#Reflexão: 1º domingo da Quaresma (18 de fevereiro)

14 de fevereiro de 2024

A Igreja celebra o 1º Domingo da Quaresma, neste domingo (18). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Gn 9,8-15
Salmo: 24(25),4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R. cf. 10)
2ª Leitura: 1Pd 3,18-22
Evangelho: Mc 1,12-15

Acesse aqui as leituras.

Encontrar-se com Deus e acolher o seu Reino

Depois da celebração da Quarta-feira de Cinza, entramos no período de recolhimento e oração que caracteriza fortemente a Quaresma. Nestes quarenta dias que antecedem a Páscoa do Senhor, cada fiel é chamado a rever e a aprofundar sua relação: com Deus (oração), com o próximo (esmola) e consigo mesmo (penitência), não é um tempo triste e muito menos de medo, mas de retiro espiritual em uma experiência mais profunda de comunhão com o próprio Senhor Jesus.

Neste domingo, seguindo o esquema proposto pelo evangelista Marcos, temos dois versículos onde Jesus faz a sua “quaresma”, isto é, quarenta dias de oração no deserto. Tudo é bem resumido, mas nem por isso, superficial em seu conteúdo e profundidade. Os três evangelistas contam este fato que aconteceu logo após o Batismo de Jesus, mas Mateus e Lucas compartilham com mais detalhes este tempo de recolhimento em que Jesus sofreu uma forte tentação.

O evangelista São Marcos nos diz que Jesus foi “impelido” pelo Espírito Santo ao deserto. Tudo acontece por iniciativa divina e segundo a vontade de Deus. O verbo “impelido” (conduzido) é, normalmente, usado também em situações onde o demônio é expulso de uma pessoa; é um verbo que demonstra a força de quem comanda com poder e de outro lado, a obediência. Jesus recebe uma “ordem” por parte do Espírito Santo (ir ao deserto) e Ele obedece sem questionar.

Era importantíssimo para nossa salvação que isto fosse feito por Jesus: obedecer e ir ao deserto. Nosso Senhor quis viver com intensidade e profundidade toda experiência humana; Ele não encenou e nem viveu uma vida fingindo situações humanas como: dor, sofrimento, desprezo e, por fim, a morte. Viveu tudo com profundidade e grandeza como é próprio de um Deus que é Amor.

Antes de iniciar definitivamente sua missão era necessário um profundo momento de oração com Deus Seu Pai. Jesus em seu “lado divino”, tudo estava pronto, mas era necessário que a “realidade humana” presente em Jesus também passasse pela experiência da total entrega a Deus. Era preciso que todo o ser de Jesus estivesse afinado com Deus, em sintonia plena com o Pai e a sua vontade.

Segundo Mateus e Lucas, Satanás esperou o momento oportuno para se aproximar. Não foi no início do retiro de Jesus quando Ele estava ainda com as forças em ordem e sem o cansaço de dias de jejum no deserto, mas quando a natureza humana começou a demonstrar sua fraqueza: quando sentiu fome.

“Quarenta dias” está ligado aos “quarenta anos” que na tradição bíblica representa uma geração, como o povo que ficou no deserto por quarenta anos e uma nova geração é que entrou na terra prometida. Na 1ª leitura, no livro do Gênesis, recorda o momento após os 40 dias de chuva e o novo pacto de Deus com a humanidade. Este tempo (quarenta) em dias  como em anos passou a representar o tempo de um vida (anos) ou o extremo das forças humanas (dias).

Jesus ao final de quarenta dias em jejum e penitência sentiu fortemente sua natureza humana se manifestar. Foi neste momento que Satanás se aproximou e propôs “soluções” para as necessidades humanas de Jesus.

Recordamos, o que Mateus e Lucas acrescentam sobre este momento de Jesus no deserto. As tentações de Jesus são também nossas tentações e atingem todas as nossas relações quotidianas. “Tentação” é sempre um desafio que se apresenta entre escolher entre duas paixões: seguir a Deus ou seguir nossos impulsos e vontades. A primeira tentação diz respeito à relação conosco mesmos e com as coisas (a ilusão de que os bens materiais são suficientes para preencher a nossa vida). A segunda é um desafio aberto em relação ao nosso relacionamento com Deus (um Deus mágico que estaria ao nosso serviço). Por fim, a terceira diz respeito à relação com os outros (a fome de poder e da fama).

Jesus esteve em todos os extremos da realidade humana como: perseguições, abandono, dor, sofrimentos e ao final a morte, mas também nesta realidade extrema onde a natureza humana e os seus apetites se manifestam; em todos estes momentos que compõem a nossa realidade e natureza humana, Jesus nos ensinou o caminho para vencer o mal e os desafios, e continuar no caminho de Deus. No deserto e diante das tentações, Jesus vence o mal jamais se distanciando de Deus. Ele domina a “fera” das paixões humanas e tentações (“…e vivia entre os animais selvagens”), e não se deixar dominar por sua vontade, mas era servidos pelos anjos.

Era necessário que Jesus nos mostrasse que as nossas paixões e necessidades humanas que trazemos em nossa carne e corpo jamais devem nos dominar e ditar o que temos que fazer. Com o exemplo de Jesus descobrimos que são esses os principais caminhos por onde a tentação (Satanás) procura agir, e Nosso Senhor nos deixou a resposta e o meio para vencê-la.

O deserto também é significativo para o povo de Israel, pois nele, todos experimentaram a presença de Deus. No entanto, o povo de Deus quase sempre encarou o deserto como um peso e as tentações como uma prova que eles não conseguiram superar. O deserto para Jesus não representava a ausência de quase tudo, mas sim o máximo da presença de Deus; não foi encarado como um local onde faltava de tudo, mas a chance de experimentar que com Deus tudo tinha e tem significado e importância.

Precisamos de “novos desertos” em nosso tempo tão cheio de tantas coisas e preocupações. Mais do que nunca, precisamos criar espaço de abandono diante de Deus e para tanto, reservar momentos especiais de nosso tempo e de nossas horas. Jamais regalar a Deus, o “resto de nossos minutos” ao final de nosso dia; ou um tempo “de vez enquanto” aos domingos para ir à missa.

Jesus se retira por quarenta dias para aprofundar sua comunhão com Deus, o cristão de hoje precisa rever suas prioridades, se deixar conduzir pelo Espírito de Deus (não pelas paixões do mundo) para encontros profundos e intensos com Deus.

Nosso Deus caminha conosco, faz aliança (1a leitura) e renova sua esperança com toda a humanidade sempre, mesmo diante de nossos erros e pecados: prefere sempre acreditar no bem que existe em nós e não em nossos pecados. Por isso, é fundamental que saibamos sentir seu chamado e apelo neste tempo da Quaresma e sempre em nossa vida.

No início de sua missão, Jesus quis entrar em cheio no jogo contra o mal, na batalha que se vence com Deus no campo das paixões e dos desejos. Nosso Senhor preferiu permanecer sob a condução do Espírito Santo e não aceitou ser guiado pelas paixões e pelas tentações. Jesus nos dá o exemplo que a vontade maior tem que ser aquela que Deus nos mostra, pois é sempre a maior e a melhor para cada um de nós.

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