#Reflexão: 27º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 3 de outubro)
A Igreja celebra neste domingo (3) o 27º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a liturgia deste dia.
1ª Leitura – Gn 2,18-24
Salmo – Sl 127,1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5)
2ª Leitura – Hb 2,9-11
Evangelho – Mc 10,2-16 [Forma breve: Mc 10,2-12]
MATRIMÔNIO, UNIÃO ABENÇOADA POR DEUS
Pe. Dirlei Abercio da Rosa
Presbítero da arquidiocese de Pouso Alegre,
mestre em Ciências Bíblicas (Instituto Bíblico, Roma)
e professor da Faculdade Católica de Pouso Alegre
No evangelho de Marcos deste domingo, um grupo de opositores (fariseus) tenta pegar Jesus com um problema ligado ao matrimônio. Marcos assinala que a questão apresentada não tinha intenção de aprofundar o tema, mas foi colocada para testar Jesus. Dependendo da resposta, eles imaginavam destruir Sua doutrina e Sua mensagem.
A pergunta colocada pelos fariseus revela que a prática de “repudiar” (mandar embora) a mulher era comum. De fato, se sabe que, naquele tempo, o divórcio acontecia somente por iniciativa do homem que, por qualquer motivo, podia se separar da mulher. Jesus responde à pergunta com outra pergunta. Sabendo da origem de tal permissão, Nosso Senhor foi mais preciso: “O que Moisés vos ordenou?”
De fato, desde o tempo de Moisés, o marido podia repudiar sua mulher com uma carta (um documento). Jesus procura analisar e aprofundar tal costume afirmando que Moisés “inventou” tal documento como uma forma de ajudar as mulheres. Se uma esposa fosse repudiada por seu marido e se casasse com outro homem, cometeria adultério segundo as leis judaicas. Assim, diante da “dureza do coração” do povo, Moisés “ordenou” que fosse feita tal carta para as mulheres se casarem novamente. No entanto, Jesus afirma que tudo isso nunca foi da vontade de Deus, mas acontecia por causa da “dureza do coração” dos judeus.
A questão apresentada era se era lícito (conforme a Lei) ou não mandar embora a mulher. Jesus resolve aprofundar a questão e também atualizá-la. Ele afirma que, “desde o início da criação”, o projeto de Deus para o ser humano não tinha nada daquilo que os homens passaram a fazer. Jesus continua dizendo que Deus criou o homem e a mulher com identidades e realidades distintas, mas que necessitam se completar mutuamente.
Segundo Jesus, o matrimônio tem sua origem na vontade original de Deus para o homem e a mulher. Assim, está na natureza do homem e da mulher a união para um dar sentido e completeza a outra e ao outro. E, Jesus resgata para os fariseus a passagem bíblica da criação que diz: “serão uma só carne”. A visão que Jesus tem do matrimônio é algo completo e profundo tanto para o homem quanto para a mulher que, por duas vezes, Jesus afirma e reafirma: “Uma só carne, não duas, mas uma só carne”.
A primeira leitura deste domingo apresenta o texto que Jesus citou e se encontra nas primeiras páginas da Bíblia sobre a criação do mundo. O autor sagrado não quer nos ensinar “detalhes científicos” ou biológicos sobre a constituição do homem e da mulher, mas descrever sua relação com Deus e entre eles mesmos.
O texto inicia lembrando a relação entre Deus e o homem (Adão). O homem é criatura e está estreitamente ligado a Deus. A relação com o seu criador é especial, pois o homem não é “mais uma criatura” que habitava o paraíso, mas o único ser capaz de estabelecer relação e reciprocidade de amor e afeto com Deus. O autor, antes do texto de hoje, afirma que somos imagem e semelhança de Deus.
Mas, apesar do homem ser tão sublime como criatura e estar em comunhão com Deus, o autor bíblico diz que o Criador observou que não era bom o homem ficar sozinho. O homem tinha uma relação perfeita com Deus, mas sempre na condição inferior como criatura e, por isso, faltava ao primeiro homem alguém que lhe fosse igual em relação e natureza. Assim, em uma ação conjunta, Criador e criatura buscam uma solução para a solidão de Adão. Deus cria os animais e os coloca todos diante do homem que recebe a missão de dar um nome. Nomear é exercer um domínio e posse, algo que o homem é chamado a fazer e Deus respeita o que ele faz.
Diz o escritor sagrado que o homem não encontrou nenhuma “ajuda que lhe fosse adequada”. De fato, o homem criado por Deus é superior a todas as criaturas e essas não poderiam oferecer a ele nada que o completasse em sua própria natureza como pessoa humana. O homem pode construir uma relação bonita como um animal, mas esse não pode realizar aquilo que somente outra pessoa semelhante tem condições de realizar.
Deus executa uma ação que revela a grandeza e a profundidade da mulher na vida do homem. Deus poderia simplesmente criar mais uma criatura como fez com outros animais. Mas, fez diferente. Para deixar para o homem a grande importância da mulher em sua vida, o Criador tira algo do lado do homem (costumamos chamar de costela) e, com isso, “constrói” a mulher. O homem foi “moldado” da terra para revelar sua origem e condição neste mundo; a mulher é “construída” como parte do próprio homem.
Assim, temos as primeiras palavras do homem dirigidas à mulher. Ele se reconhece na mulher com tudo o que ele é e possui: alguém igual a ele mesmo (“ossos dos meus ossos”). O homem pensa em algo que lhe pertence (“…porque foi tomada do homem”), mas Deus corrige em seguida dizendo: “o homem deixará a casa de seus pais e se unirá a sua mulher”. O homem deverá deixar sua família para construir outra família. E Deus sela essa relação para sempre com a frase que é retomada por Jesus: “E os dois serão uma só carne”. Para encerrar a questão, Jesus acrescenta às palavras do Gênesis: “Aquilo que Deus uniu, homem nenhum pode separar”.
Jesus sempre foi questionado e procurou colocar a pessoa humana no centro de toda Sua ação e de Deus. Aqui, ao defender o Matrimônio, não faz o contrário. Para Jesus, o divórcio não faz parte do projeto de felicidade para o homem. Matrimônio não é um “estar juntos por um tempo” ou “dividir e morar debaixo do mesmo teto”, mas se transformar em nova pessoa: “uma só carne”. Ambos passam a viver uma única e mesma realidade aos olhos de Deus depois que o homem e a mulher recebem o Matrimônio.