#Reflexão: 2º Domingo da Páscoa (24 de abril)

23 de abril de 2022

A Igreja celebra, no dia 24, o 2º Domingo da Páscoa. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura:
At 5,12-16
Salmo: Sl 117,2-4.22-24.25-27a(R.1)
2ª Leitura: Jo 1,9-11a.12-13.17-19
Evangelho: Jo 20,19-31

Acesse aqui as leituras.

MEU SENHOR E MEU DEUS

A Páscoa de Cristo é o centro da nossa fé cristã, pois acreditamos que tudo que Ele enfrentou e, principalmente, a sua ressurreição foram vitórias também para nós: seguindo os passos de Jesus, também nós venceremos a morte. Porém, não foi fácil para os discípulos descobrirem esse tesouro deixado a nós por Jesus.

Os relatos da ressurreição, quase sempre, partem da dura realidade que os discípulos e apóstolos ainda estavam vivenciando em relação a tudo que acontecera com Jesus, dias atrás. A última imagem para alguns fora a morte durante a crucificação, para outros, o corpo depositado no sepulcro. Entretanto, o Cristo Senhor é paciencioso com todos os seus discípulos e, gradualmente, foi resgatando cada um com um gesto ou uma palavra que ficara como forte sinal Dele durante os anos de convivência nas terras da Galileia.

O Evangelho deste domingo relembra a experiência do grupo dos apóstolos, que recebe a visita de Cristo Ressuscitado. A paciência de Nosso Senhor para com os discípulos revela, mais uma vez, a grande misericórdia de Deus, que procura se adaptar e se nivelar as nossas dificuldades de entender e de acreditar.

Aquele primeiro dia da semana (como na 2ª leitura), logo após a Páscoa dos judeus, transformou-se no dia da Páscoa de Jesus. Desde o amanhecer, vários discípulos (começando com as mulheres) experimentaram a presença do Ressuscitado. Além dos sinais da ressurreição (como sepulcro vazio e os panos dobrados), Cristo se mostrou aos seus discípulos que não esperavam tal reviravolta em relação a tudo que experimentaram.

João evangelista conta em seu Evangelho que tudo aconteceu quando todos estavam reunidos. Talvez depois de várias manifestações do Cristo Ressuscitado, eles resolveram se encontrar para discutir, compartilhar suas experiências, rezar e procurar entender o que estava acontecendo. Muitas perguntas e dúvidas ainda pairavam sobre o grupo. Naquele dia da Páscoa de Jesus, nem todos estavam presentes. Judas escolhera um caminho sem volta e Tomé não se encontrava com os outros apóstolos. Ele não foi encontrado? Estava perdido em seus pensamentos? Nada sabemos sobre isso.

Os discípulos e apóstolos se reuniram movidos ainda por tantos temores e dúvidas, mas, mesmo assim, estavam juntos. Aprenderam que, como grupo, é mais fácil entender e descobrir a vontade de Deus. O medo ainda rondava a todos (portas fechadas… por medo dos judeus). João nos fala que Cristo se faz presente no meio deles. Ele deve ser sempre o centro, mesmo que, ao redor, tudo se mostre sinistro e espantoso. Jesus deve ser sempre o maior.

Duas atitudes de Cristo marcaram aquele encontro com os discípulos: Ele deseja paz e mostra suas mãos e o lado aberto. A paz, certamente, foi um dos dons que mais Jesus insistiu em sua vida, tanto em seus ensinamentos como em suas ações. Ela é fruto da experiência e comunhão com nosso Deus, que é sempre misericordioso. Paz não significa “não ter problema”, “não enfrentar dificuldades”, mas equilíbrio interno com o externo (com o mundo) e tranquilidade que somente Deus pode nos dar. Uma pessoa pode estar cercada de desafios e problemas (como os discípulos), mas, se Jesus vivo está no centro de tudo, ela, certamente, estará em paz. O gesto de Jesus mostra os sinais da crucificação (Ele o faz duas vezes). Isso é uma forma de confirmar que não se trata de um fantasma ou uma ilusão, mas é o mesmo e próprio Senhor Jesus que eles conheceram. Não existe Páscoa sem a cruz. A Ressurreição de Cristo não cancela a Sexta-feira Santa, mas a transforma e dá um novo significado para toda a humanidade. Cruz e Páscoa fazem parte da mesma estrada que nos conduz à Vida Eterna, porque a morte de Jesus na cruz não foi um fato qualquer e comum, mas algo que mudou o destino da humanidade: a morte não é mais o último quarto para todos, pois Cristo a transformou em uma porta que se fecha para esta história e que se abre para a eternidade. Para nós cristãos, a morte é uma passagem.

Jesus Ressuscitado deixa claro que o dom maior que Ele quer confirmar nos corações de todos é a paz e não a vingança ou o ódio. Era necessário que eles recebessem essa primeira graça para transmiti-la aos outros. Por isso, Cristo concede outro dom através do sopro (lembrando Deus na criação): perdoar os pecados. O mundo, ao redor deles, estava impregnado de ódio e de ira contra o Deus da Misericórdia de Jesus. Os discípulos não poderiam entrar naquele mesmo jogo de violência. Precisavam semear paz e misericórdia. Assim, Jesus os transforma em semeadores da paz e do perdão dos pecados. Jesus relembra que a missão que estava dando a todos era a mesma que Ele recebera de Deus Pai: continuar destruindo o mal em sua forma mais profunda, o pecado. Assim, os discípulos são transformados em ministros da reconciliação. Todos nós, cristãos, somos chamados a viver a prática do perdão dos pecados, principalmente, através do Sacramento da Reconciliação.

Porém, João evangelista nos diz que, naquele primeiro encontro da comunidade dos discípulos de Cristo, Tomé não estava presente. Talvez ele ainda estivesse procurando entender o que estava acontecendo. Ele era uma pessoa de fé, mas o seu erro foi procurar tudo segundo seus critérios, sozinho e uma lógica pessoal.

Tomé deve ter procurado os discípulos depois daquele encontro que eles tiveram com o Ressuscitado. Eles devem ter narrado, com alegria, aquilo que viram, receberam e experimentaram: “Vimos o Senhor”. Isso mostra não uma fé pessoal ou solitária, mas a fé de uma comunidade. Tomé ainda estava fechado em seu mundo pessoal, acreditando segundo seus critérios e ainda querendo condicionar Jesus aos seus princípios de fé. As exigências que Tomé impõe para acreditar são todas pessoais: Se não vir… se não puser… se não introduzir. No fundo, ele não acredita no testemunho de fé da Igreja de Cristo. Ele mesmo queria experimentar o que eles testemunhavam.

Mesmo assim, Deus é sempre paciencioso e misericordioso. Uma semana depois da primeira manifestação significativa para a comunidade de fé de Cristo, novamente, no dia da Páscoa de Jesus, Nosso Senhor se faz presente com as mesmas palavras e gestos. Desta vez, Tomé estava lá, talvez curioso ou já arrependido de sua procura pessoal pelo ressuscitado. Cristo, logo após saudar a todos, resolveu se submeter aos “caprichos” e às exigências de Tomé para acreditar. Agora, tudo era diferente: tudo acontecia na comunidade em oração. Porém, a história com Tomé percorreu outro caminho.

Aquele discípulo que se mostrava tão distante e até descrente, em comunidade, redescobre a verdadeira fé. A sua frase: “Meu Senhor e Meu Deus” é uma profunda revelação da fé em Cristo como Senhor e Deus. Apesar de suas exigências pessoais e até da “submissão” de Jesus aos seus desejos para ele crer, tudo indica que Tomé não tocou em Cristo. O testemunho e a fé em comunidade, possivelmente, já foram suficientes para que ele acreditasse em Jesus, seu Senhor e Deus. Não era mais necessário tocar, mas a sua fé (redescoberta em comunidade) já tinha aberto os seus olhos e o seu coração: se trata realmente do mesmo Jesus que ele amava!

A experiência de fé dos discípulos e apóstolos é o principal instrumento da nossa fé em Cristo ressuscitado. Acreditamos, porque muitos acreditaram e acreditam e, assim, como comunidade, experimentamos, juntos, a paz de Cristo e recebemos todos os dons que Deus quer sempre nos dar para podermos sair pelo mundo, sem medo, e viver a nossa fé em Cristo.

A partir da experiência do Ressuscitado, os apóstolos se tornaram testemunhas mais qualificadas para anunciar a paz, como observamos na 1ª leitura, com Pedro, e, com João, na 2ª leitura. Eles foram testemunhas que transformam os sinais da presença de Cristo Ressuscitado no próprio sentido da vida.

Jesus procurou transformar o coração de todos para poderem transmitir a todos a alegria de uma fé que produz vida e não morte, que converte tudo em graça, como Pedro na 1ª leitura: até sua sombra era instrumento de Deus para propagar bênçãos para os outros.

Em comunidade de fé, no dia especial da Páscoa de Jesus (o Domingo, como também nos lembra a 2ª leitura), sempre, somos revigorados e alimentados com a presença de Cristo Vivo, o nosso centro e a nossa vida. Fortalecidos por Jesus Ressuscitado, podemos caminhar pela vida até nosso encontro final com Deus.

Faça o download da reflexão em .pdf.