#Reflexão: 21º domingo do Tempo Comum (21 de agosto)
A Igreja celebra, no dia 21, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ap 11,19a;12,1-6a.10ab
Salmo: 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b)
2ª Leitura: 1Cor 15,20-27a
Evangelho: Lc 1,39-56
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
A celebração da assunção de Maria aos céus que festejamos neste final de semana trata de um ponto fundamental de nossa fé cristã: a ressurreição dos mortos. Crença que já encontramos nos últimos livros do AT e depois que ganha sua realização e promessa para toda a humanidade com a ressurreição de Jesus Cristo. Esse é o coração da nossa fé cristã.
Segundo uma tradição da Igreja que tem sua raiz entre os primeiros cristãos, Maria que desde sua origem tem uma história particularmente especial no projeto de salvação de seu filho, Jesus, ela também teria sido agraciada com o dom especial conquistado por seu filho com a sua ressurreição. São Paulo, de fato, afirma que “Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram” (2ª leitura), Nosso Senhor foi o primeiro a vencer a morte e ganhar o céu com sua ressurreição, o primeiro (“primícias”) e abriu caminho para os filhos e filhas de Deus que um dia receberão de um modo semelhante o mesmo dom com a ressurreição da carne. Cristo inaugurou e deixou esse dom a todos que forem dignos e que seguirem os seus passos. Assim, sua mãe Maria teria sido a primeira das criaturas a receber este dom de Deus.
A tradição e os padres da Igreja testemunham que Maria em seus últimos momentos de vida, o seu corpo não teria conhecido a corrupção da carne destino esse comum a qualquer outra pessoa, mas a sua “morte” foi considerado um momento de sono. Esse fato foi preservado e transmitido aos outros cristãos e passou a ser conhecido com a festa da “Dormição de Maria”. No século VII, essa festa de Maria foi assumida também pela Igreja do Ocidente pelo Papa Sérgio I e no século seguinte passou a ser celebrada como Assunção de Maria como nós conhecemos hoje.
Sabemos que Maria é especial exatamente porque dessa forma a Palavra de Deus atesta já desde os primeiros momentos quando a jovem moça da Galileia foi convidada para participar da história de salvação como Mãe do Salvador. O anjo Gabriel, mensageiro e porta-voz de Deus, chama Maria de “Cheia de Graça” (Lc 1,28), isso antes de gerar Jesus como salvador. De alguma forma, Maria já era especial, antes de ser Mãe de Jesus, por isso, o enviado de Deus, Gabriel, cumprimenta Maria da forma como ela é reconhecida no céu como aquela que é “Cheia de graça”, plena de Deus. De fato, Maria não foi somente uma mulher que Deus escolheu para dar a luz ao menino Jesus, mas alguém que foi preparada para participar plenamente da ação redentora de seu filho Jesus, mesmo antes dela ver tudo acontecer, ela acreditou plenamente. Não é uma pessoa qualquer nesta história, Maria participa plenamente neste projeto de Salvação como aquela que é “Cheia de Graça”.
Como uma Nova Eva, Maria gera a nova vida, promessa e realização da salvação deseja por Deus. Mãe não é mãe somente no parto, mas por toda a vida sua e do seu filho. Ela, logo após o anúncio do anjo, se coloca a caminho para ajudar sua parenta Isabel que estava grávida de seis meses de João Batista (Lc 1,36). Naquele encontro entre duas mães agraciadas com dons especiais, mais uma vez vemos a beleza de Maria resplandecer através das palavras de Isabel.
Duas mulheres portadoras de promessas especiais. Isabel já na velhice quando não havia mais esperança, recebe um dom de gerar um filho, graça de Deus para ela e Zacarias que se transformará em graça para o povo de Deus, pois terá a missão de anunciar e apontar o Messias esperado. Maria ainda antes de se casar, é agraciada com um dom de Deus de gerar o Filho de Deus.
Em qualquer outra situação onde duas pessoas se encontram, é a pessoa mais velha que recebe todas as atenções, o que não aconteceu naquele encontro entre Maria e Isabel. A mais jovem cumprimenta sua parenta mais velha quando entra em sua casa, mas tão logo Isabel ouviu a voz de Maria, ela ficou cheia do Espírito Santo. Maria cheia de graça, distribui graça a todos; traz não somente em seu coração e no seu ventre o Messias, mas também em sua voz. O evangelista afirma que João Batista que estava ainda no ventre de Isabel deu sinais (“estremeceu”) para também indicar a sua mãe que tudo era verdade, de fato, Maria já trazia em seu ventre o Salvador. Um bonito sinal para todos nós cristãos: uma criança de seis meses (João Batista) mesmo ainda no ventre de sua mãe, participa da salvação pois é uma pessoa já conhecida por Deus e com uma missão especial na salvação.
Tinha se passado um pouco tempo somente entre o anúncio do Anjo Gabriel e o encontro com Isabel, talvez alguns dias. No ventre de Isabel, João Batista ainda em gestação se manifesta para saudar juntamente com sua mãe Isabel, Maria que já trazia em seu ventre o Menino Jesus com alguns dias de vida. A vida não se inicia quando nos queremos, mas desde o início de sua concepção.
Isabel e o bebê João Batista ainda no ventre de sua mãe reconhecem as duas pessoas especiais e unidas quase que em um único destino e missão. Isabel dirige suas primeiras palavras de ação de graças a Deus reconhecendo que Maria é a mais sublime entre as mulheres (“bendita”), pois da mesma forma, é bendito o que ela trazia em seu ventre. O adjetivo aplicado a Maria “bendita” é o mesmo aplicado a Jesus “bendito”. A graça de Deus em Jesus está presente também em sua mãe Maria, por isso, ambos são participantes da mesma graça de Deus, uma como criatura especial (“mais bendita entre as mulheres”), outro como Salvador e Redentor da Humanidade. Maria ainda tem mais um reconhecimento especial de Isabel (Lc 1,43): “de onde me vem esta honra da Mãe do meu Senhor?” Maria mesmo com poucos dias após ter recebido o anúncio do anjo Gabriel, ela já é considerada e reconhecida como Mãe de Deus. Isabel reconhece sua parenta Maria em uma realidade inseparável que todas as mães possuem em relação aos seus filhos: é mãe do Salvador. E Maria recebe mais um título que se soma aos outros: O primeiro foi “Cheia de Graça”, depois “Bendita” (juntamente com seu filho) e agora é chamada de “bem-aventura”, mas tudo isso porque ela, mesmo sem ter qualquer prova ou segurança, acreditou plena e totalmente em Deus, somente uma grande fé em Deus pode gerar grandes coisa neste mundo.
Neste ano do Evangelho de Lucas, temos uma passagem da vida pública de Jesus, quando Ele já estava atuando plenamente em sua missão. Uma pessoa vendo a atuação de Jesus, louva a Deus por sua mãe. A graça que todos estavam colhendo diretamente do Mestre Jesus, se deve ao zelo e a dedicação da sua mãe. Jesus lembra que o exemplo maior que vem de sua mãe não foi somente de ter dado à luz a Ele, Jesus (algo exclusivo de Maria), mas de ter acreditado na Palavra de Deus e ter colocado tudo em prática. Ela é bendita porque é exemplo do discípulo fiel que crê e vive a Palavra de Deus.
Assim, a assunção de Maria aos céus não seria de tudo estranho e nem impossível da parte de Deus, pois realmente Maria não foi gerada com mais uma criatura neste mundo, mas para ser Mãe de Deus e por isso, o destino final de sua vida nada mais seria do que algo em sintonia com toda a sua vida com alguém especial aos olhos de Deus. O Criador não joga fora ou despreza aquilo que Ele próprio criou e preparou para ser a Mãe do Salvador. O final da vida de Maria estava completamente vinculado ao destino final do seu próprio Filho Jesus e não como mais uma simples criatura neste mundo.
Belas palavras de São João Damasceno (†749) sobre Maria e esses momentos finais de sua vida: “Convinha que aquela que no parto tinha preservado sua virgindade intacta, convinha que fosse preservada intacta da corrupção também seu corpo após a morte. Convinha que aquela que tinha levado o Criador feito criança no ventre, vivesse também na morada divina. Convinha que a Noiva de Deus entrasse na Casa celeste. Convinha que aquela que tinha visto seu filho na cruz, recebendo no corpo a dor que ela tinha sido poupada no parto, O contemplasse sentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse aquilo que lhe era devido em mérito de seu Filho e que fosse honrada por todas as criaturas como Mãe e Serva de Deus”.