#Reflexão: 2º domingo da Páscoa (16 de abril)

10 de abril de 2023

A Igreja celebra o 2º domingo do Tempo Pascal neste domingo (16). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 2,42-47

Salmo: 117(118),2-4.13-15.22-24 (R. 1)
2ª Leitura: 1Pd 1,3-9
Evangelho: Jo 20,19-31

Acesse aqui as leituras.

CRER NO RESSUSCITADO COM A IGREJA

Estamos ainda vivenciando o primeiro dia da Vida Nova de Jesus Ressuscitado (Domingo da Páscoa) e experimentando as alegrias apresentadas por Cristo Jesus, mas também a difícil passagem que os discípulos e apóstolos tiveram que fazer naquele dia. Eles também tiveram que “renascer” para entrar na nova realidade que Jesus tinha inaugurado com a sua ressurreição.

Os relatos da ressurreição de Jesus no Evangelho de São João nos apresentam como, aos poucos, Jesus conseguiu refazer o seu grupo de discípulos e inseri-los na mesma missão que Ele mesmo tinha iniciado. Cristo ressuscitado precisou de muita paciência para recuperar cada pessoa que Ele mesmo tinha escolhido. Segundo São João, o primeiro dia da semana iniciou com um “túmulo vazio” que foi visto por Maria de Mágdala (Evangelho do Domingo de Páscoa). Algumas mulheres anunciam a ausência do “corpo do Senhor” o que despertou a curiosidade dos apóstolos. Esses correram, constataram o ocorrido e voltaram para casa. Depois, Maria sozinha diante do túmulo vazio encontra-se com Jesus Ressuscitado. Ela retorna e anuncia a sua experiência de fé. São os momentos que antecedem o Evangelho deste domingo.

Ao longo do dia da Páscoa de Jesus, outras experiências aconteceram como aquela narrada por Lucas com dois discípulos que deixavam Jerusalém. Este evangelista diz que até mesmo Pedro teve um encontro pessoal com o Ressuscitado, mas que não temos nenhum detalhe. Somente no final da tarde do domingo da Páscoa, seus olhos se abrem e percebem que se tratava de Jesus. Eles retornam no final daquele dia especial, o primeiro da semana (domingo) e contam tudo aos apóstolos.

O Evangelho de João que ouvimos conta como foi o final daquele primeiro dia da semana, o domingo. Os discípulos estavam reunidos, talvez para discutir e entender o que estava acontecendo, ou ainda para partilhar as diversas experiências com Jesus Ressuscitado. João nos lembra que não estavam em oração e fervorosos, mas com “muito medo dos judeus”. As experiências pessoas com o Ressuscitado não tinham conseguido eliminar tudo que eles tinham visto na Sexta-feira da Paixão e nem o sentimento de culpa por terem abandonado Jesus. O grupo estava disperso e todos com muito medo. Naquela tarde, lembra o evangelista, faltavam dois no grupo de Jesus: Judas tinha cometido suicídio e Tomé tinha perdido a esperança em relação a Jesus. Talvez, ele tinha acreditado demais em Jesus, mas ao seu modo e conforme os seus critérios. A experiência da cruz tinha sido forte demais para aquele discípulo que sempre é chamado de Dídimo que significa “gêmeo” (mas de quem? de nós?).

Tomé não é um incrédulo. O seu erro foi procurar uma resposta para tudo do seu modo, com experiências pessoais e isoladas dos demais apóstolos. No diálogo que ouvimos entre Tomé e os apóstolos (Igreja), ele insiste em se firmar no Jesus de antes ou no Mestre que foi crucificado e não dá crédito no testemunho dos amigos apóstolos (“Vimos o Senhor!”). Ele queria experimentar do seu modo e do seu jeito.

João no Evangelho nos diz que mesmo estando isolados e fechados no medo que prevalecia em seus corações (dos apóstolos), Jesus se apresenta no meio de todos. As portas e as janelas não são mais limites para o Ressuscitado, nem mesmo o medo de todos pelo mundo que os circundava; Jesus se encontrar novamente com todos, desta vez, como grupo apostólico. Antes, as experiências foram pessoais com a finalidade de resgatar o grupo; agora todos unidos, tudo reparte com uma nova realidade e fortalecidos pelo Cristo em meio a sua Igreja.

Estes relatos sobre o Ressuscitado, costumamos chamar de “aparições ou manifestações”, mas João e os outros evangelistas narram esses momentos de uma forma diferente: Jesus “se apresenta” (não aparece) em meio a todos. Isto para indicar que, aos poucos, através de pequenos sinais, gestos e palavras que a comunidade foi descobrindo a presença constante do ressuscitado. Jesus não se apresenta de uma “forma magistral” ou impactante, mas com certa delicadeza, respeitando a amarga experiência de todos como vemos na jornada que passou com os discípulos de Emaús.

A primeira palavra dita por Cristo Ressuscitado é “Paz” (insiste duas vezes). Diante do medo e do pavor por todos, Cristo procura semear a paz, aquela que somente Ele pode nos dar. A palavra “paz” não significa “ausência de medos e problemas”; para Jesus a paz que Ele nos dá é a sua própria presença e força: Jesus mesmo é a paz! Pedro na segunda leitura nos alerta das tribulações e desafios para todos aqueles que creem, mas se estamos com Jesus, Ele é a nossa verdadeira alegria e nossa maior força que nenhum problema pode suplantar.

Jesus não retoma o passado e nem esclarece nada em relação a Ele, mas propõe que eles devem continuar a sua missão. Para o evangelista João, os apóstolos recebem a força do Espírito Santo neste mesmo dia da Páscoa. É um dom dado a todos como Igreja, pois eles deverão assumir tudo como uma nova realidade no mundo, não mais individualmente, mas como Igreja, corpo do Cristo Ressuscitado.

Foi marcante e sentida a ausência de Tomé no grupo, mas ele não tinha abandonado a Igreja de Cristo. Ele estava procurando respostas do seu modo e seguindo seus critérios. Tudo que tinha acontecido não tinha sido suficiente para que ele deixasse para trás tudo que tinha acontecido com Jesus até sua cruz. Parece que ele não tinha visto o Cristo crucificado, pois tinha abandonado o Senhor como os outros apóstolos. Para ele, faltava ainda experimentar os últimos momentos do Mestre Jesus. Assim, ele não acredita na experiência nova que o grupo tinha tido, a palavra da Igreja que reencontrou com o Ressuscitado não lhe era suficiente: ele queria o Jesus “antigo”, com as chagas e as feridas. Para ele era absurdo os relatos da Vida Nova de Jesus que todos juntos tinham experimentado.

Mas, Tomé é alguém que procura respostas para seus ideais pessoais, mas é capaz de mudar seus métodos e modos de experimentar sua fé. Jesus não lhe satisfaz pessoalmente e num momento privado. Com a missão dada a todos de continuar a missão de Deus Pai, Jesus fortalece a importância de continuar sentindo sua presença especial, mas como Igreja reunida. Assim, oito dias depois da primeira experiência de Igreja com Cristo ressuscitado, novamente Nosso Senhor Ressuscitado se apresenta em meio a todos. Confirma a paz ao grupo e se apresenta a Tomé. Ele lhe propõe a fazer a experiência do mesmo Cristo que lhe faltava (com as feridas e as chagas), mas alerta que o fundamental é sentir a presença de Cristo que se está presente e não aquele que ainda trazia em sua memória. Não é Deus que tem que se ajustar aos caprichos das pessoas, mas cada pessoa, como Igreja reunida, experimentar a presença do Cristo Ressuscitado. Jesus insiste que o caminho para continuar sentido a Sua presença é a fé que é amadurecida como Igreja reunida.

Felizes são todos aqueles que creem mesmo sem ter que experimentar fisicamente algo, pois o principal de nossa fé não é algo que se toca, mas Deus que está em meio a nós (Pedro na 2a leitura também nos lembra disto). Naquele segundo domingo da Páscoa (oito dias depois), Tomé foi o último a compor o grupo-Igreja constituído por Jesus, mas foi também o primeiro a avançar na nova realidade e missão de Jesus. Suas palavras de fé revelam o novo momento como apóstolo: Meu Senhor e Deus! Ele experimentou dentro da comunidade reunida a presença do Cristo Ressuscitado, não mais o Mestre que ele seguiu, mas o Senhor da Vida e o seu Deus.

Na primeira leitura temos o exemplo dos primeiros cristãos que passaram a viver com uma única realidade, procurando colocar em prática os ensinamentos de Cristo, inclusive no modo de vida comum entre todos. A experiência mais forte e significativa para todos foi a experiência que faziam como Igreja, corpo de Cristo. Nela Cristo continua sempre presente e pronto a dar a força que elimina todo medo, mas principalmente concede a paz a todos. Na Igreja corpo de Cristo, ontem como hoje, todos podem continuamente experimentar Nosso Senhor Ressuscitado na palavra e no testemunho de todos, mas de um modo especial na Eucaristia (expressão do seu Amor por nós), na Palavra proclamada e nos Sacramentos, principalmente da Reconciliação (expressão da Misericórdia de Deus).

 

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