. Jesus, assim, corrigi a imagem de Deus, revelando que nosso Deus é diferente de nós.

No Evangelho deste domingo, Jesus procura ensinar seus discípulos não somente como rezar, mas como nosso Deus se apresenta quando rezamos. Tudo tem início depois de um longo momento de oração. Os apóstolos e Jesus conheciam as preces costumeiras e diárias que todo bom judeu deveria fazer, mas Jesus fazia muito mais: rezava longe das pessoas, sua oração pessoal e íntima se estendia por horas. Mas, o interessante é que Nosso Senhor somente ensina seus discípulos sobre a oração quando eles pediram. Os discípulos se interessam após assistirem as tantas vezes em que Jesus se retirava para rezar sozinho.

Eles esperam Jesus retornar de mais um momento de profunda oração. Pedem que Jesus fizesse o mesmo que fez João Batista. Nós não sabemos como João e os seus discípulos rezavam, mas os apóstolos queriam que Jesus criasse e ensinasse um modo exclusivo e único de oração que passasse a ser algo que identificasse e destacasse os discípulos de Jesus, dos outros grupos religiosos. Jesus faz muito mais do que isto. Mais do que uma “fórmula mágica” de oração, o Pai Nosso é um compromisso de vida. Não compromete Deus com quem a invoca, mas sim, quem reza é que se compromete com uma forma de vida junto a Deus.

Lucas inicia com um simples: “Pai”, não há o pronome “nosso” [modelo que rezamos de Mateus]. Quem reza é convidado a se apresenta diante de Deus não como servo, escravo, estrangeiro ou desconhecido, mas como filho. Este caráter fundamental condiciona toda a oração: a relação entre os dois lados (quem reza e Deus) se estabelece na forma mais profunda de relação que possa existir entre duas pessoas: de Pai/mãe e filho/filha. Como temos que aprofundar ainda em nossas orações, pois ainda se trata Deus como um juiz, como um patrão e não como pai bondoso!

Na oração reconhecemos não somente nossa proximidade e profunda relação que Deus tem conosco, mas também nos comprometemos em uma relação de filiação profunda. Como qualquer filho, zelamos pela nossa relação com nosso pai a partir do seu nome. O nome traz um resumo da pessoa. Quando não se tem consideração por uma pessoa, o desprezo já se inicia pelo mau uso do nome. Porque sabemos quem é Deus e o que Ele significa em nossa vida, a partir do seu nome, nossa relação já deve ser especial.

A oração continua com um projeto de Deus para humanidade: Reinar sobre todos. Muitos são os reinos que já se impuseram na história e outros procuram dominar a todos, mas nenhum é o Reino de Deus que Jesus procurou incessantemente ensinar. Reino do perdão, do amor, da misericórdia, da partilha, da pessoa com centro de tudo. Este é o Reino de Deus que pedimos na oração. Não o meu reino ou de qualquer ideologia, mas de Deus. Assim, pedimos que este Reino aconteça neste mundo, cujo dono não é um rei, mas um Pai. Com este desejo do Reino, podemos também pedir por nossas necessidades fundamentais.

O início da oração é um convite de intimidade profunda e pessoal entre eu e Deus, mas os pedidos fundamentais são feitos como comunidade. Não se pede para cada pessoa, mas para todos, pois esta é uma das características do Reino de Deus cuja relação é pessoal com Deus, mas a vivência é comunitária e solidária.

            “Pão” é um alimento comum a todos: está na mesa dos ricos e dos pobres. Representa tudo aquilo que é fundamental e necessário para o nosso bem. Pede-se não a abundância ou em excesso, pois certamente faltará para outros, mas o pão (o necessário) para hoje; amanhã renovamos nossa confiança e nosso pedido por todos. Pedir o necessário para todos é algo que Jesus sempre nos ensinou.

Outro pedido fundamental é em relação ao perdão. Comprometemos-nos a perdoar o próximo da mesma forma que, sem condições, recebemos o perdão de Deus. Como Pai, Deus quer todo nosso bem e nos perdoa sempre, mas a graça da remissão das faltas está completamente condicionada ao nosso perdão ao próximo. E como é difícil perdoar como Jesus nos perdoou, mas exatamente porque aprendemos de Cristo que nos perdoa sem condições, devemos fazer o mesmo com qualquer outra pessoa. No Reino de Deus não pode haver ódio e falta de perdão, pois senão não é o Reino que Jesus nos ensinou.

Por fim, pedidos forças para que não sejamos vencidos durante a tentação. Mais um pedido comunitário, como comunidade de irmãos e igreja de Cristo. Sozinhos somos mais frágeis diante do mal que procura nos arrastar para o caminho da tentação, assim, pedimos que não sejamos introduzidos neste caminho, mas que permaneçamos dentro do Reino de Deus e de Jesus.

Jesus ainda aprofunda o tema sobre a relação especial que acontece entre Deus e quem reza. Com uma parábola, Jesus explica que não há obstáculo, desculpa ou condicionamento entre a pessoa que pede em oração e Deus que sempre atende, abre e concede. Entre nós, damos desculpa até para ajudar os outros quando eles precisam do necessário (como o “pão” na parábola) o até mesmo quem é precioso para nós (um filho, um parente, os pais). Jesus nos esclarece que através da oração feita de forma sincera e em sintonia com o projeto de Deus, o acesso com Deus é direito e Ele sempre nos atende, mas naquilo que realmente precisamos. Ele nos conhece e está pronto a nos ajudar naquilo que é fundamental, com um pai sabe o que é melhor para o seu filho. E o maior tesouro que Deus nosso Pai pode nos conceder é o seu próprio amor que é o Espírito Santo.

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