#Reflexão: 25º domingo do Tempo Comum (18 de setembro)

15 de setembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 18, o 23º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Am 8,4-7

Salmo: 112(113),1-2.4-6.7-8 (R. 1a.7b)
2ª Leitura: 1Tm 2,1-8 ou ou mais breve 16,10-13
Evangelho: Lc 16,1-13

Acesse aqui as leituras.

SER JUSTO SEMPRE E COM TODOS

            As leituras deste domingo nos questionam sobre as consequências do apego aos bens deste mundo, especificamente ao dinheiro e a riqueza em geral. Amós apresenta um quadro da situação do seu tempo que parece ser também do nosso tempo: A malandragem daqueles que já possuem muitos bens em conseguir cada vez mais riquezas. O profeta lista as estratégicas dos negociantes e vendedores em explorar os pobres. O povo simples comprava bens de subsistência (trigo e azeite), mas eram trapaceados de diversas formas: no valor, no peso e na medida. A conclusão é óbvia: a riqueza desses ricos negociantes jamais poderia ser abençoada. O profeta Amós alerta tais que pessoas que eles não serão esquecidos por Deus e terão que prestar contas de seus atos.

            No Evangelho de Lucas, o tema principal é também sobre a riqueza. Mais uma vez nos deparamos com uma história (parábola) que nos questiona sobre o uso dos bens deste mundo. O personagem principal desta parábola não é um sujeito com atitudes a serem imitadas como também ocorre em outras parábolas contadas por Jesus em Lucas como do “amigo inoportuno” (11,5-8) e do “juiz iníquo” (18,1-8).

No domingo passado, nós nos vimos diante de um Pai que não se iguala a nenhum pai deste mundo. Com um coração plenamente cheio de misericórdia e pronto a nos ajudar na conversão (primeiro filho), mas também no perdão (segundo filho). Hoje Jesus conta a história de um rico proprietário que confia tudo na mão de um administrador. Tudo lhe pertence e o empregado é chamado a cuidar com justiça dos bens do seu senhor. Jesus diz que este rico proprietário ficou sabendo da malandragem do seu principal administrador, o patrão já tinha notícias suficientes para mandar embora e processá-lo, mas resolve ainda dar a ele a possibilidade de se justificar ou de se defender. A situação era tão crítica contra o administrador que lhe vem antecipado que não mais poderá administrar os bens do seu senhor. Ele era um administrador com um alto cargo e pressente que perderá tudo.

O administrador se põe a pensar consigo mesmo buscando uma solução (“pensar consigo mesmo” é próprio de Lucas: 15,17-19; 16,3;18,4; 20,13). Ele não procura estratégias para refaz o erro do passado, mas para garantir o seu futuro. Sabia que não teria chance para permanecer no emprego (ele no fundo admite que tinha sido desonesto), pois tinha se aproveitado indevidamente da confiança do seu senhor. O administrador sabe que teria somente duas atividades para seu futuro: trabalhar a terra ou mendigar. A primeira é uma atividade honesta e digna, mas que ele se justifica afirmando que não tem condições físicas para realizar (não era acostumado a este tipo de trabalho). Ele conhecia muito bem o esforço daqueles que labutavam para produzir o trigo e o azeite que ele roubava do seu patrão. A segunda solução seria para ele humilhante, pois não era nem pobre e nem doente para pedir esmolas (quem ajudaria um que teve tudo em suas mãos e usou injustamente?).

            A solução pensada foi de aproveitar o pouco tempo que tinha ainda na casa do seu senhor (antes de se apresentar para prestar contas de tudo) para garantir um futuro nas mesmas condições em que se encontrava. Chama os devedores do seu patrão (são citados dois) e lhes propõe algo que seria benéfico para todos: fraudar os documentos de dívida. Ele pensou com as categorias daqueles que sempre estão envolvidos em corrupção e injustiça. Ao pedir para cada um reescrever suas dívidas, o administrador também compromete os devedores na fraude. A solução pensada era de envolver os credores do seu patrão de forma que ele pudesse pedir futuros favores ou até mesmo fazer ameaças. Pela quantidade de bens adquiridos, esses credores também eram pessoas ricas, talvez comerciantes e ele assim, teria alguma chance de ter algo futuro para ele.

Segundo o costume da época, quem administrava bens de comércio, podia colocar algum valor a mais no valor final (emprestar com juros era proibido na Lei de Moisés: Ex 22,24; Lv 25,36s; Dt 15,7ss). Um comprador, ao contrair uma dívida com o patrão, o seu administrador acrescentava na fatura final algo que seria para ele. Assim, o administrador infiel estaria abrindo mão, em parte, daquilo que era seu lucro pessoal (uma espécie de “atravessador”), mas os valores apresentados na parábola são exagerados (metade dos barris de azeite e 20% de trigo). Certamente, o administrador estava também prejudicando seu patrão, fraudando os valores.

Temos, novamente, a palavra do Senhor da história (tudo indica ser o mesmo “senhor” do vv. 3 e 5) que elogia não a forma de administrar do seu empregado (aqui chamado de “desonesto”), mas a esperteza e a estratégia para tentar garantir seu futuro. De fato, conclui o senhor na parábola, aqueles que são “filhos do mundo” são hábeis em explorar e roubar, esta é uma diferença para com aqueles que são “filhos da luz”.

            Fica claro no versículo 9 que, somente agora, Jesus diz algo. Em relação aos bens deste mundo, Ele aconselha a usá-lo para fazer amigos. “Riqueza injusta” significa tudo que está ligado ao dinheiro, Jesus convida a usá-la para produzir amizade (fazer o bem) enquanto estivermos neste mundo. Deus dá chance até o momento em que teremos que prestar contas de nossa vida e do uso dos bens deste mundo. Na parábola de Jesus, o administrador usou do seu cargo para pensar em si somente. Ele fraudando e diminuindo as dívidas criou condições de aliviar a dívida de outras pessoas.

O povo da Bíblia não vê a riqueza como uma maldição, mas como dom, uma graça de Deus. Deus concede a alguns mais bens e riquezas para que esses compartilhem com os mais necessitados. Assim, a riqueza não é para a pessoa, mas para que o rico possa ajudar aqueles que na vida jamais terão condições de ter dignidade (os pobres, indigentes, idosos, viúvas…). O problema é que quem muito possui, sempre quer mais e jamais se recorda daqueles que nada têm.

O convite de Jesus para seus discípulos é procurar ser honesto já nas pequenas coisas para merecer as grandes. Tudo neste mundo é algo “pequeno” em relação aquilo que vamos receber: ser honesto como “filhos da luz” é garantir o melhor prêmio que será dado ao empregado bom e honesto. Aquele que usa mal as riquezas deste mundo transforma tudo em uma “divindade” que quer sempre mais sacrifício e ofertas, mas jamais conseguirá dar algum bem eterno e justo. A riqueza jamais deverá se tornar “fim” e receber das pessoas toda atenção (adoração), mas ela mesma ser instrumento para caridade e a solidariedade.

            Ao final, Jesus é categórico e claro: não se pode servir a dois senhores, pois sempre um ficará em segundo plano. Não tem como estar em parte com o dinheiro e em parte com Deus; não tem como colocar como prioridade principal as riquezas deste mundo e Deus ao mesmo tempo. O versículo que segue ao Evangelho desse domingo diz que “os fariseus que gostavam do dinheiro, escutavam tudo isso, e zombavam de Jesus” (Lc 16,14). Inicialmente, a parábola e os conselhos foram dirigidos aos discípulos (16,1), mas a verdadeira intenção de Cristo era também tocar o coração corrompido dos fariseus.

Jesus parte talvez de algo que era conhecido e praticado normalmente em seu tempo, inclusive a habilidade daqueles que procuram sempre o melhor para si, mas através da injustiça e desonestidade. Nosso Senhor esclarece que tal administrador é desonesto e representa os filhos deste mundo que servem a riqueza como alguém que adora e está a serviço de uma divindade. Precisamos caminhar como filhos da luz, usar das riquezas deste mundo para “fazer amizade” (bem aos outros) e servir somente Aquele que é capaz de nos dar bens neste mundo que estão acima dos bens materiais e que se estendem até a eternidade após nossa vida.

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