#Reflexão: Quinta-feira Santa e Ceia do Senhor (28 de março)
A Igreja celebra a Quinta-feira Santa e a Ceia do Senhor, nesta quinta (28). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ex 12,1-8.11-14
Salmo: 115(116B),12-13.15-16bc.17-18 (R. cf. 1Cor 10,16)
2ª Leitura: 1Cor 11,23-26
Evangelho: Jo 13,1-15
QUINTA-FEIRA SANTA
A celebração da Quinta-feira Santa inicia fazendo memoria da Páscoa em terras egípcias, de Moisés e o povo, todos reunidos em família em torno da mesa do dia a dia celebrando a “passagem”, a “saída” daquele país que se transformou em terra da escravidão (1ª leitura).
Os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e Paulo (1Cor) nos contam que durante a refeição da Ceia Judaica, Jesus criou a Eucaristia. Sem sangue de animais e sem sacrifícios, mas o seu próprio Corpo e Sangue. Animal nenhum tem condições de estabelecer uma aliança eterna e definitiva. A Ceia Eucarística antecipa a Cruz de Jesus.
A Eucaristia não é um símbolo nem uma lembrança do passado, mas memória: Em cada missa, Jesus é sempre atual e presente. A Eucaristia não é ato mágico que a pessoa precisa receber para acontecer algo, mas alimento espiritual para aquele que está inserido em Cristo Jesus e está em caminho.
A Eucaristia não tem data de validade. O seu efeito é sempre atual, pois a nossa comunhão com Jesus deve acontecer também na nossa vida com os nossos irmãos. Encontramos Cristo de modo único e insubstituível na Eucaristia, mas também na comunhão com os irmãos e na Palavra.
Juntamente com a Santa Eucaristia, lembramos também daqueles que têm a missão de oferecer os Sacramentos ao povo de Deus: os sacerdotes. Não são pessoas diferentes de qualquer outra pessoa, mas são chamados a uma vida diferente em uma consagração especial para servir sempre.
A Eucaristia inspira os discípulos de Jesus (sacerdotes e povo) a uma vida sempre em comunhão com o Mestre Jesus. Ela é Pão Celestial que devemos viver no nosso dia a dia como sinal de Deus. Recebemos Jesus para nos transformarmos em representantes de Cristo. O que melhor pode expressar a Eucaristia – próprio Cristo presente – é o Sacramento do Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros”. Somente quem descobriu Jesus como Amor Eterno de Deus por nós, consegue viver a profundidade que Eucaristia significa. Amor que transforma tudo, até a morte.
Amar o próximo não é um sentimento ou um desejo carinhoso por alguém. Jesus nos deu o exemplo como sendo uma abertura de vida onde cada pessoa tem valor, é importante, é presença de Deus.
Ama-se Deus em cada pessoa! O Amor de Jesus que somos chamados a praticar não tem preconceito; quer sempre o bem de todos; busca a paz e se alegra com a justiça.
Entendemos melhor o que é a Eucaristia, o sacerdócio e o Mandamento Novo com o próprio exemplo de Jesus nesta noite especial: Lava-pés. Gesto profundo deixado por Jesus para nós, como exigência para sermos discípulos Dele.
O Lava-pés marca um momento decisivo para Jesus e o seu grupo. Ao redor de Cristo, tudo “parecia” estar desmoronando e já com sinais de frustração. O povo buscava alguém com poder como um revolucionário ou guerreiro; os discípulos, alguém com poderes espetaculares; os religiosos já tinham definido o destino de Cristo…. Tudo “parecia” fadado ao fracasso…. De outro lado, São João nos diz a segurança e a fortaleza de Jesus em relação ao pai. Diz o Evangelista: Antes da festa da Páscoa. / Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; / Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim; / Estavam tomando a ceia e o diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus; / Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa (para depois, se ajoelhar) …. Tudo estava em completa sintonia.
Diante da aparente falta de sintonia dos discípulos, Jesus poderia ter mandado todos para casa;…. para a vida de antes: no campo, na pesca, mas não! Cria algo inédito e único.
Sua atitude não foi um gesto de desespero, de apelação ou uma encenação, Jesus nunca precisou disso! É um gesto de alguém que é livre, não regula sua vida pela vida do outro; não se molda àquilo que é conveniente e lucrativo. Diante de tudo que iria acontecer e que já estava definido no coração de Judas, dos discípulos e dos religiosos da época, Jesus livremente nos deixa o exemplo. Tudo estava em suas mãos. Ele podia escolher o que quisesse.
Jesus escolhe deixar o seu último exemplo. Ele se “levanta da mesa”, ninguém o força ou se sente obrigado. Jesus “Tira sua túnica” (fica com as roupas de baixo). “Pega uma toalha e amarra-a na cintura”, ter a cintura amarrada era sinal de prontidão para o serviço, mas Jesus tem uma toalha, era algo usado pelos servos em uma casa. “Ele derrama água na bacia”, este serviço feito pelos servos em uma família de pessoas ricas e importantes. Os outros são mais importantes que aquele que está limpando e lavam os pés. O servo é visto como inferior e sem importância. Jesus repete o gesto que recebeu de Maria, irmão de Lázaro que lhe banha os pés com perfume e enxuga com seus cabelos. Uma mulher e Deus se encontram no mesmo gesto inventado pelo amor e carinho.
Jesus se dobra diante de todos. Todos são iguais aos olhos do servo. Todos precisam ser lavados e limpos. Jesus não trata ninguém diferente, pois seus olhos estão – como os servos – voltados para os pés. Foi um gesto radical demais para os discípulos! Jesus tinha se tornado alguém muito especial e importante para eles. Alguém que dobraria todos que quisessem aos seus pés: homens e demônios. Mas, agora, está aos pés de todos, como um simples servo. Ninguém esperava e entendeu o que Jesus tinha feito. Ao final, ele se levanta recoloca a túnica, sem tirar a toalha do serviço.
Naqueles dias últimos de Jesus em Jerusalém, eles esperavam grandes confrontos e até batalhas. Disputas de forças entre Jesus (que abranda até um mar agitado) e as forças humanas deste mundo. Mas, Jesus estava aos seus pés. Pedro foi o primeiro a se rebelar, pois enxergava o serviço (de servos e de mulher) como humilhação; tratar os outros como melhores era uma fraqueza… Ele estava distante de seu Mestre. Jesus não o condena, mas alerta que ele terá que fazer o mesmo para ter parte com Ele se realmente o tem como Mestre. Jesus faz a sua parte, mas nem todos estão limpos.
Jesus tenta alcançar o seu discípulo Judas se aproximando não com poder, mas como servo que lava e purifica. Mas, o problema é que o coração do apóstolo traidor estava fechado para Jesus, para o seu projeto de amor e novo Reino. Ele representa aqueles que insistem com os projetos deste mundo, de ódio e violência. Jesus sabia o impacto do que Ele tinha acabo de realizar. Todos não tinham entendido como não entenderão o final de Jesus na Cruz.
As palavras de Cristo completam tudo: Ele que é Mestre e Senhor lavou os pés de todos; todos devem fazer o mesmo. Inclinar-se para servir é condição para ser discípulo de Jesus; serviço sem preconceito é sinal da presença de Cristo.
Lavar os pés uns dos outros é, para Jesus, a forma de “amar uns aos outros”; é viver a Eucaristia em gesto e força. É transformar tudo isto como um sacerdócio: serviço constante sempre querendo o bem do próximo. Como os apóstolos, muitos ainda não entendem que ajudar o próximo é a melhor forma de vivermos no dia a dia a nossa Eucaristia e o novo Mandamento Novo do Amor. Se colocar como servo de todos e encontrar Jesus aos pés de cada pessoa.