#Reflexão: 30º domingo do Tempo Comum (29 de outubro)

25 de outubro de 2023

A Igreja celebra o 30º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (29). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Ex 22,20-26
Salmo: 17(18),2-3a.3bc-4.47.51ab (R. 2)
2ª Leitura:1Ts 1,5c-10
Evangelho: Mt 22,34-40

Acesse aqui as leituras.

“AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO!”

            Jesus depois que chegou no Templo de Jerusalém iniciou, naquele lugar santo para os judeus, o anúncio do Reino de Deus que Ele veio inaugurar. Os diversos grupos responsáveis pela religião da época se revoltaram contra Ele e decidiram “desmascará-Lo” diante do povo, revelando que Jesus era um impostor e que não ensinava aquilo que estava da religião que todos seguiam. Mas o que aconteceu foi o contrário.

A disputa apresentada no Evangelho deste domingo se insere dentro das quatro perguntas propostas pelos opositores de Jesus quando Ele estava no Templo: “Com que autoridade, fazes isto?” (21,23); “É lícito pagar o imposto a César?” (21,17, texto de domingo passado); “Qual dos sete será o seu marido?” (21,28, questão sobre a ressurreição) e “Qual é o grande mandamento?” (21,36, Evangelho deste domingo).

Os inimigos de Jesus queriam “pegá-Lo em uma palavra”, como naquele tempo, também hoje muitos ficam à espreita, ouvindo aqueles que estão à frente das comunidades cristãs para tomar “palavras” ou “frases soltas” para acusar erros e alimentar iras e oposições, também estão a serviço do mal e não do bem.

Jesus no Evangelho deste final de semana encontra-se, mais uma vez, diante de seus principais opositores: os fariseus. O novo tema proposto para Jesus foi pensado somente para pegar Nosso Senhor em suas palavras. Até a Palavra de Deus e as Leis que eles seguiam se tornaram instrumentos da maldade que cultivavam contra Jesus.

Mateus recorda, inicialmente, os debates vencidos por Jesus (o anterior tinha sido contra os saduceus) e isto teria inflamado ainda mais a ira dos seus rivais. Os fariseus tentam mais uma vez criar uma armadilha para usar contra Jesus. Como antes, o grupo discutiu e arquitetou tudo, mas somente um foi propor para Jesus a pergunta. Um somente propõe a questão, mas todos estavam atentos à resposta para utilizarem contra Jesus.

Os fariseus estavam convencidos de suas verdades e seus costumes, por isso nem têm mais vergonha de esconder tudo em palavras falsas que eles mesmos não acreditavam. O doutor da Lei que apresenta a pergunta chama Jesus de “Mestre”. Sabemos que, de fato, Cristo é o Mestres dos Mestres, mas para eles, chamar Jesus desta forma era condicionar as palavras Dele e assim, caindo em erro, eles pensavam que estariam desmascarando um “falso doutor da Lei”.

A pergunta aparentava não ter nenhuma malícia: “Qual é o maior Mandamento da Lei?” Sabe-se que os fariseus, ao longo da história, foram acrescentando outros mandamentos e proibições além dos Dez Mandamentos. Os rabinos (mestres da lei judaica) achavam que esses Mandamentos eram muito “abertos” e não contemplavam todos os particulares da vida de um fiel judeu. Assim, no tempo de Jesus, eles tinham atingido o número de 613 Mandamentos sendo que 365 eram de proibições (praticamente um por dia) e 248 prescrições (que eram iguais ao número de ossos que conheciam do corpo humano).

O “universo” de leis, mandamentos e proibições tornava a vida de um fiel judeu um grande tormento, pois a facilidade de se esquecer ou “pular” um deles era muito grande. Somente poucos judeus conseguiam viver plenamente todos 613 mandamentos. Mas, a pergunta do fariseu doutor da Lei tinha uma armadilha, pois todos os mestres judeus e aqueles que conheciam as Leis e costumes da religião judaica tinham definido que o “maior Mandamento da Lei” era o sábado, pois era o único que o Deus mesmo tinha observado (“e no sétimo dia, Deus descansou”). Talvez esperassem que Jesus citasse e confirmasse o Mandamento da Torá (Lei judaica) sobre o sábado e assim, eles iriam “jogar na cara” de Jesus questionando-O porquê então, não o observava.

 Mas, Jesus não entra no jogo de seus opositores como no Evangelho de domingo passado sobre o imposto a Cesar. Assim, a questão apresentada foi sobre a Lei e Jesus vai buscar na própria Lei a resposta.

Os Mandamentos da Aliança (10 mandamentos) iniciam quase todos com preceitos e normas rigorosas: “não terás outro deus… não adorarás outros deuses… não pronunciarás o nome de Deus em vão…”. Uma linguagem imperativa que o fiel era chamado a viver imediatamente. Esses Mandamentos conhecidos vinham “de fora” e a pessoa tinha que se ajustar e se adequar a eles. O judeu observante baseava a sua vida em cumprir preceitos, rituais e observar proibições, pois para ele, Deus era um juiz que todos deveriam, um dia, prestar contas se tinham cumprido ou não todos eles. Jesus, no entanto, não pensa e não segue este caminho.

Jesus inicia com “amarás”. O amor é algo que a pessoa escolhe e por isto, vem de dentro. Um verbo que está no futuro, como algo que se deve buscar e esperar; como uma necessidade ou um projeto que se deve construir a cada instante e que não está pronto. Se fosse no presente: “ame” poderia ser também lido como um imperativo, mas Jesus não quer nada como uma imposição, mas como escolha, como sempre fez: “Se quiser me seguir…”. “Amar” é algo que está em sintonia com a nova visão que Jesus tem de Deus. Deus é amor, por isto, Ele não fala mais em Mandamentos ou preceitos. Segundo Jesus, nós temos que viver como Deus é! Lembrando que este trecho não foi inventado por Jesus, mas se encontra em Dt 6,5.

Este Mandamento novo do amor tem que ser assumido e praticado com a intensidade de uma vida, como se toda a nossa vida dependesse disto. Não é algo parcial e nem circunstancial, mas com “todo o teu coração” (com toda emoção e sentimento), “toda a tua alma” (como se tudo dependesse disto para existirmos e continuarmos a viver) e com “todo o teu entendimento” (também com toda inteligência e pensamento). O amor deve ser a razão de ser, pensar e agir de cada um. Toda a vida deve ser vivida no amor. Deus não é objeto somente do sentimento (coração), ou algo espiritual (alma), mas também é razão (pensamento). O caminho para se chegar a Deus não parte e nem se fixa nos Mandamentos, mas no amor.

O judeu rabino perguntou qual era “o maior”, Jesus acrescenta um segundo por sua conta. E, novamente, utilizou o Antigo Testamento citando “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). E acrescenta que o primeiro e segundo são “semelhantes”: não tem como separar o amor a Deus do amor ao próximo, pois os dois não são concorrentes e nem se opõem. Ambos necessitam de mesma atenção e cuidado: se deve dedicar ao próximo o mesmo grau e importância que se dedica ao amor de Deus. E Jesus completa a resposta dizendo que se deve fazer tudo como se fosse a forma de “amar com a si mesmo”.

Para Jesus não há nenhum erro em ter amor a si próprio, mas sem o amor ao próximo e o amor a Deus, tal amor pessoal se torna egoísta e destrói a pessoa. No mundo de hoje, o “amor a si mesmo” é colocado como Mandamento supremo e único; para Jesus, ele somente encontra sentido, é fecundo e salutar se colocado em igual importância e valor que o amor ao próximo e a Deus.

Para Jesus a melhor forma de buscar sentido para sua vida (“Amar a si próprio”) é amar de igual modo e com a mesma intensidade a Deus e ao próximo. De fato, Jesus transformou cada pessoa humana como “local” do encontro com Deus. Nosso Deus Pai se encontra no rosto de cada pessoa que encontramos.

Por isto, entendemos as palavras fortes e de ameaça que o escritor sagrado na 1ª leitura diz sobre o descaso e a exploração do pobre e do necessitado: É como se tudo estivesse sendo realizado contra Deus. O pobre explorado passa a ser o caminho para Deus se revelar e intervir na história e se manifestar como juiz a favor dos mais necessitados. Mais do que doutrinas e obras, Paulo elogia a fama da comunidade que tinha se espalhado por toda a região, como uma comunidade que vive a fé em Jesus. Uma comunidade cristã que tinha se tornado conhecida muito além da região por causa da sua acolhida e hospitalidade.

A melhor forma de nos aproximarmos de Deus Pai cheio de misericórdia é viver como Jesus viveu: no amor pleno a Deus em cada pessoa que Ele encontrava.

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