#Reflexão: 22º domingo do Tempo Comum (28 de agosto)

27 de agosto de 2022

A Igreja celebra, no dia 28, o 22º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Eclo 3,19-21.30-31

Salmo: 67(68),4-5ac.6-7ab.10-11 (R. cf. 11b)
2ª Leitura: Hb 12,18-19.22-24a
Evangelho: Lc 14,1.7-14

Acesse aqui as leituras.

HUMILDADE E EXALTAÇÃO

            Jesus apreciava muito estar à mesa com as pessoas. Em muitas parábolas e ensinamentos, o “banquete” é usado como símbolo da alegria e igualdade entre as pessoas, mas principalmente como realidade entre Deus e seus filhos. Segundo Jesus, a realidade futura que nos aguarda é como um grande banquete onde Deus Pai, Ele próprio servirá os eleitos. Como hoje, também no tempo de Jesus, estar à mesa é um momento de intimidade e amizade entre as pessoas que se conhecem e nutrem grande estima entre si. Neste domingo, temos mais uma cena que acontece em torno de uma refeição, mas ganha um significado profundo com a presença de Jesus.

            Lucas nos informa que tudo aconteceu em um dia de sábado e em uma casa de um importante fariseu. O sábado é o dia sagrado para os judeus. Eles não faziam nada depois das 18 horas de sexta-feira até às 18 horas do sábado. Tudo que servia para as refeições deveria ser preparado na véspera e consumido no sábado como se encontrava.

O chefe dos fariseus, certamente, convidou Jesus (e outras pessoas) para “comer algo” (o original grego diz: “comer pão”) após a oração na sinagoga, isto ainda durante a observância do sábado. O evangelista nos diz que todos “observavam Jesus”, isto é, estavam atentos para captar algo dito ou feito por Jesus contra os costumes deles. Não se encontra no texto deste domingo, mas Lucas informa que foi “colocado diante de Jesus” um doente (um hidrópico). O pobre homem provavelmente foi convidado e lhe foi assinalado um lugar bem de frente a Jesus para que Ele operasse uma cura e assim, os fariseus poderiam acusá-Lo, mais uma vez, de não observar a tradição judaica. Jesus faz uma pergunta a todos (“É lícito curar [em dia] de Sábado?”), mas ninguém responde. Em seguida, Jesus cura a pessoa doente.

Todos estavam observando Jesus, mas Ele também estava atento ao modo que todos se comportavam. Vendo que muitos procuravam o melhor lugar na mesa de refeição, Nosso Senhor resolve ensinar a todos como eles deveriam se comportar segundo a vontade de Deus. No centro da mesa estava o judeu chefe dos fariseus e certamente Jesus, todos queriam estar o mais próximo do centro da mesa, mas cada um se julgava mais digno que o outro para ocupar os melhores lugares, exatamente isto que chamou atenção de Cristo.

            Na parábola que Jesus conta, Ele procura mostrar que no Reino de Deus, as pessoas devem se comportar de outro modo. A pessoa que se julga digna pode passar vergonha diante do dono do banquete (podemos imaginar que aqui seria Deus). Jesus aconselha esperar ser chamado e não se achar o melhor e o mais digno. Na parábola, aquele que passa vergonha é tratado como um estranho e o senhor da festa somente determina que dê o lugar para outro mais digno. Já no segundo caso, a pessoa é tratada como “amigo”. Quem é simples e humilde é conhecido por Deus como amigo.

Alguém que ocupa logo o primeiro lugar num banquete não pode mais ser convidado pelo anfitrião para subir a um lugar melhor; só pode ser rebaixado, se aparecer alguma pessoa mais importante. É melhor ocupar o último lugar, para poder receber o convite de subir mais. Alguém pode achar que isso é esperteza. Mas o que Jesus quer dizer é que, no Reino de Deus, a gente deve estar numa posição de receptividade (receber convite), não de autossuficiência (se colocar como melhor).

Na 1a leitura, o livro do Eclesiástico aconselha exatamente isto: fazer tudo com humildade e simplicidade diante de Deus para que seja reconhecido como grande e importante. No Evangelho, Jesus diz ainda que é necessário “ocupar o último lugar”. No mundo da época como nos dias atuais, os “últimos” deste mundo são aqueles que não possuem espaço na sociedade, os esquecidos do mundo atual, os pobres, os doentes e os simples.

Jesus sempre teve predileção por estas pessoas e com seu ensinamento e ações procurou mostrar que todos são importantes diante de Deus e a condição social em nada diminui o valor que cada um possui diante de Deus Pai. Assim, o melhor lugar para experimentar a presença de Deus e estar no meio dos últimos e dos mais necessitados, pois a verdadeira experiência de amor se faz através do serviço ao próximo, exatamente, como viveu Jesus.

            Quem se acha grande, segundo a lógica do mundo, é um desconhecido perante Deus. Pode receber exaltação de outras pessoas, mas não de Deus. Estar entre os últimos e servindo a todos, este é caminho percorrido por Jesus e deve ser o mesmo caminho que todos devemos seguir.

Mas, Jesus ainda procura deixar um último conselho a quem O tinha convidado para a refeição. Ao chefe dos fariseus, Jesus aconselha algo ainda mais radical e significativo: ao dar um banquete, ele não deveria convidar aqueles que, com certeza, em outro momento pagariam com um convite semelhante. Segundo Jesus, os convidados deveria ser aqueles que o fariseu mais desprezava: os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos. Exatamente aqueles que eram desprezados pelos zelosos observadores da lei, pois eram pessoas consideradas impuras e amaldiçoadas por Deus (por causa das doenças e da deficiência). Estes doentes e pobres jamais conseguiriam retribuir de algum modo com um banquete ou algo até mais simples. Este é o sentido do convite que Jesus faz ao fariseu: dar o melhor (banquete) àqueles que jamais conseguiriam fazer o mesmo.

Jesus procura alertar aquelas pessoas ensinando que a lógica do mundo não é a mesma que Deus usa. Jesus nos ensina que a simplicidade e a humildade não é “abaixar a cabeça” diante de humilhações sem reagir, mas uma vida de serviço com os últimos em meio aos últimos. Segundo Nosso Senhor, os mais necessitados são aqueles que mais expressam a presença de Deus, por isto, fazer algo para os últimos deste mundo é fazer diretamente a Deus. Os esquecidos deste mundo são o melhor sacramento para nos aproximarmos de Deus, por isto, fazer tudo com amor e caridade conforme Jesus ensinou é ter acesso direto a Deus Pai.

            O Reino de Deus não acontece nas mesas de banquetes ou na falsa generosidade que tem somente o interesse de algum modo receber algo em troca. Jesus não está entre aqueles que se sentem o centro de tudo e querem estar no centro da atenção de todos. Cristo está na periferia da sociedade, entre aqueles que dão espaço para a caridade e a solidariedade; Jesus está com aqueles que aprenderam que o maior valor na vida é servir e servir sem interesse, movido somente pelo sentimento puro e divino do amor, conforme Jesus mesmo nos ensinou.

A refeição armada pelo chefe dos fariseus com intenção somente de colher algo contra Jesus, transformou-se em um profundo ensinamento onde fica clara a maldade humana que até usa do pobre na tentativa de atingir Nosso Senhor. Mas, a bondade prevalece e sempre vence o mal quando fazemos aquilo que Jesus realizou e viveu: uma vida de serviço entre os mais simples e pobres. Vivendo assim, nos preparamos para o grande banquete que nos aguarda junto de Deus onde todos nós estaremos sentados na mesma mesa e com alegria nos alimentando eternamente da presença de Deus, mas para isto, precisamos estar com últimos neste mundo para sermos aqueles que serão chamados a ocupar os melhores lugares no banquete divino do amor.

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