#Reflexão: 22º Domingo do Tempo Comum (3 de setembro)
A Igreja celebra o 22º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (3). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Jr 20,7-9
Salmo: 62(63),2.3-4.5-6.8-9 (R. 2b)
2ª Leitura: Rm 12,1-2
Evangelho: Mt 16,21-27
“NÃO PENSAS COMO DEUS, MAS COMO OS HOMENS!”
Não é fácil descobrir a vontade de Deus e mais difícil ainda em colocá-la em prática. Quase sempre, a vontade de Deus nem sempre é a que buscamos e esperamos. Muitas vezes, implica abandonos e mudanças profundas. Mas, em nenhum caso, a vontade de Deus é algo como um “capricho” do Criador sobre nós; mas, o melhor que nosso Deus e Pai quer para nós.
Jeremias (na 1ª leitura) relata sua experiência de fé. Foi atraído (“seduzido”) por Deus para ser instrumento da revelação para seu povo. E foi enviado para falar não o que as pessoas queriam ouvir, mas sim, a Palavra Deus. Isto trouxe somente transtorno para sua vida. Ele reclama e se lamenta. Sua vida se transformou completamente: gozação de seus amigos; uma vida de lamentos e sofrimentos.
Mas, apesar de tudo, inclusive a tentação em abandonar a missão, Jeremias afirma que dentro dele havia “um fogo devorador” que dava sentido a sua existência. Ao exercer a sua missão, a graça que ele transmitia (a Palavra de Deus) também era um grande bem para ele. Além disso, era bênção para ele e para todos que o escutavam.
São Paulo também alerta para não se deixar seduzir pelas vontades deste mundo. Não se deixar “conformar”, não entrar na “forma” ou modo de pensar deste tempo. Mas, sim transformar o mundo com os valores de Jesus.
Domingo passado, Pedro foi elogiado por Jesus, pois ele tinha percebido (por revelação de Deus) quem era Jesus. Por seu primado na fé, o apóstolo recebeu dons especiais que tocavam os céus: chaves da Igreja; unir na terra e ser unido no céu. Sobre a fé de Pedro, Jesus lança a construção da Sua Igreja e com o apóstolo, Nosso Senhor afirma uma presença permanente e imbatível que nem os infernos iriam derrubar. Mas, neste domingo tudo toma outro rumo.
Após as palavras de Cristo exaltando a fé de Pedro que reconhece seu Mestre como salvador (Messias), em seguida – no texto de hoje – Jesus explica como Ele iria realizar tudo: através do sofrimento, da dor, da humilhação, traição e da morte, mas que Ele iria ressuscitar no terceiro dia. Eles estavam indo para Jerusalém para uma experiência de derrota e destruição.
Pedro, após ser revestido de dons, começa a exercer o seu primado de forma distorcida. Logo após o anúncio da Paixão, o apóstolo pescador “puxa Jesus de lado”, como que querendo mudar sua estrada e afirma categoricamente que Jesus deveria abandonar esse discurso de sofrimento e morte, pois Pedro acreditava que Deus não iria permitir tudo aquilo. Jesus estava errado em suas palavras e Pedro sabia, realmente, quais eram os pensamentos de Deus. Pobre discípulo!
O pescador tinha sido chamado para se colocar como discípulo e vir logo “atrás” do seu Mestre. Aqui, ele se põe à frente, procurando tirar seu Mestre do seu caminho e direção, e ainda: querendo ensinar o que Jesus teria que fazer. O pobre apóstolo ainda acredita que conhecia a vontade e o poder de Deus melhor que Jesus. Pedro queria ser mestre do seu Mestre. Pensava que podia ensinar Jesus em como cumprir sua missão. Ele ousa instruir Jesus em como ser Salvador.
Pedro, que tinha escutado somente palavras de elogio, escuta palavras duras: “Vai para trás de mim, Satanás!” Seu erro não o distancia de Jesus! Domingo passado, Jesus trocou o nome de Simão para Pedro, hoje também renomeia como “Satanás”. Pedro tinha sido colocado como pedra onde Ele iria construir sua Igreja; agora Nosso Senhor chama Pedro de “pedra de tropeço”. Jesus tinha colocado Pedro em ligação com o céu, hoje associa-o a Satanás. O grande erro de Pedro foi de pensar como o mundo pensa: “Teus pensamentos não são os de Deus, mas dos homens”.
A expressão usada por Jesus para repelir Pedro: “Vai… Satanás”, em Mateus, a primeira vez que aparece na boca de Jesus encontra-se no início do Evangelho, contra Satanás que O tenta no deserto. É uma expressão forte, para que Pedro saísse de sua frente, se distanciasse do Mestre com aqueles pensamentos. Jesus usa a mesma estrutura contra Satanás, mas no caso de Pedro, Cristo acrescenta: “Vai, para trás de mim, Satanás”. Este é o lugar do discípulo.
Pedro se espantou quando Jesus se mostrou solidário com todos que sofrem, que são humilhados e morrem injustamente. Pedro não queria um salvador que fosse como nós, igual em nossos sofrimentos, dores e morte. Como tantos ainda hoje, o apóstolo queria um Salvador do poder, da batalha, das vitórias e não da cruz. Alguém até poderia afirmar: “A que serve mais um que sofre como nós e morre como todos nós?”. Mas, foi assim que Jesus quis salvar o mundo.
O susto de Pedro não está somente no conteúdo do anúncio da Paixão, algo que o pescador apóstolo achou um escândalo, pois todos imaginavam um Messias nos moldes de Davi com soldado e guerreiro. Outro aspecto no discurso do Mestre que deixou Pedro preocupado: Jesus ser morto pelas autoridades principais da religião oficial. Seria “tolerado” por Pedro e demais, se Jesus tivesse dito ser morto pelos romanos, como um ato final e heroico de Jesus, mas pelas autoridades religiosas. Por sua vez, Pedro ficou confuso e achou que Jesus estava exagerando ou mesmo confuso nas ideias.
Após repreender Pedro, Jesus exorta e lembra o que todos devem fazer. Tudo inicia com uma situação de extrema liberdade: “Se alguém quiser vir após mim…”. O convite é livre e cada um deve aderir se quiser. Jesus quer ser Mestre de pessoas livres! A condição proposta é vir “depois dele” como discípulo, atrás de seu Mestre e não à frente querendo guiá-Lo. A segunda condição: “Renunciar a si mesmo”. Não é assumir uma vida de sofrimento e dor, negando a si. Não é desfazer de si próprio (o mundo já o faz!), mas de renunciar a si próprio como centro de tudo. Renunciar ter uma vida na qual tudo está voltado para si próprio. Deus e o próximo e suas necessidades é que devem estar no centro. É iluminar o próximo com o amor e doação. Quem olha sempre para si mesmo, jamais vê o horizonte, o outro e Deus. A terceira condição: assumir a cruz e segui-Lo. Jesus não diz “suportar” sua cruz, mas tomá-la (pegar livremente) e seguir. Cruz assumida, não imposta! Cruz não de sofrimento e dor, mas Cruz de compromisso e fidelidade. Deus não manda cruzes para seus filhos! Ele não tem interesse em torturar seus filhos com sofrimentos! Jesus foi fiel à sua missão até o extremo da cruz e é esta cruz que devemos tomar para seguir Jesus. A fé em Cristo é doar sua vida! O homem e a mulher são chamados a ser mais pessoas, felizes e completos com sua fé e não diminuídas como gente.
A lógica de Jesus é do serviço ao próximo em uma vida de doação total e extrema. Pedro queria que Jesus continuasse demonstrando poder e força, mas Nosso Senhor escolheu o caminho do amor e de um amor doado ao extremo por todas as pessoas. O caminho para nos salvar passa pelo amor ao próximo e pelo compromisso da cruz.
Faça o download da reflexão em PDF.