#Reflexão: 3º domingo do Tempo Comum (21 de janeiro)

17 de janeiro de 2024

A Igreja celebra o 3º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (21). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Jn 3,1-5.10
Salmo: 24(25),4ab-5ab.6-7bc.8-9 (R. 4a.5a)
2ª Leitura: 1Cor 7,29-31
Evangelho: 1,14-20

Acesse aqui as leituras.

ACOLHER O CHAMADO E EVANGELIZAR

A evangelização constitui uma das grandes necessidades para o nosso tempo, inclusive em meio a tantos que foram batizados, mas vivem distante da prática dos ensinamentos deixados por Jesus. Ele nos chama! Cabe a nós responder com prontidão e seguir a sua voz. As leituras deste domingo apresentam dois modelos de evangelizadores: Jonas e Jesus.

Na 1a leitura, temos a história de um profeta difícil e cheio de manha. No tempo em que foi escrito o livro de Jonas, sabe-se que Israel estava se fechando aos povos estrangeiros. Um sentimento de insegurança e até ódio estava se fortalecendo entre os judeus que começaram a pensar que todos aqueles que não pertencessem à história antiga dos hebreus e não fossem descendentes dos antepassados do povo de Deus, deveriam ser excluídos e considerados impuros. Muitos judeus e sacerdotes foram expulsos do meio do povo porque não conseguiram provar que pertenciam ao povo escolhido por Deus.

Pois bem, o profeta Jonas foi enviado para anunciar um tempo de conversão exatamente ao povo estrangeiro de Nínive. Jonas reluta em aceitar a missão, tenta fugir, acaba no meio do mar, engolido por um grande peixe e por fim, aceita cumprir a missão que Deus lhe havia pedido.

Proclama a Palavra de Deus contra sua a vontade, anuncia tudo com ameaças e pragas e o faz em uma única frase. Ele era profeta (homem de Deus), mas pregar em Nínive era algo difícil e contrário aos seus princípios. Nínive tinha sido capital do império assírio, povo inimigo do povo de Deus, além disso, se encontrava em terras distantes, aquela gente não pertencia nem ao povo de Deus e nem mesmo seguia a religião de Israel. No passado, os assírios tinham invadido o reino do Norte de Israel e algumas tribos do povo de Deus tinham sido escravizadas. É a mesma região da Galileia onde Jesus começa sua evangelização.

Deus precisava de um instrumento para chegar até aquelas pessoas e Jonas era o seu profeta. Deus conseguiu fazer com que ele mudasse de direção (ele tentou fugir pelo mar e depois foi a pé até Nínive), mas o profeta não quis mudar de mentalidade. Nínive é descrita com uma cidade gigante (três dias de caminhada para atravessá-la), imensa como o mundo que precisava receber a Palavra de Deus.

Jonas, mesmo contrariado, cumpre sua missão, mas o faz em tom ameaçador, no fundo, ele não pensava que aquela gente iria mudar de vida e assim, seriam todos destruídos pelo seu Deus. Tudo se transforma naquela cidade com as Palavras ditas pelo profeta. Bastou somente um dia de caminhada para que todos se convertessem.

O amargurado e difícil profeta Jonas conhecia Deus e sabia de sua força através de sua misericórdia. Contra aquele povo, desejava somente o poder de Deus, mas para destruir e punir e não da misericórdia divina. Jonas queria que aquela gente experimentasse um castigo pelos erros do passado. Ele era fixo no passado, e estava fechado à misericórdia de Deus que é sempre atual. Mas, Deus é paciencioso com Jonas e com o povo de Nínive. Nós, muitas vezes, nos fixamos demasiadamente no passado (pontos negativos) e isto obscurece o presente e até o amor de Deus. Jonas, pelo menos e até mesmo meio forçado, cumpriu a vontade de Deus e anunciou sua Palavra que converteu uma imensa população.

Como somos iguais a Jonas! Nós que já conhecemos tanto de Deus e até de sua misericórdia, mas muitas vezes, queremos e insistimos que tudo seja feito conforme o nosso modo de ver e segundo a nossa vontade. Queremos receber graças, curas, “vitórias”, mas poucos se dispõem a ser instrumento de tudo isto para outras pessoas: os pecadores, os mais necessitados e os excluídos de nossa sociedade. Jonas era assim, mas nós não somos tão diferentes dele.

No Evangelho deste Domingo, nos encontramos no início da missão de Jesus, logo depois de seu Batismo. Marcos nos diz que tudo teve início com uma trágica notícia da prisão de João Batista. Multidões tinham encontrado no precursor um raio de esperança e de mudança, mas tudo estava se encaminhando para ter o mesmo fim conhecido: alguém que se tornou perigoso para os romanos, simplesmente, porque deu uma nova esperança.

Jesus anuncia em meio a uma crise instalada com a prisão de João Batista. O Batista “foi entregue”, forma preferida por Marcos para falar do fim do precursor como também de Jesus (cf. 3,19; 151,15).

O Messias inicia sua missão anunciando que o tempo de Deus tinha chegado a sua plenitude: “Completou-se o tempo (kairós)”. Não se trata de um “tempo deste mundo”, mas o “tempo (kairós) de Deus”, isto é, o momento preparado por Deus para nossa salvação.

Jesus prega que há uma “Boa Notícia” (significado da palavra “Evangelho”) para todos, pois é um “Evangelho de Deus” (única vez que tal expressão aparece nos evangelhos) que todos são convidados a abraçarem essa nova realidade que Jesus chama de “Reino de Deus”.

Após o anúncio da chegada do tempo de Deus, Jesus usa dois verbos para expressar a importância do momento: “Convertei-vos” (metanoia: mudar a mente) e “crede” no Evangelho. Conversão é uma ação que precisa acontecer principalmente dentro de nós: é necessário mudar nossa mentalidade e expressar o novo com atitudes concretas novas.

Em seguida à conversão é preciso acrescentar uma ação importantíssima: Crer no Evangelho. A mudança que precisamos para nossa vida (metanoia) e que Jesus espera de nós não se limita somente a abandonar pecados, mas é preciso passar a fazer algo diferente e melhor, por isso, o segundo convite: Crer no Evangelho, isto é, conformar nossa vida com o projeto de Deus que Jesus chama de Reino de Deus.

Com essas palavras, Jesus inicia sua missão com um convite à radicalidade evangélica da conversão e fé em suas palavras. Logo em seguida, temos dois exemplos concretos de discípulos e irmãos que abandonam o que estavam fazendo para ganhar a vida (Simão e André) e até seus familiares (Tiago e João) para seguir Jesus. Confiam plenamente em Jesus chegando ao ponto de deixar tudo e todos para ouvir e seguir o Mestre Jesus.

Estes quatro primeiros discípulos do evangelho de hoje foram chamados no ambiente de trabalho, quando estava ainda com as mãos naquilo que era o sustento de todos. Jesus chama não nas sinagogas ou no templo entre pessoas entendidas nas coisas divinas, mas no meio do povo, gente comum e simples.

Eles abandonam tudo que tinham para o sustento de todos (redes e barcos), os irmãos Tiago e João abandonam também uma situação de vida melhor que os dois primeiros discípulos: tinham empregados (“pequena empresa”) e o pai deles. A renúncia foi maior e mais exigente: deixar a família, a ligação com a profissão da família e até mesmo com o passado através do pai deles.

Esta radicalidade para com as coisas de Deus, vemos nas palavras de Paulo (2a leitura) que nos convida não somente a uma mudança de pensamento e perseverar no caminho de Deus, mas termos uma vida já conforme aquilo que nossa esperança nos promete. Um pensamento novo, um comportamento renovado e uma vida como testemunho. São Paulo aconselha sua comunidade (e a nós) a viver as coisas do mundo, mas sem sermos apegados a elas, sem colocar o que é material no centro de tudo e viver uma vida livre com Deus. Nas palavras de Paulo, encontramos a nossa esperança de que tudo nesta realidade é somente um reflexo passageiro daquilo que realmente nos espera na eternidade com Deus.

As palavras de Paulo são um convite ao bom senso, a buscar equilíbrio de vida vivendo com intensidade cada momento, mas não apegados a nada e nem a ninguém. É o verdadeiro sentido da liberdade: fazer tudo como escolha e forma de testemunhar o Evangelho e não com escravos e dependentes.

Quem consegue colocar Deus como centro e como meta de vida, entende as palavras de Paulo como uma forma de vida onde o sentido e o valor de tudo vai além das coisas e até das pessoas que estão ao nosso redor. A alguns, Jesus chama e a resposta é radical (deixar tudo que é necessário para viver: redes e barco), a outros, a resposta é colocar tudo que tem não como centro (coisas e pessoas) e viver uma vida tendo o Senhor Jesus como grande tesouro (Paulo na 2ª leitura).

Há uma presença de “tempo” nos três textos proclamados. Para Jonas era urgente a conversão, pois o castigo estava próximo, mas Deus agiu com misericórdia; para Paulo, o tempo após a ressurreição tornou a nossa história um tempo breve e passageiro em relação à eternidade de Deus que somos convidados a já viver neste mundo; para Jesus, o “tempo” de Deus se iniciou entre nós, um tempo de graça e misericórdia, o Reinado de Deus está já acontecendo entre nós. E nós hoje, como estamos vivendo nosso tempo de e com Deus?

Para Jonas, a evangelização deveria acontecer do seu modo e somente para aqueles que ele achava serem os mais dignos; ele se sente senhor do seu carisma profético e insiste em fazer tudo a seu modo. Jesus se mostra aberto e acolhe a todos, não exclui ninguém e procura sempre mostrar através de suas palavras e com a sua vida o caminho do Reino de Deus. Precisamos de novos evangelizadores que anunciem com suas vidas a grande misericórdia de Deus que não tem limites e acolhe sempre a todos.

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