#Reflexão: 6º Domingo do Tempo Comum (13 de fevereiro)

7 de fevereiro de 2022

A Igreja, neste domingo (13), celebra o 6º Domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Jr 17,5-8

Salmo – Sl 1,1-2.3.4.6 (R.Sl 39,5a)

2ª Leitura – 1Cor 15,12.16-20

Evangelho – Lc 6,17.20-26

BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE VIVEM COMO JESUS

As bem-aventuras são bem conhecidas por todos os cristãos, pois são palavras de profundo encorajamento de Jesus para todos. Nos Evangelhos, há duas versões das bem-aventuranças: em Mateus e em Lucas. Cada um procurou narrar essas palavras seguindo seus esquemas próprios. Mateus coloca essas palavras de consolação no início (abertura) de uma longa pregação. Lucas preferiu situar no meio de várias atividades. Para Mateus, tudo aconteceu no alto de uma montanha (como Moisés). Para Lucas, foi em uma planície e tendo a presença de pessoas de toda a região. Os dois evangelistas informam que as bem-aventuranças têm como público principal os discípulos.

Sabemos que Jesus escolheu viver sua missão diretamente no meio do povo. A encarnação de Cristo foi na mais profunda realidade humana e o que Ele encontrou foi um povo abandonado e esquecido por todos, principalmente pela religião da época.

A situação de pobreza e de doença era entendida pelos religiosos da época como uma espécie de “punição” de Deus: se estão assim, é por que Deus está castigando. Jesus nunca concordou com essa situação, pois colocou sempre o sofrimento, as dores e a realidade humana como centro de sua vida. Jesus sempre se compadeceu de todos, mas, principalmente, daqueles que não tinham nenhum amparo naquele tempo. Assim, Ele curava, abençoava, perdoava e devolvia alegria a todos, particularmente àqueles que foram convencidos de estarem assim “por vontade” de Deus.

Das 9 exortações de bem-aventuranças de Mateus, Lucas escolheu 4. No entanto, as bem-aventuranças de Lucas possuem um particular importante: não estão voltadas para os que vivem na situação de pobreza, fome, choro e outras situações de marginalização, como em Mateus, mas são dirigidas aos discípulos: “Bem-aventurados, vós… (os discípulos)”.

Lucas preferiu quatro situações mais fortes da realidade e as apresenta como algo do presente: aqueles que são pobres, que agora têm fome, que agora choram e que são odiados. Felizes, bem-aventurados, aqueles que (se fazem) pobres, pois o “Reino de Deus é vosso”. Como Jesus, felizes aqueles que descobriram o caminho do Reino fazendo uma escolha pela pobreza como opção de vida. Jesus não era a favor da miséria imposta e nem da pobreza que a maioria da população vivia, mas Ele exortou serem felizes aqueles que escolhem a vida tendo somente o necessário para que o Reino de Deus já se inicie. Esse Reino se inicia com os simples, aqueles que vivem uma vida na partilha e não acumulando bens e riquezas.

O Deus de Jesus não é aquele que se alegra com a fome e a dor de seus filhos e filhas, mas o Mestre Jesus busca alertar que o discípulo deve viver o sofrimento e a realidade de todos; ter fome de justiça pelo próximo; chorar por aqueles que estão em situação de abandono no mundo. Somente aqueles discípulos que são sensíveis ao sofrimento do próximo conseguirão ajudá-los.

Viver como Jesus viveu, isto é, inserido profundamente na humanidade e vivendo intensamente os sofrimentos das pessoas, atrai o ódio daqueles que supõem que tudo tem de ficar como está. Para ter riqueza nas mãos de poucos, é preciso ter a miséria de muitos. Jesus alerta que, se, de um lado, os discípulos podem sofrer toda categoria de perseguição, eles são felizes e devem se alegrar. Sofrer pelo bem que se faz é uma comprovação de que o discípulo está seguindo os passos do Mestre. Jeremias chama atenção de que não devemos colocar nossa confiança nos homens, mas em Deus, pois Nele encontramos tudo de que precisamos para nossa vida e missão.

Após as quatro bem-aventuranças, Lucas apresenta quatro situações exatamente opostas. Na parte das bem-aventuranças, Lucas termina dizendo: “Felizes” e “alegrai-vos” (v. 22 e 23). Agora, o terceiro evangelista usa uma expressão traduzida como “ai” e como, nas quatro anteriores, tudo é dirigido aos discípulos: “Ai de vós”. O “ai” não significa ameaça ou maldição. Ele ocorre várias vezes no Novo Testamento (Mt 11,21; 18,7; 23,13.15; Lc 10,13.42 e 1Cor 9,16) e tem sentido de uma lamentação: “infelizes, coitados de vós…”.

São infelizes aqueles discípulos que se encheram de coisas materiais, pois pensavam que, na riqueza, é que teriam consolação. Quanto mais se apega às coisas materiais, mais se afasta das pessoas e de Deus. Jesus não é contrário à riqueza, mas ao apego que as pessoas têm nelas. Seguindo uma tradição da Bíblia, a riqueza é um dom para ser partilhado, para ajudar ao próximo e aos mais necessitados. Ao acumular e se fechar na riqueza, a pessoa se torna dependente daquilo que deveria ser um instrumento para fazer o bem.

Infelizes daqueles que vivem uma vida egoísta buscando somente se saciar dos bens que possuem. Tais pessoas não enxergam os irmãos e irmãs necessitados, pois estão voltados somente para sua própria satisfação (cf. Is 58,7-11). O discípulo que Jesus deseja é aquele que se compadece e se coloca em ação para ajudar aos necessitados; que vive uma vida voltado para aqueles que estão em situações extremas de privações. Por isso, não vivem uma vida como se o sofrimento de tantos irmãos e irmãs não existisse. Infelizes são os que vivem sorrindo sem se compadecer do próximo.

Por fim, há o alerta de Jesus sobre aqueles que vivem atrás de reconhecimentos e aplausos. Esses são infelizes, pois vivem situações passageiras e vazias. O Mestre Jesus chama atenção daqueles que hoje aplaudem e amanhã traem e condenam. O importante é viver uma vida praticando os valores do Evangelho e ser sinal de que a realidade tem que ser vivida na partilha e na caridade, como o próprio Jesus viveu.

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