#Reflexão: Quinta-feira Santa (14 de abril)
A Igreja, nesta quinta-feira (14), celebra a Quinta-feira Santa, a Ceia do Senhor. Reflita e reze com a sua liturgia.
1ª Leitura – Ex 12,1-8.11-14
Salmo – Sl 115,12-13.15-16bc.17-18 (R.cf.1Cor 10,16)
2ª Leitura – 1Cor 11,23-26
Evangelho – Jo 13,1-15
QUINTA-FEIRA SANTA
A celebração da Quinta-feira Santa tem sua raiz no momento mais significativo para o povo de Deus: a Páscoa. Ainda em terras egípcias, Moisés e o povo, reunidos em família, em torno da mesa do dia a dia, celebram a “passagem”, a “saída” daquele país que se transformou em terra da escravidão (1ª leitura). Tudo é feito de uma forma a simbolizar uma saída alegre: o cordeiro preparado com atenção; pão sem fermento; os calçados e o cajado para expressar desejo de deixar tudo para trás e sair ao encontro do sonho da Terra Prometida.
Celebrar a Páscoa para o judeu era lembrar a passagem da terra do Egito à terra de Canaã, prometida ao seu povo. “Passagem” é o sentido profundo que Jesus procurou dar a última refeição com seus discípulos. Na Páscoa dos judeus, o animal era sacrificado no pátio do Templo e o seu sangue, derramado no altar. Depois, as partes do animal eram levadas e consumidas em família. Foi, nesse ambiente familiar, que tudo teve início.
Os evangelistas Mt, Mc, Lc e Paulo (1Cor) nos contam que durante a refeição da Ceia Judaica, Jesus criou a Eucaristia. Sem sangue de animais e sem sacrifícios, mas o seu próprio Corpo e Sangue. Animal nenhum tem condições de estabelecer uma aliança eterna e definitiva. A Ceia Eucarística antecipa a Cruz de Jesus. A Eucaristia não é um símbolo que recorda algo sobre a vida de Jesus. Ele mesmo diz que “É” o seu Corpo e “É” o seu Sangue. Celebrar a Nova Ceia do Senhor é recebê-Lo por inteiro em toda sua presença divina.
A Eucaristia não é lembrança do passado, mas memória. Em cada missa, Jesus é sempre atual e presente. Celebramos, assim, toda sua vida e seu projeto de Salvação em nossa vida. Eucaristia é compromisso com Jesus e o Seu Reino. A Eucaristia não é ato mágico que a pessoa precisa receber para acontecer algo, mas alimento espiritual para aquele que está inserido em Cristo Jesus e está em caminhado como discípulo. A Comunhão profunda que significa a Eucaristia deve ser antecipada com uma Vida de Comunhão em Cristo. Alimento-me para continuar caminhando.
A Eucaristia não tem data de validade. O seu efeito é sempre atual, pois a nossa comunhão com Jesus deve acontecer também na nossa vida com nossos irmãos. Encontramos Cristo de modo único e insubstituível na Eucaristia, mas também na vida de comunhão com os irmãos, na Palavra de Deus e na caridade.
Com a Santa Eucaristia, lembramo-nos também daqueles que têm a missão de oferecer os Sacramentos ao povo de Deus: os sacerdotes. Não são pessoas diferentes de qualquer outra pessoa, mas são chamados a uma vida diferente em uma consagração especial para servir sempre. O sacerdote é alguém tirado do povo e devolvido ao povo como pertencente a Deus através de uma especial consagração (além daquelas do Batismo e Crisma). A missão do padre deve ser oferecer caminhos para a comunhão com Deus, principalmente, através do exemplo e dos Sacramentos. Ele deixa sua casa e familiares para se tornar de todos e em todos os lugares. O serviço especial do padre acontece, principalmente, em uma paróquia e uma diocese.
A Eucaristia inspira os discípulos de Jesus (sacerdotes e povo) a uma vida de missão. Ela é Pão Celestial que devemos viver no nosso dia a dia como sinal de Deus. Recebemos Jesus para nos transformarmos em representantes de Cristo. O que melhor pode expressar a Eucaristia — o próprio Cristo presente — é o Sacramento do Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros”. Somente quem descobriu Jesus como Amor Eterno de Deus por nós consegue viver a profundidade que Eucaristia significa. É Amor que transforma tudo, até a morte.
Amar o próximo não é um sentimento ou um desejo carinhoso por alguém. Jesus nos deu o exemplo como sendo uma abertura de vida, em que cada pessoa tem valor, é importante, é presença de Deus. Ama-se Deus em cada pessoa! O Amor de Jesus, que somos chamados a praticar, não tem preconceito: quer sempre o bem de todos; busca a paz e se alegra com a justiça (São Paulo).
Entendemos melhor o que é a Eucaristia, o sacerdócio e o Mandamento Novo com o próprio exemplo de Jesus nesta noite especial: o Lava-pés, o gesto profundo deixado por Jesus para nós como exigência para sermos discípulos Dele. O evangelista São João diz que tudo estava em completa sintonia: Jesus, com sua hora que chegou; com o Pai, que o amava sempre; com todos e até mesmo com Judas, cheio do mal e da traição. Jesus tinha consciência de tudo!
Sua atitude não foi um gesto de desespero, de apelação ou uma encenação, Jesus nunca precisou disso! É um gesto de alguém que é livre, que não regula sua vida pela vida do outro e que não se molda naquilo que é conveniente e lucrativo. Diante de tudo que iria acontecer e já estava definido no coração de Judas, dos discípulos e dos religiosos da época, Jesus, livremente, nos deixa o exemplo. Tudo estava em suas mãos. Ele podia escolher o que quisesse.
Jesus escolhe deixar o seu último exemplo. Ele se “levanta da mesa”, ninguém o força ou se sente obrigado. “Tira seu manto”: era aquilo que alguém tinha para se proteger durante a noite e o frio, única “riqueza” do pobre. “Pega uma toalha e amarra-a na cintura”: ter a cintura amarrada era sinal de prontidão para o serviço, mas Jesus tem uma toalha, algo usado pelos servos em uma casa. “Ele derrama água na bacia”: serviço feito pelos servos em uma família de pessoas ricas e importantes. Os outros são mais importantes que aquele que está limpando e lavam os pés. O servo é visto como inferior e sem importância.
Jesus se dobra diante de todos. Todos são iguais aos olhos do servo. Todos precisam ser lavados e limpos. Jesus não trata ninguém diferente, pois seus olhos estão — como os servos — voltados para os pés. Foi um gesto radical demais para os discípulos! Jesus tinha se tornado alguém muito especial e importante para eles. Alguém que dobraria todos que quisessem aos seus pés: homens e demônios. Porém, agora, está aos pés de todos, como um simples servo. Ninguém esperava e entendeu o que Jesus fizera.
Naqueles dias últimos de Jesus em Jerusalém, eles esperavam grandes confrontos e até batalhas. Disputas de força entre Jesus (que abranda até um mar agitado) e as forças humanas deste mundo. Entretanto, Jesus estava aos seus pés. Pedro foi o primeiro a se rebelar, pois enxergava o serviço como humilhação. Tratar os outros como melhores era uma fraqueza… Ele estava distante de seu Mestre. Jesus não o condena, mas alerta que ele terá que fazer o mesmo para ter parte com Ele, se realmente o tem como Mestre. Jesus faz a sua parte, mas nem todos estão limpos.
Jesus tenta alcançar o seu discípulo Judas se aproximando não com poder, mas como servo que lava e purifica. Porém, o problema é que o coração do apóstolo traidor estava fechado para Jesus, seu projeto de amor e novo Reino. Judas representa aqueles que insistem com os projetos deste mundo, de ódio e violência. Jesus sabia o impacto do que Ele acabara de realizar. Todos não entendem como não entenderiam o final de Jesus na Cruz. As palavras de Cristo completam tudo: Ele, que é Mestre e Senhor, lavou os pés de todos. Todos devem fazer o mesmo. Inclinar-se para servir é condição para ser discípulo de Jesus. Serviço sem preconceito é sinal da presença de Cristo.
Lavar os pés uns dos outros é, para Jesus, a forma de “amar uns aos outros”. É viver a Eucaristia em gesto e força. É transformar tudo como um sacerdócio: serviço constante, sempre querendo o bem do próximo. Como os apóstolos, muitos ainda não entendem que ajudar o próximo é a melhor forma de vivermos no dia a dia a nossa Eucaristia e o novo Mandamento do Amor. É colocar-se como servo de todos e encontrar Jesus aos pés de cada pessoa.