#Reflexão: Sexta-feira Santa (15 de abril)
A Igreja celebra no dia 15 a Sexta-feira Santa, a Paixão do Senhor. Reflita e reze com a sua liturgia.
1ª Leitura – Is 52,13 – 53,12
Salmo – Sl 30,2.6.12-13.15-16.17.25 (R.Lc 23,46)
2ª Leitura – Hb 4,14-16; 5,7-9
Evangelho – Jo 18,1-19,42
SEXTA-FEIRA SANTA
A celebração da Sexta-feira Santa inicia em um grande silêncio e interiorização. A morte de qualquer pessoa provoca em nós uma grande pausa na nossa existência: como estou levando a minha vida? Para onde caminhamos todos? Qual será o nosso destino após a nossa vida neste mundo? Jesus escolhe passar por este caminho para nos garantir que, se as perguntas são tantas, Ele nos dá uma resposta colocando a sua própria vida como garantia.
Os últimos momentos de Jesus têm início com a traição de um amigo. Judas surge com outras pessoas. Eles chegam com tochas e lanternas, pois precisam de luz artificial na escuridão que escolheram. Judas encabeça o grupo. Ele só tem trevas ao seu lado. Judas fugiu na noite da Ceia para reaparecer ao lado de Jesus na escuridão da noite. Judas chega à frente de todos. Agora, ele é mestre de sua própria história e senhor de seu destino. Pensa ter o controle de tudo e ele deve “mostrar” Jesus aos guardas. Ele sabia onde oferecer a oportunidade para prender Jesus. Guiava outros nas trevas para tentar apagar a Luz do seu Mestre. O apóstolo traidor vem com guardas para tentar surpreender Jesus, mas tudo está nas mãos de Cristo.
É Jesus quem sai e vai ao encontro do seu discípulo. Cristo sabia o que estava acontecendo. Nada o surpreende. Jesus é quem pergunta e desarma a todos, inclusive Judas. O traidor está envolvido pela noite: é “mais um”, como os soldados, e não mais um com os apóstolos. Ele perdeu a sua identidade na escuridão.
Entretanto, Jesus lhe oferece a oportunidade de redescobrir seu Mestre e sair das trevas em que se encontrava. Não se ouve a voz de Judas, mas de todos, como um só grupo. Todos sabiam quem procurar: “Jesus de Nazaré”, um homem que veio da Galileia, da cidade de Nazaré. Porém, a reposta que escutam é algo profundo! Jesus lhes responde: “Eu Sou”. Essa é uma forma conhecida no AT que recorda o nome de Deus. Jesus não se apresenta como uma pessoa, mas como o próprio Deus. Eles caem por terra, assustados. João reforça que “Judas estava com eles”.
Todo mal que vem ao encontro de Jesus cai por terra. O diálogo persiste com as mesmas perguntas e as mesmas respostas. Eles não recuam e Jesus, também. No entanto, Pedro procura defender Jesus do seu modo. Com soluções deste mundo, com espada e violência, quer resolver tudo. Assim, ele se igualaria aos servos da noite: com espadas e ódio. Jesus toma o controle de tudo. Nada lhe é roubado. Ninguém vai mudar o que já estava decidido entre Jesus e Deus Pai.
Ouvimos a sucessão de pessoas que, em nome de Deus, proferem a condenação de Jesus simplesmente porque Ele tinha se tornado um “problema”. Para uma religião cheia de exclusão e divisões, alguém que se apresenta com discurso de amor e misericórdia, cria medo e insegurança. É o efeito da luz nas trevas!
Eles já tinham decidido o destino de morte de Jesus. Bastava colocá-lo em prática. Ele não foge da verdade sobre sua identidade. Eles se escondem atrás de mentiras. Jesus torna claro a religião deles: do interesse e da ganância. Jesus era um risco e precisavam acusá-lo diante de Roma. Mesmo diante da bofetada por dizer a verdade, Ele mostra a outra face: “Se falei mal, me diga onde errei, mas se falei bem, por que me bate?” O bem não retruca, mas dialoga!
Pedro se sente desorientado. Esperava uma revolução e já estava preparado com sua espada, mas vê Seu Mestre dialogar com as autoridades e não os destruir com um simples gesto. Acompanha Jesus de longe. Torna-se mais um que vê Jesus como alguém estranho e sem expressão.
Pilatos era a autoridade máxima naquele lugar. Os sacerdotes precisavam manipular o governador para condenar Jesus. Entretanto, no diálogo com Jesus, constata sua inocência, não vê crime, mas simples questões religiosas. Os judeus não queriam condenar à morte ninguém que ganhara a simpatia do povo. Roma poderia matar qualquer um sem riscos. Quanto mais Pilatos conversava com Jesus, mais a verdade sobre ele aparecia: era inocente!
O que é a verdade? Qual verdade seguir? Aquela que Pilatos mesmo constatou (Jesus é inocente) ou aquilo que os outros acusavam sobre Jesus? Quem vive na justiça não teria dificuldade na escolha, mas Pilatos não queria problemas.
Mateus (27,24) nos diz que Pilatos lava em uma bacia suas mãos, procurando se colocar distante e inocente do destino de Jesus. Porém, já era tarde: ele está completamente envolvido. Ele poderia fazer o bem, mas estava decido pelo mal. Na Última e primeira Ceia, Jesus, com outra bacia, lava os pés se comprometendo com todos. Pilatos concede a todos o direito de decidir sobre a vida de Jesus. Deveriam escolher entre Barrabás e Jesus. Por fim, depois, escolhem também a César como rei de todos. Demonstram lealdade à estrutura de morte que representava Roma.
Segue o silêncio de Jesus diante das humilhações, ofensas e agressões. Não há ninguém próximo de Jesus. Depois, tudo tem seu ponto máximo no alto da cruz, no monte Calvário. Jesus é crucificado entre dois ladrões. Todo esse horror não espanta a presença de sua mãe. Ela está lá, em pé, com algumas mulheres. Um momento de desencontro e despedida. O olhar amoroso da mãe Maria ajuda seu Filho a ir até o fim, cumprindo a sua missão. Nem um dos dois pretende algo para si naquele momento, mas é Jesus quem nos entrega sua mãe. Pensa nela com um dom precioso, doado, como será depois seu Espírito e Seu Sangue. Era preciso passar pela morte vazio e leve de si mesmo!
Jesus ensinara que quando Ele fosse levantado, atrairia todos a Ele. Porém, o que poderia nos aproximar da Cruz? O sofrimento, a dor, a angústia de um agonizante? Nela, haveria milagre e prodígios? O puro amor, extraído (tirado) de onde o mais profundo do divino mergulha na mais genuína realidade humana. Isso acontece na morte de Jesus. Nela, está o pleno humano envolvido com o amor divino.
A morte na cruz era algo horrível e nada nobre. Os homens de Deus morreram por apedrejamento ou decapitado (João Batista). Morrer na cruz simbolizava que nem o céu e nem a terra querem o corpo. A família nem reclamava o corpo do condenado.
Na cruz, Jesus morre esvaziado de si. O mais pobre dos pobres: tudo que tinha consigo, doou generosamente por toda a humanidade. Leva consigo a única arma para vencer a morte: seu amor pelo Pai e por todos nós! Jesus na Cruz foi tentado pelo povo, sacerdotes e o “mal” ladrão: “Salve a ti mesmo e desce da Cruz”. Qualquer pessoa que tivesse alguma categoria de poder, teria descido da Cruz, somente Deus foi até o fim. Jesus não se salva para salvar a todos!
Deus escolheu enfrentar a morte, porque para ela vai todo ser humano. É o destino certo que era somente para nós mortais. Com Jesus, a morte não é mais território da incerteza, mas da Luz do Amor Eterno de Deus! Com a morte de Jesus na Cruz, aprendemos o sentido puro e perfeito do Amor. Um Deus que desce no mais profundo da realidade humana, onde impera a solidão e os temores, para nos dizer que nos ama até a morte… Além da morte!
A morte de Jesus na cruz é chamada por São João de “hora da glória”. Lá, onde não há mais nada da criatura, lá, Deus se faz pleno no seu amor. Se a morte é o apagar da luz para o ser humano, nela, Jesus acendeu a luz eterna do seu amor. Agora, também essa estrada, única da criatura, está iluminada. Podemos atravessá-la sem temor. Isso não é um milagre extraordinário e estupendo, mas o amor que vence a morte. Amar (um milagre!) nós também podemos fazer.
Jesus não nos salva DA CRUZ, MAS NA CRUZ. Ele não nos protege do sofrimento, mas, NO SOFRIMENTO. Ele não nos livra da dor, mas nos livra NA DOR. Assim, Jesus nos garante que JAMAIS estaremos abandonados ou sozinhos em nossa realidade humana! As últimas palavras não pertencem nem ao sepulcro e nem às lágrimas de um futuro incerto, mas à certeza da vida eterna!
Na cruz, jorra uma água nova que se une ao sangue já celebrado na Ceia. A nova comunhão com Deus não será mais com sangue de animais, mas na cruz, no lado aberto de Jesus. Nele, nascemos como filhos e filhas de Deus. É o AMOR de Jesus que nos salva e não o seu sofrimento! Deus não quer a cruz, mas vida e alegria para todo ser humano! A cruz une todos ao céu. Ela traça um sinal eterno que une a terra a Deus; o ser humano à eternidade. Escolher terminar seus dias na Cruz, enfrentando a morte, sustentando a verdade até o final, é a vingança do Amor, que paga o mal com o bem.