#Reflexão: 20º domingo do Tempo Comum (14 de agosto)

11 de agosto de 2022

A Igreja celebra, no dia 14, o 20º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Jr 38,4-6.8-10

Salmo: 39(40),2.3.4.18 (R. 14b)
2ª Leitura: Hb 12,1-4
Evangelho: Lc 12,49-53

Acesse aqui as leituras.

TESTEMUNHAR COM O FOGO DO AMOR DE DEUS

            Seguir a vontade de Deus não é uma realidade fácil e quase sempre não nos traz tranquilidade e paz, mas desafios que implicam renúncias. Anunciar a vontade de Deus incomoda àqueles que se opõe a Ele e que vivem na injustiça.

O profeta Jeremias experimentou muito bem este desafio. Procurando ser fiel à vontade de Deus, por isso, Jeremias acabou provocando a ira daqueles que tinham outros projetos para o povo de Deus. O país estava próximo de enfrentar uma grande invasão estrangeira e os funcionários do rei imaginavam que o melhor era se aliar a um grande país e se submeter a ele. O profeta procura alertar a todos sobre os riscos de tal pacto bem como procura indicar o melhor caminho para todos. Como porta-voz de Deus, Jeremias procura ser coerente com aquilo que Deus lhe falava e não conforme a vontade daqueles que sugeriam estranhas alianças e a guerra. Ser coerente a Deus, como o profeta, quase sempre implica sérios riscos e uma “guerra espiritual”. Os opositores do profeta vão além: procuram eliminá-lo.

Argumentam os funcionários do rei que Jeremias “não procura a felicidade, mas a desgraça para o povo”. A história se repete até os dias atuais. Muitos usam a “vontade popular” em uma “falsa maioria” para conseguir seus objetivos (“as pessoas dizem isto…”, “a maioria quer isto…”), mas na realidade são somente aquelas pessoas é que pensam e desejam algo para o povo realizar.  Jeremias convida o povo a permanecer fiel a Deus e a sua aliança. Como acontece até hoje, os inimigos dos projetos de Deus procuram eliminar aqueles que proclamam com palavras e vida a vontade de Deus. Jeremias sofreu muito e colocou em risco sua vida para cumprir sua missão. Mas, nada e ninguém impediram que ele – com decisão e coragem – anunciasse a Palavra de Deus para o seu povo.

No Evangelho deste domingo encontramos palavras e expressões que, se tomadas ao pé da letra, poderiam justificar qualquer tipo de violência em nome de Jesus. Mas, não é assim! Basta olhar a vida de Jesus para perceber que o sentido daquilo que disse é, certamente, outro. De fato, aqui temos um exemplo do risco de pegar uma leitura fora de contexto e interpretá-la no sentido literal, mas sem levar em consideração todo Evangelho e a vida de Cristo.

Jesus inicia falando que Ele veio “traz fogo a terra” e expressa seu desejo que tal fogo já tivesse sido acesso. “Fogo” é algo que expressa força e energia; ilumina, mas também queima; produz vida (usado para alimentação, iluminar nossas casas e ruas), mas também pode matar.  Ser discípulo de Cristo é incendiar o mundo com a mesma força, com a mesma vida e com a mesma determinação que o próprio Jesus viveu sua missão. Nosso Senhor expressa o seu desejo que este mesmo fogo que queimava em seu coração cheio de misericórdia já estivesse incendiando a vida das pessoas e do mundo. O Espírito Santo que foi derramado primeiro aos apóstolos e a todos nós no dia do Batismo é simbolizado como “línguas de fogo”. Mas, o próprio Jesus reconhece que tudo somente poderá acontecer após o seu Batismo, isto é, sua passagem da morte para a ressurreição.

As palavras seguintes são mais desconcertantes: “Não vim trazer paz, mas divisão”. Entendemos a sentido destas palavras quando olhamos aquilo que Jesus já tinha dito aos seus discípulos. Por duas vezes, Nosso Senhor convida quem quiser segui-Lo de “tomar sua cruz” (Lc 9,23; 14,27). O caminho que Jesus estava percorrendo e convida seus discípulos a percorrer também, não é de tranquilidade, isento de problemas e desafios, pelo contrário, é um caminho com cruz.

A fé em Cristo e a vida cristã não significam viver em mundo sem desafios e exigências. O cristão é chamado a uma “guerra espiritual” constante em sua vida, onde as batalhas são contra o mal e seus projetos. Olhando a vida de Jesus percebemos a constante batalha que Ele empreendeu para que o Reino de Deus tivesse suas raízes bem plantadas neste mundo. Uma guerra não feita de armas e morte de pessoas, mas com testemunho e muito amor ao próximo (como nos lembra a 2ª leitura). Segundo os evangelistas, Jesus não tinha tempo nem para repousar e nem para se alimentar, pois a “guerra” era exigente e constante. Ser cristão é encontrar-se na mesma estrada: promovendo batalhas com amor, usando as armas e a bandeira da paz.

Jeremias na primeira leitura é um exemplo de alguém que combate uma “guerra espiritual” contra aqueles que queriam uma guerra verdadeira. Estar do lado de Deus quase sempre provoca inimizades e forte oposição. Os projetos humanos nem sempre coincidem com aqueles expressos por Deus, por isto, os profetas do passado e do presente são perseguidos, sofrem todo tipo de calúnias e muitos são simplesmente eliminados.

No Evangelho, Jesus termina afirmando que muitos que escolherem serem discípulos Dele não terão a paz que o mundo promete, ao contrário encontrarão divisões em suas famílias. Hoje em dia, ser cristão não implica muitas mudanças e renúncias para uma pessoa, mas naquele tempo tudo era diferente. Um judeu que abandonasse a fé de seus pais era considerado um pagão por isto era até cancelado como herdeiro. Os primeiros cristãos vivenciaram plenamente a situação narrada por Jesus com divisões dentro de suas próprias casas: Pais se tornaram inimigos de seus filhos somente pelo fato de terem abraçado a fé cristã. Hoje as divisões ainda acontecem por causa da fé e até mesmo dentro de lares cristãos. Filhos que resolvem seguir sua vocação são ainda hoje desprezados ou criticados por seus pais; pais que procuram ensinar os valores cristãos para seus filhos são criticados e menosprezados etc.

Mas, o autor da carta aos Hebreus nos anima em nossa caminhada lembrando que são muitos que procuram testemunhar a fé. Somos sempre convidados a participar de uma corrida cujo ponto de partida e a chegada (como em uma olimpíada) é sempre Jesus que nos dá a verdadeira fé. Jesus em sua vida nos deixou o exemplo de uma vida inteiramente dedicada a uma guerra diferente onde as batalhas acontecem com as armas do amor, do perdão e da misericórdia. Este é o fogo que o mundo precisa ainda experimentar que “queima” tudo que destrói a humanidade, mas também “aquece” os corações de todos.

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