#Reflexão: 23º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 5 de setembro)

11 de setembro de 2021

A Igreja celebrou no domingo (5/setembro), o 23º domingo do tempo comum. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia desse dia.

Leituras:

1ª Leitura – Is 35,4-7

Salmo – Sl 145(146)

2ª Leitura – Tg 2,1-5

Evangelho – Mc 7,31-37

JESUS CURA E RESGATA AS PESSOAS

Jesus sempre esteve aberto para acolher todas as pessoas, principalmente aquelas que eram excluídas e abandonadas pela sociedade e pela religião de sua época. Ele procurou percorrer todos os lugares: terras de Israel e regiões de outros povos. Em todos os lugares, Nosso Senhor abraçou, tocou e curou do mesmo modo, pois para Ele o que importava era a pessoa e não a sua posição social (rico ou pobre) ou religiosa (santo ou pecador).

Por isto Isaías fala na primeira leitura de uma “vingança” de Deus que não tem violência, ódio e nem mortes, mas uma profunda revolta contra a situação da época onde os mais necessitados estavam abandonados e sofrendo. Deus promete uma reviravolta contra aquele sistema que excluía, por isto, promete um tempo onde os doentes serão curados e acolhidos (até o deserto terá abundantes águas). Esta promessa se realiza com Jesus.

Em sintonia que esta promessa, mas principalmente com a atitude de Jesus que sempre teve grande atenção para com os pobres, Tiago na segunda leitura chama atenção da sua comunidade sobre o desprezo para com os mais simples e humildes. A divisão interna na comunidade entre tratar melhor os ricos e desprezar os pobres refletia ainda a mentalidade do mundo e em nada estava em sintonia com o exemplo e os ensinamentos de Jesus que sempre acolhida a todos, mas preferiu escolher os mais simples e pobres.

Entre os pobres que acorriam a Jesus, os doentes sempre tiveram especial atenção. Sabemos o que significa a riqueza de poder ouvir e falar. São dons que nos ajudam na comunicação com as pessoas e com o mundo. Marcos no Evangelho deste domingo nos conta que um dia Jesus se encontrou com uma pessoa que não possuía estas duas capacidades: ouvir e falava com dificuldade. A cura que o evangelista narra, ganha uma importância muito significativa, pois Jesus procede de um modo único e especial para efetuar mais este milagre.

A introdução do Evangelho deste domingo informa que Jesus encontrava-se na Decápole (dez cidades), região habitada por pessoas que falavam a língua grega (diferente da língua de Jesus) e era terra de pagãos e por isto, de impuros. Um judeu ou fariseu jamais percorreria aquelas estradas, nunca pisaria naquelas terras. Jesus, como de costume, nunca seguiu estas diferenças criadas pela sociedade e pela religião da época.

Estando em território de “impuros”, Jesus se depara com um grupo de pessoas que estava trazendo um doente surdo que fala com dificuldade. A fama de Jesus tinha se espalhado pela região e todos vinham até Ele, por isto, certamente os amigos do doente já tinham ouvido e talvez até visto Jesus fazer alguma coisa, mas aquele doente – impossibilitado por não ouvir e nem falar – nada poderia fazer, somente confiar em seus amigos.

Jesus, diante do pedido dos amigos, realiza gestos novos para operar a cura. A primeira atitude de Jesus foi ficar sozinho com o doente surdo, longe da multidão que estava ao seu redor (não queria dar nenhum “showzinho” para ninguém). Até aquele momento, os amigos tinham feito tudo pelo doente, mas era necessário que ele mesmo tivesse um encontro pessoal com Jesus. Nosso Senhor “toma a parte” aquela pessoa, gesto frequente da parte de Jesus para seus discípulos (em Mc ocorre seis vezes com os discípulos + uma vez com este doente). À parte, O Mestre lhe dedica especial atenção. Diante daquela pessoa, Jesus toca os ouvidos do doente com os seus dedos e depois toca a Sua língua para em seguida tocar a língua do surdo-mudo. Jesus, ao tocar a língua do surdo-mudo com a sua saliva, dá a ele algo que é Dele. São as mãos que falam sem palavras. Acreditava-se naquele tempo que a saliva tinha algo de medicinal, mas Jesus quis oferecer aquela pessoa marginalizada pela deficiência, algo que lhe era próprio e pessoal. Aquele surdo, além das limitações físicas, ainda sofria a exclusão por parte dos judeus que também o considerava com um “pecador”, Jesus rompe todas estas barreiras e procura expressar com gestos profundamente humanos a íntimos, Sua proximidade e o seu amor para com aquele doente.

Jesus completa – após tocar os ouvidos e a língua – com um gemido. Não um grito de potência, mas um som muito próprio daquele que sofre. Olhando em direção ao céu diz: “Éfata!” que significa: “abre-te!” O comando dado por Jesus para operar o milagre é realizado com um suspiro, como um sopro divino.

O modo singular realizado por Jesus para curar, vai além de “mais um milagre”. Diante da pessoa com sérias deficiências e marginalizada de tantos modos (estrangeiro e doente), Jesus procura expressar a sua maior aproximação e intimidade. Não quer somente “curar mais um doente”, mas quase que “recriar” a pessoa. Os gestos lembram Deus na criação que molda com a mão o barro e sopra sobre o boneco para criar o homem-Adão.

No Evangelho de hoje, após o rito operado por Jesus, o doente tem os ouvidos abertos e a prisão da língua é desfeita, podendo assim, falar corretamente. O encontro com Jesus deve realizar em nós o mesmo resultado: abrir nossos ouvidos para a Palavra de Deus e anunciar a Boa Nova do Evangelho. O Batismo que todos nós recebemos deve efetuar em nós, o mesmo efeito: predispor-nos para escutar a Palavra de Deus e anunciá-la.

Jesus é a realização das promessas de Deus, mas não somente aquele que realiza milagres e grandes prodígios como este que Marcos nos narra. Acima de tudo, ele busca promover e resgatar as pessoas, tirando-as da situação de exclusão e marginalização onde elas se encontram. A lista de doentes que serão curados, conforme as palavras de Isaías na primeira leitura, representa todos aqueles que eram esquecidos e desprezados pela sociedade e pela religião da época. Jesus vai ao encontro de todos que estão em terras de Israel ou em terras estrangeiras e oferece a todos a possibilidade de um encontro íntimo e profundo, sejam estas pessoas da mesma religião que a Dele (judeus) como também aos estrangeiros e esquecidos da sociedade.

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