#Reflexão: 24º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 12 de setembro)
A Igreja celebra neste domingo (12), o 24º domingo do tempo comum. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia deste dia.
Leituras:
1ª Leitura – Is 50,5-9
Salmo – Sl 114(115)
2ª Leitura – Tg 2,14-18
Evangelho – Mc 8,27-35
E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?
O Evangelho deste domingo, novamente, descreve Jesus presente em um território fora de Israel. Ele estava a caminho de Cesareia de Felipe que era a sede do governador daquela região romana. Jesus e os discípulos já estavam juntos algum tempo. Nosso Senhor quis saber qual era a ideia que as pessoas estavam tendo dele. Jesus e os apóstolos não caminhavam mais sozinhos e certamente uma multidão acompanhava a todos. Os apóstolos tinham tido também uma experiência em evangelização e certamente colheram a opinião que as pessoas tinham de Jesus. A resposta dos apóstolos foi resumidas em três personagens: “João Batista”, ele tinha realizado tão bem sua missão que a sua fama se misturava com a de Jesus, alguns até acreditavam que o precursor tinha ressurgido; “Elias” foi o maior dos profetas do AT e muitos achavam que alguém como Elias tinha aparecido e havia uma profecia que afirmava que ele retornaria antes da vinda do messias; “um dos profetas” a resposta menos segura sobre quem era Jesus, muitos viam como “mais um profeta”.
A segunda pergunta de Jesus foi direta e provocativa em relação ao seu grupo de discípulos. Eles já estavam com seu Mestre já um bom tempo e tinham condições de dar uma resposta mais profunda. Pedro foi certeiro: “Tu és o Cristo” (“Cristo” em grego = “messias”). Até este momento no evangelho de Marcos ninguém tinha se expressado tão claramente sobre quem era Jesus. Ele, então, pediu que guardassem silêncio, pois toda a população tinha uma grande esperança sobre o Messias, mas como alguém voltado à questão política e como um revolucionário. Por outro lado, abertamente Jesus anunciava como Ele seria “Messias”: seria rejeitado, entregue à morte e ressuscitaria.
Jesus retoma a imagem apresentada pelo profeta Isaías que lemos na primeira leitura. Jesus Cristo será Messias sim, mas como “servo do Senhor”. Isaías descreve o Messias como alguém que enfrenta sofrimentos e todos os tipos de humilhações, mas principalmente alguém profundamente confiante em Deus. O “Servo Sofredor” representa tudo aquilo que é específico e profundamente humano: dor, sofrimento, desolação, amargura e por fim, a morte. No Evangelho de Marcos, Jesus diz que além das humilhações e morte, ressuscitará no terceiro dia.
Pedro ao ouvir tudo isto, se espanta e tenta fazer com que Jesus mudasse seu discurso. Nosso Senhor tinha falado com seus discípulos, mas Pedro “puxou” Jesus em um lugar a parte e quis “ensinar” como Ele deveria ser Messias. O pobre Pedro que afirmou com tanta segurança que Jesus “é o Messias”, no fundo, ainda estava com a ideia de um Messias aos moldes deste mundo, um enviado para fazer guerra e instaurar um reino deste mundo para este mundo.
Jesus “arrasta” e recoloca Pedro junto ao pequeno grupo dos discípulos e diz palavras fortes sobre a atitude de Pedro que servem para nós também: “Vá para trás de mim”. A expressão “atrás de mim” foi usada por Jesus quando chamou os discípulos. De fato, o discípulo deve vir depois do seu Mestre e não se colocar a sua frente. Pedro queria ensinar o seu Mestre Jesus e não o contrário. Por isto, Jesus condena o seu comportamento e exorta-o a voltar ao seu lugar. “Satanás” é o maior opositor de Jesus e tenta se colocar a frente e atrapalhar o projeto de Deus. Aqueles que se comportam como Satanás (querem se colocar à frente de Deus) e não como discípulos (que seguem Mestre) são aqueles que pensam como o mundo pensa.
Como Pedro, ainda hoje há muitas pessoas que querem condicionar a ação de Deus e até dizer o que Ele tem que fazer. Jesus nos convida a sermos discípulos, nos colocarmos atrás dele que é o nosso Mestre e seguir seus passos, devemos estar com os ouvidos atentos e sempre em alerta para ouvir sua voz.
Jesus, após repreender Pedro diante dos outros discípulos, convocando a multidão e apresenta as mesmas condições a todos. Aquelas pessoas já tinham escutado a definição de Messias que o próprio Jesus tinha a pouco apresentado e convida a todos a segui-Lo (“vir atrás de Mim”), mas Ele coloca as condições fundamentais. Tudo é apresentado como condição onde cada tem que assumir livremente: “se alguém quer vir após mim…” A segunda condição é um convite decisivo: “renunciar a si mesmo”. É deixar de colocar a si próprio no centro de tudo, abrir-se para as propostas e a missão que Deus apresentar; abraçar os projetos de Deus em detrimento aos sonhos pessoais. “Tomar a cruz” é assumir tudo com compromisso e responsabilidade como é a cruz de Cristo, sinal do seu extremo amor por toda a humanidade. A cruz não é somente sinal das dores e dos sofrimentos enfrentados por Jesus (isto tudo faz parte da nossa história enquanto estivermos neste mundo), mas de sua missão assumida até o extremo. Por fim e depois de fazer os dois passos anterior, “seguir”, se colocando, atrás de Jesus. As palavras de Cristo no final do Evangelho de hoje completam a identidade do discípulo de Jesus, onde o ponto principal recai sobre “entregar a vida” por causa de Jesus e do seu Evangelho, este é o modo de ganhar a verdadeira vida que Deus quer nos dar.
Nós, cristãos, devemos ser hoje estes novos discípulos de Jesus começando dentro de nossas comunidades e em nossas celebrações como Tiago tem exortado nas segundas leituras. Diante das necessidades de nossos irmãos, somos chamados a demonstrar a nossa fé com gestos concretos (em obras, com diz São Tiago), pois fé que não nos conduza a viver a caridade para os nossos irmãos, não é a fé que Jesus ensinou a buscar. Fé sem caridade, não é fé verdadeira, mas uma simples “simpatia para com Jesus e seus princípios”.