#Reflexão: 2º Domingo do Advento (Ano C – 05 de dezembro)
A Igreja neste domingo (5) celebra o 2º Domingo do Advento. Reflita e reze com a liturgia deste dia.
1ª Leitura – Br 5,1-9
Salmo – Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
2ª Leitura – Fl 1,4-6.8-11
Evangelho – Lc 3,1-6
A PALAVRA DE DEUS COM JOÃO BATISTA NO DESERTO
Estamos para celebrar o Natal do Senhor. Um tempo em que desejamos muitas alegrias e paz para todos, mas parece que tal mensagem desentoa com tudo que estamos vivendo em nosso país e em boa parte do mundo. A pandemia nos revelou outros pontos em nossa realidade humana que ainda a luz da misericórdia de Deus não chegou, pois nós, cristãos, estamos tendo dificuldades em testemunhá-los.
O profeta Baruc, na primeira leitura, atua em um momento de profundo desespero para o povo de Deus, pois o país de Israel tinha sido invadido. Muitos tinham morrido e boa parte da população tinha sido levada para terras estrangeiras. A desesperança imperava no coração de todos que se sentiam abandonados por Deus.
A palavra do profeta é envolvente. Convida todos a depor o luto e a aflição e se revestir das graças de Deus. Como um manto, Baruc convida todos a se revestirem da glória, mas aquele que Deus concede; a se cobrir com a justiça, mas aquele que vem de Deus; e buscar, como um tesouro, a glória que conduz à eternidade com Deus. O profeta anuncia que Deus quer envolver a todos com uma veste nova e riquezas que somente Ele pode conceder. Nosso Deus conduzirá, Ele mesmo, seu povo para a terra onde se sentirão novamente como filhos e filhas Dele. Tudo será facilitado para essa viagem como montanhas e colinas que serão tiradas e vales e abismos que serão tampados, tudo para que o povo de Deus pudesse ter novamente sua dignidade. São palavras proféticas de esperança em um tempo com muitas dificuldades e desafios.
São Paulo, na segunda leitura, louva a Deus pela sua comunidade e renova o convite para continuarem crescendo na caminhada, que todos nós também devemos percorrer neste mundo. Os desafios e os riscos são constantes e, às vezes, se mostram como sendo imensos. Porém, se nos deixarmos guiar por Deus Pai, conseguiremos conquistar a nossa terra definitiva junto com Ele. Para tanto, diz São Paulo, é necessário discernimento, sermos íntegros e irrepreensíveis, pois o mundo constantemente apresenta inúmeras propostas para abandonarmos os valores e o projeto do Amor de Deus. Mais do que nunca, guerra, armas e violência estão sendo apresentadas como instrumentos do bem, mas, na realidade, vão somente aumentar a insegurança e produzir mais mortes: sempre foi assim e esta estrada não vai produzir outros frutos senão aqueles que já conhecemos na história.
No Evangelho de Lucas, temos uma descrição ampla daqueles que se sentiam os mais potentes e senhores do mundo da época de Jesus. O poder romano estava representado nos personagens lembrados por Lucas, que se sentiam imbatíveis e pensavam que tinham a história humana em suas mãos. Porém, tudo iria ter outro destino. Até mesmo os sacerdotes da época foram lembrados (Caifás era o principal, mas Anás ainda possuía muita influência). São sete personagens (número da perfeição) que representam todo o poder civil e religioso da época.
Lucas, ao apresentar e precisar em que período do tempo tudo iniciou, procura esclarecer que a história que está para contar não é uma fantasia ou criação de alguma pessoa, mas é concreta e bem definida no tempo e num lugar conhecido. Também procura revelar que todas essas forças políticas e religiosas serão envolvidas, de alguma forma, em tudo que estava para iniciar.
Após situar tudo e precisar os principais personagens que os mundos romano e judaico conheciam, Lucas diz que a Palavra de Deus veio até João que estava no deserto. Ele era alguém que estava fora de todo ambiente político, econômico e religioso. Uma pessoa que estava no deserto, não nos palácios reais e nem no Templo de Jerusalém. Deus escolheu alguém simples e quase insignificante aos olhos humanos para se tornar voz Dele em meio ao seu povo. Convocado do deserto, João teve a missão de percorrer toda a região do Jordão pregando um batismo de conversão dos pecados. O profeta do deserto anunciava com sua própria vida aquilo que pregava com suas palavras: penitência e conversão.
A missão de João Batista foi lembrada por Lucas como um cumprimento de uma profecia para o povo de Deus. Citando Isaías, o evangelista anunciou que a principal missão de João era preparar o caminho para a vinda do Senhor. A conversão e o perdão dos pecados tinham a missão de aproximar o povo de seu Deus e, assim, ser capaz de descobrir a presença Dele em seu meio.
Na primeira leitura, Baruc apresentou a promessa de um caminho sem obstáculo, de retorno para as terras deixadas pra trás. João Batista teve a missão de endireitar as veredas e derrubar todos os obstáculos para que todos tivessem acesso à salvação de Deus. Sabemos que ele conseguiu despertar a presença do novo que estava para acontecer com a vinda de Jesus Cristo, mas o mundo ainda não tinha aprendido a confiar em Deus.
Muitas montanhas e colinas ainda estão sendo levantadas e criadas. Muitos obstáculos estão sendo construídos. Em muitos projetos, Deus não faz mais parte. O mundo ainda insiste em se encantar com o brilho da luz e não com quem a produz. Muitos ainda se iludem com as grandezas das coisas do mundo e boa parte já perdeu a capacidade de enxergar a beleza da vida nas coisas simples e pequenas. O Natal será mais uma vez recordado por mil e um motivos, menos por Aquele que é a causa de tudo.
Os grandes da terra lutam pelos seus poderes e para se manterem em seus palácios, mas nós, que acreditamos na Misericórdia e no Amor de Deus, somos convidados a fazer outra experiência: cada um é chamado a deixar o encanto das grandes coisas desta terra e a escutar a voz no deserto para poder encontrar no Natal do Senhor a glória e a salvação para todos nós em um simples sorriso de uma criança.