#Reflexão: 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 24 de outubro)

18 de outubro de 2021

A Igreja celebra neste domingo (24) o 30º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a liturgia deste dia.

1ª Leitura – Jr 31,7-9

Salmo – Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)

2ª Leitura – Hb 5,1-6

Evangelho – Mc 10,46-52

Acesse aqui as leituras.

 

ACREDITAR NA COMPAIXÃO DE DEUS

Pe. Dirlei Abercio da Rosa
Presbítero da arquidiocese de Pouso Alegre,
mestre em Ciências Bíblicas (Instituto Bíblico, Roma)
e professor da Faculdade Católica de Pouso Alegre

A passagem do Evangelho deste domingo assinala o último evento antes de Jesus chegar a Jerusalém. Ele estava fazendo o mesmo caminho dos peregrinos que saiam da Galileia, percorriam o Jordão e, depois em Jericó, subiam para a Cidade Santa. Nesse caminho, Jesus foi se revelando aos poucos e, principalmente, procurando antecipar parte daquilo que aconteceria em Jerusalém. Nessa jornada de peregrinação, o povo que seguia Jesus estava mais interessado em sinais e prodígios e os apóstolos, mais interessados em coisas terrenas.

Jericó encontra-se abaixo do nível do mar: um dos lugares mais baixos da terra. Nos Evangelhos, poucos são os casos em que os personagens possuem um nome. Na passagem de hoje, o cego chama-se Bartimeu e Marcos reforça: “filho de Timeu”. Ele era cego e mendigava ao longo da estrada. Naquele tempo de Jesus, qualquer doença era encarada como um castigo e a cegueira impedia a pessoa de realizar qualquer atividade.

Bartimeu, sendo cego, era considerado um pecador e era desprezado por todos. Porém, aquela ocasião era especial: estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos estavam fazendo aquele mesmo caminho para chegar a Jerusalém. Havia o preceito de dar esmolas naquela ocasião. Assim, o cego estava sentado enquanto a multidão caminhava para a Cidade Santa. Desprezado, sozinho e fora da cidade, ele encontrava-se à margem do caminho. Dos peregrinos, esperava qualquer moeda que alguém jogasse em seu manto, colocado sobre suas pernas.

Os relatos de curas de cegos possuem uma importância singular nos Evangelhos. Incapazes de enxergar, eles têm que acreditar no que escutam (como no tempo do anúncio da Igreja). Ao redor de Jesus, a multidão esperava sempre “ver” prodígios e curas. Muitos até cobravam sinais antes de acreditar (os fariseus). No entanto, o cego Bartimeu, sem ver nada, acreditou fortemente em Jesus.

Ele não podia ver, mas demonstrava que estava sempre atento àquilo que os outros falavam. Estando naquele lugar (à beira da estrada), certamente, tinha ouvido inúmeras histórias sobre “um tal Jesus”. Ninguém lhe dava importância, mas ele estava atento às conversas de todos. O cego estava sentado à beira do caminho, o que impedia Jesus de vê-lo. Ele não teve dúvidas, quando percebeu que Jesus estava passando por ali. A fama de Jesus tinha chegado até ele não pela visão, mas sim pelos ouvidos (pela evangelização!).

Nesse caminho, os discípulos não se mostraram em sintonia com a proposta de Jesus. Eles, juntamente com o povo que buscava sinais, impediam os mais necessitados de se aproximarem de Cristo. Porém, com Bartimeu, foi diferente. A multidão impedia Jesus de ver o cego. Ele já estava passando. Assim, o cego começou a gritar (era cego, mas não mudo) e o fez de um modo forte para que todos percebessem. “Muitos o repreenderam” – nos diz Marcos – talvez pessoas do povo ou os discípulos. Jesus já tinha feito tantos e todos os tipos de milagres. Essas pessoas se sentiam no direito de “escolher” quem Jesus deveria dar atenção. Eles se comportavam como obstáculo e intermediários e não como ponte e caminho para que as pessoas chegassem até Jesus.

O cego gritou duas vezes: “filho de Davi, tende compaixão de mim!” Ele reconheceu que Jesus era da linhagem messiânica de Davi, mas apelou para sua compaixão. Bartimeu não pediu “perdão por seus pecados”. O seu pedido foi de misericórdia e compaixão. Ele era cego, ninguém o via, mas implorou que Deus o enxergasse. Diante dos gritos insistentes do cego, Jesus parou sua caminhada e pediu que alguém chamasse aquele que gritava. No meio da multidão, alguém se comportou do modo que Jesus desejava e trouxe até o Cristo aquele que gritava. Essa pessoa se aproximou com três palavras de encorajamento: “coragem”, “levanta-te” e “ele te chama”.

Bartimeu demonstrou já se tornar outra pessoa somente pelo fato de alguém lhe referir as palavras de Jesus. Primeiro, ele jogou fora seu manto, a única coisa que possuía e que servia para pedir esmolas e se proteger do tempo. Ele não teve dúvidas e, cheio de confiança, creu e confiou que tudo seria diferente e a sua vida seria transformada. Ele não estava apegado a nada nem ao mínimo (diferente do jovem rico, do 28º domingo do Tempo Comum, que possuía muita riqueza). Depois, ele se levantou com um salto, fazendo algo extremamente decisivo e confiante, nem esperando ajuda de alguém. Ele era cego, mas não era um paralítico. Por fim, foi até Jesus. Com limites profundos (cegueira), caminhou firme e decisivo, como um discípulo ideal que Jesus desejava.

No encontro com o Mestre, Jesus fez ao cego a mesma pergunta que fez aos apóstolos que estavam interessados em reservar posições ao seu lado (29º domingo do Tempo Comum): “Que queres que eu te faça?” Diante da pergunta de Jesus, ele apresentou a sua necessidade fundamental. Ele introduziu com palavras como se fosse um discípulo: “Rabôni” (“meu Senhor”). O seu pedido foi: “que eu recupere a vista”. Ele pediu aquilo que lhe poderia devolver a dignidade.

Jeremias, na primeira leitura, retratou um período no qual as necessidades mais fundamentais do ser humano seriam atendidas por Deus, entre elas a cegueira. Jesus cumpriu essa profecia. Por fim, Jesus atendeu ao pedido de Bartimeu, mas com uma ênfase fundamental: “tua fé te salvou”. Ele possuía uma fé especial que Jesus procurava em meio aos discípulos e na multidão. Bartimeu, ao se ver curado da cegueira, resolveu se tornar discípulo de Jesus, “seguindo pelo mesmo caminho”. Para Bartimeu, a fé chegou até ele através das histórias e até de testemunhos de outras pessoas que lhe narravam sobre Jesus. Esta deve ser a nossa missão através de nosso testemunho, de nossa humanidade na prática da compaixão (como sugere a 2ª leitura deste final de semana ao sacerdote), de nossas palavras e de nossa vida ao anunciar a fé em Jesus de Nazaré.

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