#Reflexão: Solenidade de Corpus Christi (3 de junho)

3 de junho de 2021

A Igreja celebra nesta quinta-feira (3), a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, Corpus Christi. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia deste dia.

Leituras:
Ex 24,3-8
Sl 115(116), 12-13.15.16bc.17-18
Hb 9, 11-15
Mc 14,12-16.22-26

CORPUS CHRISTI (Corpo de Cristo)

Celebramos domingo passado o mistério da Santíssima Trindade. Hoje estamos diante de outro imenso oceano de amor que somos chamados a mergulhar: a Eucaristia. Não participamos de rito antigo que é somente repetido (rito nenhum nos dá salvação), mas sim da celebração da vida de Cristo e da nossa vida.

Nas espécies do pão e do vinho, dons que nós oferecemos, Jesus se torna presente, não como símbolo, mas presença viva e sacramental. Permanecem as espécies do pão e do vinho, mas após as palavras sagradas do sacerdote, Jesus está presente. Não há nada de mágico ou fantástico, mas palavras simples que tornam presente Jesus. Durante a última/primeira missa, Jesus afirma claramente que o pão “é meu corpo” e o vinho “é meu sangue”. São palavras que o próprio Jesus determina no final que fossem repetidas para que o seu corpo e o seu sangue, Cristo Jesus, seja sempre presente em sua Igreja. Gesto e palavras que os primeiros cristãos desde o início repetiram.

Marcos nos lembra como foi aquela noite especial em que Jesus criou a Santa Eucaristia. Tudo tem início na festa dos “Ázimos” dos judeus: pão sem fermento. A Páscoa era a festa do “novo”, por isso, tinham que jogar fora tudo que tivesse fermento (massa antiga que era usada para fazer nova). Os discípulos, como bons judeus, se preocupam com a preparação da Páscoa judaica, mas Jesus tem outros planos. Ele envia dois discípulos à cidade. Deveriam encontrar um homem com um “jarro d’água”, este era o sinal. Naquele tempo, carregar água era serviço humilde e feito somente pelas mulheres e escravos.

Deveriam segui-lo como um discípulo segue seu mestre. A Eucaristia começa com aqueles que se colocam a serviço e a humildade deve guiar a todos. O caminho da Ceia do Senhor é se colocar junto com os humildes e pequenos para se encontrar mais facilmente com Jesus e com a comunidade de seus seguidores.

O homem com o jarro d’água conduz ao dono da casa. “Casa” foi por séculos o primeiro espaço das celebrações dos discípulos de Jesus. Na casa, todos fazem parte da família e se colocam a mesa como iguais. Após o diálogo, o “dono da casa” acolhe a todos. A pergunta dos discípulos ecoa ainda: Onde está a sala para Jesus celebrar com seus discípulos?

Tudo estava combinado e acertado. O dono da casa já tinha preparado tudo para a celebração. As nossas Eucaristias não podem ser espaço para o improviso e algo feito para cumprir uma obrigação, mas algo que devemos nos preparar já quando saímos de casa. Tudo deve expressar um profundo desejo de comunhão com Jesus. O local preparado é espaço e bem cuidado. Nossas igrejas devem expressar todo o nosso desejo de receber sempre Jesus e a comunidade com alegria, sem distinção, pois todos que desejam se unir a Cristo tornam-se parte da família. É sempre Jesus que prepara tudo.

A sala encontra-se em um lugar no alto, no plano superior da residência. É necessário deixar o chão do dia a dia; é fundamental subir para entrar no lugar preparado por Jesus; deixar por um pouco a nossa realidade e entrar no espaço sagrado da Eucaristia. É tirar as sandálias como Moisés, pois o que celebramos é sagrado e especial. Não se deve entrar no local da Eucaristia como se entra em qualquer outro estabelecimento.

Na mesa como família e como irmãos, Jesus toma a iniciativa. Ele toma o “pão”. Para o povo da Bíblia, o pão era muito mais que um alimento. Ele representava tudo que era necessário (básico) para uma pessoa sobreviver. Era o alimento comum em todas as mesas. “Jesus toma o pão”, Ele quer dar um novo significado para o que é necessário para nós, mas o pão não fica em suas mãos: é distribuído entre os seus.

A primeira atitude de Jesus é bendizer, agradecer a Deus pelo alimento. Atitude de quem reconhece a benevolência e a bondade de Deus em tudo. Junto com o esforço de muitos, Deus tem sempre a precedência e sem Ele nada acontece. “Ele parte o pão”. O judeu jamais corta o pão com uma faca, mas sempre parte com as mãos. Mãos que labutaram para que ele chegasse à mesa e mãos que dividem com os demais. O pão representa ainda o trabalho humano que plantou a semente, colheu o trigo e depois transformou no pão. Tudo é apresentado em ação de graças diante de Deus. Jesus toma o pão que outros prepararam e doa um novo alimento, um “novo pão”. A Eucaristia é dom recebido que deve ser doado ao próximo.

A partir das palavras de Jesus, o pão ganha um novo significado. O pão que representa o que uma pessoa necessita para sobreviver, torna-se o próprio Jesus. Ele é o novo significado daquilo que é necessário para que qualquer pessoa não somente sobreviva, mas encontre sentido no mundo. Ele é o pão fundamental para nossa vida!

E Jesus ordena que este “pão diferente” – seu Corpo – seja ingerido, colocado dentro de si. É necessário assumir Jesus como o alimento fundamental para nossa vida. A Eucaristia é Jesus que renova sua disposição de fazer parte de nossa vida, de nos ajudar e nos tornarmos sua nova morada e presença no mundo.

Depois, Jesus repete o mesmo gesto com o vinho. O vinho representa a alegria na Bíblia. Jesus dá um novo significado para a felicidade e a alegria. O sangue antigo dos animais (como ouvimos na 1ª leitura) jamais conseguiria selar uma aliança eterna e definitiva; esta é nova aliança e por isso, nossa maior alegria. Se o sangue representava a vida que era ofertada, o sangue de Cristo derramado na Cruz purifica de modo perfeito e eterno toda humanidade.

Em cada missa, Jesus não derrama mais seu sangue (foi um sacrifício único e perfeito), mas o efeito daquele sacrifício é atualizado para nós hoje como nos lembra o autor da 2ª leitura: Jesus é verdadeiro e eterno sacerdote e vítima perfeita é única. Necessitamos participar sempre da Eucaristia, pois precisamos cada dia reformar em nós o firme desejo de nos transformar em discípulos de Jesus, fortalecidos pela sua palavra e pelo seu próprio Corpo e Sangue.

“Senhor, que nós sejamos hoje a sala para celebrar o seu amor numa mesa alegre e fraterna contigo e com todos os irmãos!”