#Reflexão: Sexta-feira da Paixão do Senhor (29 de março)

27 de março de 2024

A Igreja celebra a Sexta-feira da Paixão do Senhor, nesta sexta (29). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 52,13-53,12
Salmo: 30(31),2.6.12-13.15-16.17.25 (R. Lc 23,46)
2ª Leitura: Hb 4,14-16;5,7-9
Evangelho: Jo 18,1-19,42

Acesse aqui as leituras.

PAIXÃO DE CRISTO SEGUNDO SÃO JOÃO

A celebração da Sexta-feira Santa a tarde, iniciou em um grande silêncio e interiorização. A morte de qualquer pessoa provoca em nós uma grande pausa na nossa existência: como estou levando a minha vida? Para onde caminhamos todos? O que nos espera, depois desta vida? Jesus escolhe passar por este caminho para nos garantir que, se as perguntas são tantas, Ele nos dá uma resposta colocando a sua própria vida como garantia.

Os últimos momentos de Jesus têm início com a traição de um amigo. Judas surge com outras pessoas. Eles chegam com tochas e lanternas, pois precisam de luz artificial na escuridão que escolheram. Judas encabeça o grupo, ele só tem trevas ao seu lado. Judas fugiu na noite da Ceia para reaparecer ao lado de Jesus na escuridão da noite. Judas chega à frente de todos. Agora ele é mestre de sua própria história e senhor de seu destino. Pensa ter o controle de tudo e ele deve “mostrar” Jesus aos guardas. Ele sabia onde oferecer a oportunidade para prender Jesus. Guiava outros nas trevas para tentar apagar a Luz do seu Mestre.

O apóstolo traidor vem com guardas para tentar surpreender Jesus, mas, na realidade, tudo está nas mãos de Cristo, o Pai lhe tinha entregue.

É Jesus que sai e vai ao encontro do seu discípulo. Cristo sabia o que estava acontecendo. Nada o surpreende. Jesus é quem pergunta e desarma a todos inclusive Judas que estava com eles. O traidor está envolvido pela noite; é “mais um” como os soldados e não mais um com os apóstolos. Ele perdeu a sua identidade na escuridão.

Mas, Jesus lhe oferece a oportunidade de redescobrir seu Mestre e sair das trevas que se encontrava, mas não se ouve a voz de Judas, mas de todos como um só grupo. Todos sabiam quem procurar: “Jesus de Nazaré”. Mas, a reposta que escutam é algo profundo! Jesus lhes responde: “Eu Sou”. Esta é uma forma conhecida no AT que recorda o nome de Deus. Jesus não se apresenta como uma pessoa, mas como o próprio Deus. Eles caem por terra, assustados. João reforça que “Judas estava com eles”.

Todo mal que vem ao encontro de Jesus, cai por terra. O diálogo persiste com a mesma pergunta e a mesma resposta. Eles não recuam e Jesus também. No entanto, Pedro procura defender Jesus do seu modo. Com soluções deste mundo. Com espada e violência quer resolver tudo, mas assim, ele se igualaria aos servos da noite: com espadas e ódio.

Jesus toma o controle de tudo. Nada lhe é roubado! Ninguém vai mudar o que já estava decidido entre Ele, Jesus, e Deus Pai.

Ouvimos a sucessão de pessoas que em nome de Deus proferem a condenação de Jesus simplesmente porque Ele tinha se tornado um “problema”. Eles já tinham decidido o destino de morte de Jesus, bastava colocá-lo em prática. Cristo Jesus não foge da verdade sobre sua identidade, eles se escondem atrás de mentiras. Jesus torna claro a religião deles: do interesse e da ganância. Jesus era um risco e precisavam acusá-lo diante de Roma. Mesmo diante da bofetada por dizer a verdade, Ele mostra a outra face: “Se falei mal, me diga onde errei, mas se falei bem, por que me bate?” O bem não retruca, mas dialoga!

Pedro se sente desorientado. Esperava uma revolução e por isso, já estava preparado com sua espada, mas vê Seu Mestre dialogar com as autoridades e não destruí-las. Acompanha Jesus de longe. Torna-se mais um que vê Jesus como alguém estranho e sem expressão.

Pilatos era a autoridade máxima naquele lugar. Os sacerdotes precisavam manipular o governador para condenar Jesus. Mas, no diálogo com Jesus, a autoridade romana constata sua inocência, não vê crime, mas simples “questões religiosas”. Os judeus não queriam condenar a morte ninguém que tinha ganhado a simpatia do povo. Roma poderia matar qualquer um sem riscos. Quanto mais Pilatos conversava com Jesus, mais a verdade sobre ele aparecia: era inocente!

O que é a verdade? Qual verdade seguir?  Que Jesus é inocente! Quem vive na justiça não teria dificuldade na escolha, mas Pilatos não quer problemas. Mateus (27,24) nos diz que Pilatos lava em uma bacia suas mãos procurando se colocar distante e inocente do destino de Jesus, mas era tarde: ele já estava completamente envolvido. Na Última e primeira Ceia, Jesus com outra bacia, lava os pés se comprometendo com todos. Pilatos lavando as mãos concede a todos o direito de decidir entre Jesus e Barrabás.

Segue o silêncio de Jesus diante das humilhações, ofensas e agressões. Não há ninguém próximo de Jesus. Após a coroação com espinhos é Jesus que vem para fora, ninguém o arrasta. São João diz que é o próprio Cristo Jesus que toma sua cruz para carrega-la, ninguém lhe impõe sua cruz.

Depois, tudo tem seu ponto máximo no alto da cruz no Calvário. Jesus é crucificado entre dois ladrões. Todo este horror não espanta a presença de sua mãe. Ela está lá, em pé, com algumas mulheres. Um momento de desencontro e despedida. O olhar amoroso da mãe Maria ajuda seu Filho a ir até o fim, cumprindo a sua missão.

Nem um dos dois pretende algo para si neste momento, mas é Jesus que nos entrega sua mãe. Pensa nela com um dom precioso doado, como será depois seu Espírito e Seu Sangue. Era preciso passar pela morte vazio e leve de si mesmo!

Jesus tinha ensinado que quando Ele fosse levantado, atrairia todos a Ele. Mas, o que poderia nos aproximarmos da Cruz? O sofrimento e a angústia de um agonizante? Ali não há milagre e nem prodígios!

Mas, o puro amor que é extraído (tirado) onde o mais profundo do divino mergulha na mais genuína realidade humana: a morte. Ali está o pleno humano envolvido com o amor divino.

A morte em cruz era algo horrível e nada nobre. Os homens de Deus morreram por apedrejamento ou decapitado (Batista). Morrer na cruz simbolizava que nem o céu e nem a terra querem o corpo. A família nem reclamava o corpo do condenado desse modo.

Na cruz, Jesus morre esvaziado de si. O mais pobre dos pobres: tudo que tinha consigo, doou generosamente para toda a humanidade. Leva consigo a única arma para vencer a morte: seu amor pelo Pai e por todos nós! Jesus na Cruz foi tentado pelo povo, sacerdotes e o “mal” ladrão: “Salve a ti mesmo e desce da Cruz”. Qualquer pessoa que tivesse algum tipo de poder, teria descido da Cruz, somente Deus foi até o fim. Jesus não se salva, para salvar a todos!

Deus escolheu enfrentar a morte, porque lá vai todo ser humano. É o destino certo que era somente para nós mortais. Com Jesus, a morte não é mais território da incerteza, mas da Luz do Amor Eterno de Deus! Na morte em Cruz, aprendemos o sentido puro e perfeito do Amor. Um Deus que desce no mais profundo da realidade humana, onde impera a solidão e os temores para nos dizer que nos ama até a morte, / na morte / e além da morte!

A morte de Jesus na cruz é chamada por São João de “hora da glória”. Lá onde não há mais nada da criatura, lá Deus se faz pleno no seu amor. Se a morte é o apagar da luz para o ser humano, lá Jesus acendeu a luz eterna do seu amor. Agora também esta estrada, única da criatura, está iluminada. Podemos atravessá-la sem temor. Não um milagre extraordinário e estupendo, mas o amor é que vence a morte. Amar (este milagre!) nós também podemos fazer.

Jesus não nos salva DA CRUZ, MAS NA CRUZ; / não nos protege DO SOFRIMENTO, MAS, NO SOFRIMENTO; / não nos livra DA DOR, MAS NOS LIVRA NA DOR. / Assim, Jesus nos garante que em nossa realidade humana, JAMAIS estaremos abandonados ou sozinhos!

Na cruz jorra uma água nova que se une ao sangue já celebrado na Ceia. A nova comunhão com Deus não será mais com sangue de animais, mas na cruz e do lado aberto de Jesus. Ali nascemos como filhos e filhas de Deus. É o AMOR de Jesus que nos salva e não o seu sofrimento! Deus não quer a cruz, mas vida e alegria para todo ser humano! A cruz une todos ao céu, traça um sinal eterno que une a terra a Deus; O ser humano à eternidade. Escolher terminar seus dias na Cruz, enfrentando a morte sustentando a verdade até o final é a vingança do amor. Que paga o mal com o bem.