#Reflexão: 3º domingo da Quaresma (03 de março)
A Igreja celebra o 3º Domingo da Quaresma, neste domingo (03). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ex 20,1-17
Salmo: 18(19),8.9.10.11 (R. Jo 6,68c)
2ª Leitura: 1Cor 1,22-25
Evangelho: Jo 2,13-25
ZELO PELA CASA DE DEUS
Na caminhada quaresmal que estamos fazendo, escutamos com frequência, o convite de Deus à conversão e à mudança de vida. Conversão significa mudar de estrada e retomar o caminho de Deus. É sempre bom recordar que Deus deixou bem claro a via pela qual Ele quer que nós caminhemos. Como um bom Pai, Ele nos ensina o caminho, mas cada filho seu deve fazer sua escolha procurando colocar em prática o que Ele ensinou.
Na primeira leitura recordamos outra montanha da história do Povo de Deus (domingo passado foi o Monte Tabor).
No monte Sinai deste domingo, Deus deixou suas palavras para os seus filhos que, originalmente, eram “10 palavras” (cf. Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4) como se pode perceber em alguns preceitos (“não matar”, “não roubar”). Com o passar do tempo se transformaram em “10 mandamentos” com mais detalhes.
Os judeus estudiosos das Escrituras organizaram os Mandamentos de um modo que temos na Bíblia; Santo Agostinho (viveu de 354-430) de outro modo e os cristãos ortodoxos, um terceiro modo. A ordem das “10 Palavras” em algumas citações na Bíblia nem sempre segue a disposição como lemos na primeira leitura de hoje (Ex 20,1-17). Jeremias (Jr 7,9) e Oseias (4,2) citam os Mandamentos não seguindo a ordem de Ex 20. O próprio Jesus, ao lembrar os Mandamentos, cita alguns, não propriamente conforme o modo apresentado por Deus a Moisés (cf. Mt 19,18s; Mc 10,19; Lc 18,20).
Os Mandamentos foram dados por Deus em um momentos muito especial: quando o povo tinha deixado o Egito e se encontrava em caminhada pelo deserto para entrar na Terra Prometida. Após fazer aliança com seu povo era necessário estabelecer as condições para que todos perseverassem e fossem fiéis ao pacto com Deus. O Decálogo (“Dez Palavras”) não é um elenco de leis como um código legal, pois não existe punição para quem inflinge cada mandamento. Ele nasce não de um rei que quer regular a vida das pessoas e punir quem não cumpre sua vontade, mas de um Deus que lutou pelo seu povo e que estava conduzindo todos a sua Terra Prometida.
Os preceitos são indicações, princípios dados por Deus e têm a função de transformar aquela “multidão” em “Povo de Deus” com uma identidade definida pelas “10 Palavras”, pois acima de tudo, mais de que um elenco de leis, os mandamentos retratam a profunda relação com Deus e como todos deveriam viver entre si como Povo escolhido por Deus.
As palavras iniciais dos Mandamentos de Deus possuem a missão de preparar a todos em relação àquilo que iriam encontrar na Terra Prometida: muitos povos com seus deuses, bem como práticas diferentes de religião. Para cultuarem seus deuses, aqueles povos se serviam de ídolos para evidenciar suas divindades que nada mais eram que representação de animais ou algo da natureza. Nosso Deus é muito maior do que isto. Assim, Deus quis exortar o povo hebreu em relação à tentação de construir seu próprio deus fabricando ídolos e colocando-os no lugar do Deus Verdadeiro (fabricar ídolos para adorar).
O seu povo deveria ser o sinal neste mundo do Deus Único e Verdadeiro através da prática dos mandamentos. Para a Bíblia, Deus não precisa de representantes na natureza, pois nós – homens e mulheres – somos seus representantes como “imagem e semelhança” de Deus, por isso, somos “um reino de sacerdotes” (Ex 19,6), “nação eleita, sacerdócio real, nação santa…” (1Pd 2,9).
A tentação era grande naquele tempo de adotar ídolos (coisas deste mundo) como deus próprio e pessoal. Como naquele tempo, hoje são muitos os ídolos que estão ocupando o lugar de Deus. No tempo do povo de Deus, os ídolos de outras divindades eram o maior risco que o povo de Deus tinha para se esquecer do Deus Verdadeiro; hoje, os ídolos criados pelas pessoas são muitos e nem sempre são físicos e visíveis como: o dinheiro, o prazer egoísta pelas coisas do mundo, o poder, a ganância etc. Enquanto em outras religiões, os ídolos representavam as divindades cultuadas, o Povo de Deus estava sendo preparado para ser o representante do Deus Verdadeiro através da vida de cada um, assim, através da fidelidade aos Mandamentos, o povo se tornava o sinal da presença de Deus neste mundo.
Os outros mandamentos reforçam outros aspectos da relação com Deus: não usar do nome de Deus pra qualquer coisa, pois o respeito já se inicia com a invocação do Seu Nome; o Sábado é o dia da intimidade entre Deus, seu povo e de todos entre si (grande novidade diante de outros povos), é o dia do descanso, pois o povo de Deus não é mais escravo de ninguém. Assim, também deve ser para nós cristãos o domingo! Após as Palavras que fundamentam a relação do povo com seu Deus, os mandamentos também ajudam na relação que cada pessoa deve ter com os outros a começar pelos pais que devem ser respeitados sempre: eles são os responsáveis pela vida e são instrumentos de Deus. Depois seguem os preceitos em relação ao próximo: não matar, não cometer adultério, não roubar, não testemunhar em falso e respeitar o que pertence ao outro.
Naquele tempo, a mulher contava como um bem que pertencia ao marido e juntamente com todas as outras coisas que pertenciam a ele (animais, casa etc.) e por isto, a mulher não deveria ser cobiçada. Na tradição cristã, os Mandamentos foram sintetizados em preceitos básicos e fundamentais e se viu por bem, em respeito a condição da mulher, não citá-la mais como um objeto entre outros que pertencem ao marido, mas como um preceito voltado ao respeito para com a família do próximo não combiçando, assim, a mulher/marido do(a) outro(a).
Assim, os 10 Mandamentos iniciam com os pontos principais da fé em Deus; passa para aquilo que é mais sagrado e próximo em nossa relação humana: os pais e a vida; e se encerra com aquilo que pertence ao próximo.
Jesus em toda sua vida nos dá exemplos concretos de como devemos respeitar as pessoas a partir daqueles que mais sofrem e quando se encontram abandonados. No Evangelho deste domingo, Jesus demonstra o seu zelo pela casa de seu Pai. O Templo de Jerusalém e as nossas igrejas de hoje não podem se transformar em um comércio onde o dinheiro ocupe o lugar de Deus. De fato, naquela tempo, a religião se transformou em uma forma de muitos se enriquecerem e os seus líderes religiosos, de explorar o povo.
O problema não estava nem nos sacrifícios e nem mesmo nas práticas das festas, dos preceitos e costumes, mas em relação àqueles que perceberam que os preceitos deixados por Deus poderiam se transformar de enriquecimento pessoal: se transformaram em “atravessadores” da fé.
Uma verdadeira prática religiosa deve se pautar pela conformidade ao estilo de Jesus: humildade, vida simples e acima de tudo, uma vida em plena doação ajudando ao próximo. Os cambistas daquele tempo estavam somente interessados em lucrar com as práticas religiosas das pessoas e não se importavam com elas. A reação de Jesus foi decisiva e marcante: expulsou com um chicote a todos (fato retratado pelos quatro evangelistas).
Jesus reclama uma profundidade de vida e uma relação nova entre as pessoas, umas com as outras e com Deus. O comércio em que tornou a relação entre os fiéis com Deus através da religião da época, impedia as pessoas de verem Deus como Pai que quer sempre o bem de todos. Por isso, Jesus aprofunda a questão transportando a importância do Templo de Jerusalém para Si próprio: Ele deverá se tornar o novo meio de relação entre Deus com as pessoas, mas entre Jesus e o seu povo deverá imperar a gratuidade Daquele que se doa plenamente para salvar a humanidade e do mesmo modo todos devem viver entre si.
Os ídolos deste mundo oferecem coisas deste mundo (prazer, alegrias passageiras, felicidades limitada…), jamais têm condições de dar às pessoas aquilo que é eterno e pleno que somente Deus pode nos dá. Para tanto, não são as riquezas deste mundo que devemos procurar (ídolos feitos por nossas mãos), mas aquelas deixadas por Jesus. Paulo na segunda leitura compartilha os valores que para ele eram os principais e que jamais deixava de anunciar mesmo que fossem considerados loucura ou escândalo para muitos: Cristo Crucificado. Sinal do extremo amor de Deus que morreu por nós e ao mesmo tempo expressão daquilo que é fundamental e básico para nossa salvação.