#Reflexão: 3º Domingo da Páscoa (14 de abril)
A Igreja celebra o 3º Domingo da Páscoa, neste domingo (14). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: At 3,13-15.17-19
Salmo: 4,2.4.7.9 (R. 7a)
2ª Leitura: 1Jo 2,1-5a
Lc 24,35-48
NÓS SOMOS TESTEMUNHAS!
Os textos que relatam a Páscoa de Cristo retratam experiências pessoais e comunitárias entre o Ressuscitado e os seus discípulos. Após a sua ressurreição, era necessário que Jesus tocasse pessoalmente os discípulos que ainda estavam mergulhados nas dores e nos sofrimentos da negação de todos e da perda de seu Mestre.
No Evangelho deste domingo, Lucas parte de mais uma experiência pessoal de dois discípulos que após uma caminhada juntos com Jesus Ressuscitado, O reconhecem quando Ele partiu o pão e em seguida partiram para retornar à Jerusalém.
Certamente, tinham participado da “Última Ceia” e o gesto definiu a vida inteira de Jesus Mestre: repartir, doar-se, entregar-se totalmente pelo bem do próximo.
O Domingo da Páscoa foi um dia da experiência profunda entre os discípulos e Jesus que procurou resgatar e retomar sua comunhão com eles a partir de um gesto (como partido do pão), uma palavra conhecida ou o nome pessoal de cada um. As experiências pessoais ajudaram a dar início ao novo momento que Jesus tinha planejado para os seus discípulos, mas era necessário que o grupo dos apóstolos, a comunidade que Ele próprio fundou, sua Igreja, fosse testemunha da Ressurreição.
Assim, enquanto os discípulos que tinham retornado de Emaús contavam com alegria e entusiasmo que também eles tinham visto o Ressuscitado, Cristo se apresenta e se coloca no meio deles (Jesus Cristo como centro!).
No meio: não acima deles; não na frente, para que ninguém interrompesse a comunhão com o próximo. Mas no meio: todos são igualmente importantes e Ele é o centro do olhar de todos.
Em todas as experiências com Jesus ressuscitado desde o início do Domingo da Páscoa, tudo acontece aos poucos, sem barulho ou impacto: Jesus se revela e os discípulos permanecem ainda confusos, Cristo lhes fala de algo que toca seus corações, por fim, cada pessoa percebe que está diante do Mestre Ressuscitado. Já nas manifestações em comunidade (ao final do dia), Jesus aparece e se revela claramente e imediatamente a todos.
Lucas repete a “palavra chave” usada por Jesus para mostrar a todos os presentes que era Ele realmente: “A paz a vós!”.
Jesus Ressuscitado é o Senhor da Paz e da Vida Nova e não da violência e da vingança! Em quase todos os relatos sobre as aparições do Ressuscitado, o medo era o sentimento inicial presente nos corações de todos, por isso, Jesus cura a todos derramando sua paz. Ninguém tinha vivido e ensinado o verdadeiro valor da palavra paz, senão Jesus enquanto esteve com eles.
Mas, não obstante tantos os relatos e as experiências pessoais, todos ainda tiveram dificuldade de, imediatamente, acreditar que se tratava do mesmo Jesus que eles conheceram. Lucas – como os outros evangelistas – narra as tentativas da parte de Jesus Ressuscitado de mostrar que não se tratava de uma visão, ou de outra pessoa ou pior ainda, de um fantasma, mas que era Ele próprio, Jesus de Nazaré que eles tinham conhecido.
Jesus é o mesmo de sempre e ao mesmo tempo é diferente, transformado; é o mesmo de antes, mas não mais como antes: a Ressurreição não é um simples retorno para esta vida, é avançar pra frente, é transformação, é plenitude.
A ressurreição não é um reavivamento (retorno para a vida de antes), mas uma vida nova a partir desta nossa vida; não é algo totalmente estranho distante de nossa realidade presente, mas uma continuidade desta nossa realidade em uma dimensão de perfeição e santidade. Consola-nos em ver a dificuldade de todos em acreditar de imediato em Cristo Ressuscitado, é a garantia de que não se trata de um acontecimento inventado por eles, mas de um fato que os chocou e que tiveram dificuldade para entender e acreditar.
Assim, Cristo, para eliminar definitivamente qualquer dúvida, desafia a todos a tocá-Lo: Ele estava vivo e presente, por isso afirma: “um espírito não tem osso!”. Mesmo assim, a comunidade dos discípulos que tinha caminhado por três anos com Nosso Senhor ainda vacilava em acreditar que se tratava do mesmo Jesus Mestre que eles tinham conhecido. “Eu não sou um fantasma”. Impressiona-nos o lamento de Jesus, um lamento muito humano: não sou um sopro no ar, um monte de palavras cheio de vento… Ele quer ser acolhido como um amigo que volta de longe, de ser abraçado com alegria. Você não pode amar um fantasma ou mantê-lo perto de você, é o que Jesus pede (Ermes Ronchi).
Por isso, o Ressuscitado apelou para o gesto de intimidade que eles conheciam: compartilha com eles uma porção de peixe assado. Sentar-se a mesa e comer do mesmo pão e peixe, certamente tinha sido algo diário entre Jesus e os seus discípulos. Em torno da mesa, Nosso Senhor deve ter conversado e ensinado muita coisa.
Por fim, os apóstolos se rendem a partir de uma porção de peixe assado, gesto profundamente familiar, realidade humana das mais profundas; um pedaço de peixe assado, rompe seus corações, não uma profunda teologia ou uma revelação espetacular. Eles o contarão como prova do encontro com o Ressuscitado: “comemos com ele depois da sua ressurreição” (At 10,41). Comer é sinal de vida; comer juntos é o sinal mais eloquente de uma comunhão redescoberta; um gesto que fortalece os vínculos das vidas e as faz crescer. Juntos, alimentamo-nos de pão e de sonhos, de entendimentos e de reciprocidade. E conclui: vocês são minhas testemunhas. Não pregadores, mas testemunhas, isso é outra coisa.
Jesus sempre promoveu como meio principal de evangelização os encontros pessoais e comunitários. As palavras do Mestre ganhavam um gosto pessoal e íntimo quando sempre eram seguidas com gestos concretos de fraternidade e de acolhida.
Compartilhar sentimentos de amor e paz, de comunhão e perdão foram sinais sensíveis que Jesus deixou no coração dos apóstolos e dos discípulos, por isso, em suas aparições Nosso Senhor retoma a comunhão com todos com esses mesmos gestos conhecidos por eles.
Sanada a dúvida de que se tratava do mesmo Jesus que conheceram, mas agora ressuscitado e vivo em meio a eles, era necessário aprofundar os fatos e tudo que tinha acontecido. Cristo usa o mesmo precioso instrumento para revelar que nada do que aconteceu, por mais estranho e doloroso que tinha sido, estava fora do projeto de Deus. As Escrituras já tinham previsto tudo, mas ninguém tinha atinado para isto. Dessa forma, agora com toda comunidade reunida, Jesus explica e aprofunda os fatos de sua paixão através da Palavra de Deus.
A Bíblia sempre foi e será o principal instrumento do encontro e da intimidade com Deus. Mais do que conhecimento, Deus quer sempre tocar e iluminar os nossos corações com suas Palavras.
Em sua catequese com as Escrituras, o ponto principal que Jesus procurou frisar foi sobre a remissão dos pecados.
A sua morte e a ressurreição de Cristo não foram um gesto isolado ou algo corajoso, mas redentor e salvador de toda a humanidade. Por isso, a Páscoa de Jesus (sua morte e ressurreição) deveria ser anunciada por todos e a todos. Eles deveriam ser “Testemunhas” (não somente anunciadores) desta verdade.
As revelações pessoais foram o ponto inicial naquele Domingo do Ressuscitado, mas era fundamental que o grupo dos apóstolos e discípulos, a sua Igreja, fizesse a mesma experiência comunitária da fé, pois mais que “encontros pessoais” com o Ressuscitado, deveriam anunciar uma mesma é única fé no Cristo Jesus Vivo e Ressuscitado, uma fé comum da Igreja de Cristo.
Nos textos que seguem a ressurreição de Cristo que encontramos nos Atos dos Apóstolos vemos o testemunho não de experiências pessoais, mas da fé da Igreja de Cristo: “Nós somos testemunhas!” Não um Jesus Cristo pessoal e moldado aos caprichos pessoais de cada um, mas o Cristo de sua Igreja, revelado a sua comunidade de discípulos. Sozinhos, certamente, teriam conseguido muito pouco, mas como Igreja, eles conseguiram vencer todos os obstáculos.
Pedro, na primeira leitura, anuncia Jesus Ressuscitado partindo das Escrituras (como o próprio Ressuscitado fizera com eles) e destemido denuncia o erro e o pecado de todos (“vós renegastes o próprio Santo e Justo…”), mas também anuncia o caminho de Salvação: arrepender dos pecados. Ele mesmo tinha experimentado o pecado de negar o Senhor e foi perdoado. Pedro anuncia a partir de sua experiência pessoal de ser perdoado pelo Ressuscitado que derrama sua paz que sana todo erro e todos os pecados.
A grande potência do anúncio dos apóstolos estava principalmente baseada no testemunho de vida e na força de suas palavras que eram já um “Evangelho vivo” de Cristo Ressuscitado. Vendo como viviam e como anunciavam, as pessoas se questionavam e se interessavam em conhecer aquele que é o nosso Salvador e Intercessor junto ao Pai (2a leitura).
Anunciar hoje Jesus Cristo, como foi no início da Igreja, é mostrar com testemunho de vida que as palavras têm um valor capaz de transformar tudo em paz e alegria. “Nós somos testemunhas” diziam os apóstolos ao final de cada anunciou sobre o Cristo Jesus. E nós hoje? O que cada um está testemunhando com sua vida aos outros sobre Jesus Cristo?