#Reflexão: 29º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 17 de outubro)
A Igreja celebra neste domingo (17) o 29º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a liturgia deste dia.
1ª Leitura – Is 53,10-11
Salmo – Sl 32,4-5.18-19.20 e 22 (R.22)
2ª Leitura – Hb 4,14-16
Evangelho – Mc 10,35-45 [Forma breve: Mc 10,42-45]
PODER DE SERVIR A TODOS E SEMPRE
Pe. Dirlei Abercio da Rosa
Presbítero da arquidiocese de Pouso Alegre,
mestre em Ciências Bíblicas (Instituto Bíblico, Roma)
e professor da Faculdade Católica de Pouso Alegre
O Evangelho deste domingo mostra, pela terceira vez, a imensa distância que os apóstolos se encontravam de Jesus. Logo após o primeiro anúncio, Pedro tentou convencer Jesus a abandonar seu discurso sobre sofrimento, humilhação e morte. Jesus repreendeu chamando-o de Satanás (Mc 8,27-33). Depois do segundo anúncio sobre o seu destino final em Jerusalém (Mc 9,30-37), os discípulos – logo em seguida – começaram a discutir quem era o maior entre eles (não Jesus, mas entre eles). Jesus, com paciência, apresentou o anúncio sobre ser servo e último entre todos. Neste domingo, a situação não foi diferente.
Antes do texto da cena que ouvimos no Evangelho, Jesus fez o terceiro anúncio ao seu grupo do seu fim em Jerusalém. O ambiente no grupo dos apóstolos estava péssimo (Mc 10,32-34). Marcos inicia dizendo que todos estavam subindo [de Jericó] para Jerusalém. Jesus caminhava à frente dos apóstolos. Eles estavam assustados e a multidão com medo: o grupo não caminhava mais junto. Nosso Senhor já tinha desistido de “converter” a multidão que o seguia, pois percebeu que eles queriam ver sinais, eram sedentos de curas e milagres e não de sua palavra e da sua pessoa. Assim, restava os apóstolos que não se mostravam sintonizado com Ele.
No Evangelho de Marcos de hoje, surgem dois personagens que, juntos com Pedro, estavam mais próximos de Jesus. Tiago e João se aproximam do Mestre e pedem algo que tinham segurança de conseguir: “Queremos…. que faça por nós… o que vamos te pedir!” No Pai Nosso, Jesus ensina “faça a sua vontade [de Deus]”, mas os dois apóstolos prediletos (juntamente com Pedro) queriam que a vontade deles fosse saciada.
Não entenderam nada nem de Jesus, nem da sua amizade e muito menos de sua proposta de vida. Procuraram “dar um jeitinho”, apelando em nome da amizade estreita que sentiam da parte de Jesus para com eles. Tinham projetos pessoais que o resto do grupo não fazia parte. Triste situação do grupo escolhido por Jesus!
Com muita paciência, Jesus procurou saber o que eles desejavam: “sentar-se um à direita ou à esquerda em sua glória” era o desejo dos filhos de Zebedeu. Imaginavam um futuro com Jesus em um reino como outros deste mundo: cheio de glórias humanas e grandiosidade. Os dois não tinham dado a mínima importância àquilo que Jesus – por três vezes – tinha anunciado. Ao serem perguntados sobre “beber o cálice” de Jesus (comprometimento total) e ser “batizados no batismo” que Jesus iria receber (renascimento pela morte), Tiago e João repetiram prontamente, mas, certamente, sem ter a mínima ideia do que estavam falando. Jesus, em parte, entrou no nível de compreensão deles e esclareceu que, de fato, iriam fazer o mesmo caminho (Tiago foi martirizado no início da missão dos apóstolos, cf. At 12,2). Em relação ao pedido estranho, Jesus esclareceu que seria concedido “àqueles a quem está destinado”: à direita e à esquerda de Jesus na cruz foram colocados dois ladrões.
Além disso, a história ganhou uma dramaticidade maior dentro do grupo, pois os outros dez apóstolos ficaram irritados com Tiago e João, pois no fundo eles estavam também planejando fazer a mesma coisa. Dão a entender que era um desejo de todos os apóstolos reservar lugares na “glória” de Jesus em um reino terreno.
Jesus “chama-os a si”, isto é, eles já estavam ao seu redor, mas o Mestre quis estreitar ainda mais a ligação com todos antes de tentar corrigi-los; queria falar com mais intimidade e profundidade. Primeiro, Jesus alertou partindo daquilo que eles conheciam como “glória e poder” do mundo, mas que eram construídos na base do domínio e da opressão. Os reinos deste mundo somente se mantêm se usam força e superioridade. Para existir um “superior”, necessariamente, todos os outros devem ser colocados em uma posição de inferioridade. Só existe um “grande” quando todos estão oprimidos debaixo de seu poder. Diante disso, o Mestre Jesus determinou com firmeza: “Mas, entre vós não deve ser assim!” Como em todos os outros casos, Jesus propôs seu esquema de vida como modelo. Não queria ninguém ao seu lado fazendo algo por obrigação ou constrangido a viver algo que não deseja. Ele propôs o caminho: a escolha deveria ser pessoal: “Quem quiser…”.
Jesus propôs um projeto de vida totalmente contrário ao pensamento do grupo. Para ser grande neste mundo, o caminho tem como base a opressão e o domínio. Diante disso, Jesus propôs o serviço. Seria preciso ser “servidor”, como Jesus vivia entre eles e com o povo. Para ser o primeiro, o caminho que Jesus propôs é ser escravo/servo de todos. Para ser grande, o caminho, no fundo, seria fazer e viver como Ele mesmo vivia. Jesus não condenava as paixões, mas propunha que tudo isso fosse canalizado (convertido) em outra direção: a serviço de todos.
Na primeira leitura, Isaías nos propôs a imagem do servo que, por meio de dores, sacrifícios e depois de tormentos, ganhou luz perene. Seria um servo justo que justificaria muitos. O autor da carta aos Hebreus propôs Jesus como um sacerdote eterno e grande que conquistou a todos tomando sobre si as nossas fraquezas.
Sobre o serviço ao próximo, Jesus ainda aprofundou com seu grupo: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas servir. Deus não é uma divindade que quer ser servida, mas se coloca como servidor de todos. Nós devemos fazer o mesmo. Em relação a nós, Jesus revelou um Deus que é Pai e Servidor de todos. Não somos nós que devemos ser “servos” para Deus, mas servos de Deus e para Deus através de nossos irmãos e irmãs. Os dois apóstolos sonhavam com um trono de glórias humanas. O autor da carta aos Hebreus nos falou do trono da graça e da misericórdia. Com isso, Jesus nos ensina a servir a Deus no próximo, começando pelos mais necessitados: amar a Deus, amando o próximo; servir a Deus, servindo àqueles que mais precisam de ajuda.