#Reflexão: 4º domingo do Tempo Comum (29 de janeiro)

24 de janeiro de 2023

A Igreja celebra, no dia 29, o 4º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Sf 2,3;3,12-13

Salmo: 145(146),7.8-9a.9bc-10 (R. Mt 5,3)
2ª Leitura: 1Cor 1,26-31
Evangelho: Mt 5,1-12a

Acesse aqui as leituras.

OS BEM-AVENTURADOS DE DEUS

O evangelista Mateus nos informa nos versículos que antecedem as Bem-aventuranças que Jesus ensinava em todos os lugares (sinagoga, aldeias, praças, casas, ao longo do mar etc.). No Evangelho de hoje, nós temos um primeiro conteúdo dos seus ensinamentos. No esquema de Mateus, as Bem-aventuranças são os primeiros ensinamentos e o principal conteúdo que definem a vida de Jesus e dos seus discípulos.

O Evangelho deste domingo inicia lembrando alguns fatos importantes. Jesus vê a grande multidão que O acompanhava. Nada passa despercebido a Cristo e o seu olhar vai além das necessidades físicas e espirituais (curas e exorcismos) que aquelas pessoas procuravam. Assim, Ele quis também deixar um plano de vida para todos: discípulos e multidão. Estas palavras que vão além da simples consolação de Deus para alguns males que afligem todas as pessoas. O ensinamento que começa com as Bem-aventuranças inicia no capítulo 5 e se estende até o capítulo 7. Primeiro Jesus ensina a todos, em seguida Ele demonstrará na prática o que disse a todos.

A realidade humana possui desafios e limites que, muitas vezes, nós temos muito mais perguntas do que respostas. São dramas humanos que ferem o nosso modo natural de viver; quase sempre, nós nem sempre conseguimos encontrar um significado. Simplesmente não temos respostas. Por isto, Mateus nos diz que Jesus convidou todas as pessoas para subirem com Ele o monte, procurar um lugar mais alto. As montanhas, em todas as religiões da antiguidade, sempre foram lugares onde o fiel se distancia do cotidiano e entra, mais facilmente, em comunhão com o divino. Muitas vezes, precisamos romper com o normal da vida e entrar no espaço de Deus, para nós hoje, as igrejas continuam oferecendo esta atmosfera da presença especial de Deus entre nós, são os nossos “montes” no meio da cidade.

Mateus antes de entrar propriamente na lista dos bem-aventurados observa que os discípulos se aproximaram de Jesus, pois não basta estar no lugar de proximidade com Deus, era necessário sentar-se aos pés de Jesus e abrir-se (ouvidos e o coração) para escutá-Lo, pois Ele é o Mestre e Senhor. Os ensinamentos de Cristo são palavras que atingem em primeiro lugar os discípulos, mas são um ensinamento para toda a multidão, isto é, pra todos nós.

O conteúdo das Bem-aventuranças não é um projeto de vida ou uma realidade para poucos ou para aqueles que conseguem atingir um estágio de perfeição após inúmeros esforços e batalhas, mas são ensinamentos para o nosso dia-a-dia: Jesus do alto da montanha ensina sobre a nossa dura e difícil realidade. Não são fórmulas mágicas e nem impossíveis, mas um convite a fazer a experiência de Deus inclusive e dentro da mais pura realidade humana: não é uma recompensa para poucos escolhidos, mas para pessoas comuns e da vida feita de fatos do corriqueiro da existência humana, enfim, um plano de vida para seus discípulos.

Do alto da montanha, Jesus apresenta um projeto de felicidade para todos nós. Segundo Nosso Senhor, ser “bem-aventurado” é ser feliz, é ter descoberto uma presença especial de Deus mesmo estando em situações tão diversas que costumamos até afirmar que Ele está ausente. O discípulo é chamado a fazer experiência da presença de Deus até mesmo em situações limites e desafiantes. Por isto, Jesus rompe com a mentalidade de sua época que via na riqueza, na vida sem problemas, sem crises e sem sofrimentos como única forma de sentir a providência divina. No seu tempo, era proclamado feliz quem era rico e vivia na opulência dos bens.

As Bem-aventuranças não são uma forma de resignação (consolação) para aqueles que estão no sofrimento e na dor. Deus nosso Pai não quer ninguém vivendo no sofrimento e na dor. Sabemos que Ele sempre se faz presente com graças e bênçãos especiais, bem como Ele sempre nos ajuda, nos sustenta e nos anima a vencer tudo que nos atinge. Deus nos quer filhos felizes e saudáveis. As Bem-aventuranças são algo mais profundo e com um sentido muito mais amplo do que uma consolação diante das adversidades da vida.

Jesus tinha convidado alguns a segui-Lo se colocando atrás Dele como discípulos (vimos isto no Evangelho de Domingo passado), hoje Ele nos ensina (e compartilha conosco) o seu projeto de vida pessoal: seguir Jesus e seguir sua forma de viver com todos os seus desafios. A melhor forma de entender as Bem-aventuranças é observar como o próprio Senhor Jesus colocou tudo isto em prática. Não são receitas só para os discípulos, mas o próprio modo de vida de Jesus.

Em todos os itens das Bem-aventuranças, nós temos como palavra principal o termo: “Felizes”. Deus não nos quer tristes e pessoas amarguradas com os desafios da vida, mas cheios de felicidades. Jesus inicia afirmando que são “felizes aqueles que são pobres”, mas é fundamental afirmarmos que nosso Deus nunca quis que ninguém vivesse em situação de miséria e indigência, pois isto não é a realidade desejada de Deus para nós. Observando a vida de Jesus entendemos o que Ele nos convida a fazer.

Não é uma pobreza onde falta qualidade de vida e condições mínimas de dignidade. Jesus convida todos a terem uma vida se alegrando com o básico e o fundamental para sua existência. Jesus não viveu na miséria e nem na indigência, mas sempre teve o necessário para prosseguir sua missão. Por isto, Jesus afirma: “pobres em espírito”, pois Ele podendo ter tudo do bom e do melhor, escolheu viver na simplicidade e com o necessário somente. Para Jesus: o necessário era o suficiente!

O mesmo princípio, nós podemos observar para as outras Bem-aventuranças: “Felizes os mansos”, como Jesus que escolhem o caminho da paz ao invés da violência, pois esses terão o reconhecimento de todos como herança (herdarão a terra); Felizes os que lamentam e sofrem por dores que não são suas como Jesus que chorou por Jerusalém que não acolheu sua proposta de vida (cf. Lc 19,41), para esses Deus será o consolo; Felizes aqueles que desejam e sentem necessidade da verdadeira justiça da mesma forma que precisam se alimentar para viver (“fome e sede”), esses serão um dia saciados; Felizes aqueles que agem como Deus: com misericórdia e não com violência e com o mal, esses encontrarão a Misericórdia de Deus; Felizes são aqueles que têm seus corações cheios do amor de Deus, pois sempre encontrarão Deus em todas as pessoas e lugares (“verão a Deus”); Felizes aqueles que têm a paz como bandeira de suas vidas, mas a paz que é a plenitude da presença de Deus, esses são os verdadeiros filhos de Deus;

Felizes aqueles que lutam, não com armas que produzem mais morte, mas pela justiça que é muito mais que simples aplicação de leis, mas justiça que promove o ser humano em sua integridade, esses, apesar de todos os sofrimentos, dores e humilhações estão no mesmo caminho percorrido por Jesus.

A pobreza espiritual deve ser a condição primeira para o discípulo e a justiça o modo de vida daqueles que seguem Jesus, estes dois caminhos já são realidades onde o Reino de Deus se atualiza neste mundo, pois “deles é o Reino dos Céus”. Lembrando que a miséria e a indigência de muitos irmãos e irmãs não se devem à ausência de Deus, mas da falta de partilha e solidariedade nossa. Para esses, Deus se faz sempre presente. Deus não quer ninguém na indigência e passando necessidades, não quis isso para seu filho Jesus e nem pra ninguém. Vivendo os ensinamentos de Jesus, nós podemos resolver isso com a nossa prática do amor, através da partilha.

As Bem-aventuranças ainda soam para nós como algo estranho e distante, como se fosse para uma outra realidade humana, mas é exatamente aqui que erramos. Elas não estabelecem novos mandamentos, mas prolongam a bela notícia que Deus presenteia vida a quem produz amor; se alguém se encarrega da felicidade de outros, Deus Pai se encarregará da sua felicidade. Com estes ensinamentos de Jesus aprendemos que o mundo não está e não estará, nem hoje e nem amanhã, sobre a lei do mais rico e dos mais forte. O mundo pertence a quem o torna cada dia melhor com seu testemunho de amor.

A simplicidade e a humildade (como nos lembra a 1ª leitura) já são condições naturais onde a pessoa pode experimentar o amor e a consolação de Deus que não é nosso “patrão”, mas Pai de todos nós. Mas, felizes são aqueles que escolhem o caminho de Jesus, vivendo como estranhos aos olhos e aos valores deste mundo, mas completamente abertos ao projeto de felicidade de Deus. Paulo exorta sua comunidade a se tornarem estranhos e até desprezíveis olhos do mundo vivendo na simplicidade e sem vaidades humanas.

As Bem-aventuranças ensinadas por Jesus, no fundo, é um projeto de felicidade que podemos experimentar até mesmo quando sentimos que tudo aparenta conspirar contra nossa vida, mas se o fazemos como uma escolha sendo discípulo de Jesus, tudo tem um sentido mais profundo e divino, pois Deus é a nossa maior herança e o nosso mais belo consolo.

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