#Reflexão: Vigília de Natal (24 de dezembro)
A Igreja celebra neste domingo (24), a partir do fim da tarde a Vigília de Natal. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Isaías 62, 1-5
Salmo: 88(89), 4-5.16-17.27.29 (R. 2a)
2ª Leitura: Atos dos Apóstolos 13, 16-17.22-25
Evangelho: Mateus 1, 1-25
MISSA DA NOITE DE NATAL
O Natal é uma história conhecida por todos, no entanto, ainda hoje nos surpreende e também nos espanta… Tudo acontece no coração da noite para permanecer para sempre em nossos corações. Mas, colocamos tantas coisas para celebrar o Natal que se tem a impressão que, na realidade, queremos esconder tanta simplicidade, humildade e pobreza do verdadeiro Natal de Jesus.
Se alguém contasse a história do Menino Deus e uma pessoa que não conhecesse nada de Jesus, o que ele diria? Uma família, cuja mãe estava grávida, todos obrigados a fazer uma viagem; a mãe próxima de dar à luz; as hospedarias não acolheram o casal; a criança ao nascer e foi colocada em uma manjedoura (local de alimento de animais); o menino não teve uma casa, um berço e nem festa. Talvez tal pessoa dissesse: “Mas, onde Deus estava?” Mas, é exatamente ali, onde Deus se fez mais presente do nunca! Nunca mais se manifestará no Templo, nas festas e solenidades de Jerusalém, entre os doutores e sacerdotes da religião da época. O lugar privilegiado de Deus passou a ser a história das pessoas e cada ser humano nesta terra.
O Natal é uma grande surpresa de Deus, mas escondida em uma criança recém-nascida! Deus decidiu fazer tudo ao seu modo, não como se esperava, mas do modo onde o humano mais aparece!
Nos chama atenção no Natal de Jesus a ausência (a falta) de quase tudo para uma família: Jesus nasce, mas não foi em uma casa; com inúmeros riscos, insegurança e instabilidade; não havia nada de mínimo conforto, de reconhecimento público e acolhida do povo. Até mesmo o momento em que nasceu: “Não havia lugar para eles”. O mundo estava envolvido em outras coisas! Jesus nasce em um lugar que não era o lar de sua família; em viagem e sem uma casa. Tudo não foi um “desleixo” de Deus Pai, mas uma escolha: neste mundo, todos nós desde o nosso nascimento, estamos em viagem; as coisas desta terra são provisórias…. a riqueza neste mundo são as pessoas. Mas, o Natal não é a ausência de tudo, mas exatamente onde “tudo de mais importante” se faz presente e visível: a família, um pai e uma mãe para acolher seu filho e Deus.
Lucas no Evangelho (da noite de Natal), inicia mencionando os grandes da terra (imperador César Augusto e Quirino, governador da Síria) que provocam uma imensa movimentação de pessoas (recenseamento). Mas, o que irá marcar definitivamente a história humana, aconteceu em uma pequena vila, Belém, próxima alguns quilômetros de Jerusalém.
José e Maria viviam em Nazaré, cidade desconhecida para todos; eram da região da Galileia considerada terra de gente pouco fiel à religião oficial. O casal se deslocou para a periferia da grande cidade dos judeus, Jerusalém, dos grandes sacerdotes e de festas solenes. Tudo aconteceu à margem e fora dos esquemas oficiais do estado romano e da religião judaica. Jesus nasceu sem ser percebido e festejado pelos grandes da terra.
No Natal de Jesus, tudo é significativo, mas do modo de Deus. Enquanto todos, naquela época, olhavam e temiam o imperador César e suas leis, outra história estava iniciando no mundo. No Natal de Jesus, tudo é ao contrário: tudo acontece no silêncio da noite; em uma vilazinha; em um ambiente que acolhe animais… A nova história de Deus entre os homens nunca mais será nos palácios, no grande Templo de Jerusalém e entre os grandes desta terra.
Diz os textos Sagrados que uma luz diferente começou a brilhar não mais distante e no céu, mas entre nós. Não mais um Deus acima de todos, mas entre nós, como um de nós. Não mais distante e difícil, mas como uma criança que se pode carregar nos braços. Cada pessoa passa a ser morada de Deus.
A luz do Deus forte rompe a escuridão que a humanidade se encontrava para se tornar uma chama de vida em cada pessoa. Todas as promessas do Antigo Testamento, surpreendentemente, se cumprem de uma forma espetacular: em uma criança depositada em uma manjedoura. Deus continua forte, mas de ternura; Deus guerreiro e imbatível, mas que se esconde num olhar de uma criança recém-nascida; Príncipe da paz na formosura de um bebê;
Quando tudo acontecia no silêncio da noite de Belém, os pastores são os primeiros convidados para participar deste momento fundamental para todos os homens e mulheres. Eles, desprezados por todos, são convocados por um mensageiro de Deus para testemunhar a beleza de Deus.
O anjo lhes anuncia e assegura a todos: “Não tenham medo!” A partir do Natal, Jesus nos mostra que nosso Deus não é mais para ter medo, mas para se apaixonar; os grandes da terra provocam medo, Deus quis provocar com a sua ternura; não provoca mais pavor com grandes sinais, mas com as coisas pequenas feitas com amor, compaixão e misericórdia.
Os homens sempre querem ser grandes, poderosos, crescer sobre os outros; Deus quis descer, servir e conviver com todos a começar pelos simples e pequenos da terra. O Menino Deus vem a este mundo quase “pedindo emprestado” tudo de nós: Belém não era a cidade em que seus pais viviam; estava em viagem; o local foi improvisado (estábulo); uma manjedoura de animais foi emprestada para ele ser colocado. Isto tudo será uma marca em sua vida e até mesmo de sua morte: foi colocado em um túmulo vazio que não era dele.
Mas, tudo necessitará de um profundo ato de fé: todas as promessas divinas se realizaram em uma criança recém-nascida envolta em faixa e deitada numa manjedoura. Uma “grande notícia”, mas envolta em faixas de pano. A luz eterna de Deus resumida na fragilidade de uma criança. É preciso ter muita fé! Mas, os simples e os pequenos deste mundo sempre entenderam isto!
No Natal de Jesus, o Criador se confunde com a Criatura. Há uma inversão da roda da história que sempre gira em torno dos grandes e poderosos; agora, é Deus que desce até nós como um de nós; o céu que desce à terra; o Maior que desce ao mais singelo da realidade humana. Jesus nasce para que pudesse nascer em cada um de nós. Se Jesus quis nascer em um lugar simples e sujo entre os animais, não vai se escandalizar de nós, de nossas sujeiras e imundices humanas. O Natal é a certeza de que a nossa carne pode ser santa porque ela se misturou com Deus.
Natal não é momento de se encher de coisas e quase que fugir de nossa realidade, mas viver os mais puros sentimentos que realmente nos tornam cada vez mais humanos: ternura, amor, compaixão, misericórdia, presença, solidariedade…
Jesus ao se fazer pobre entre os pequenos se deixa acalentar e abraçar por qualquer pessoa: dos mais pobres aos mais ricos; dos mais simples até os mais importantes… Deus se torna, definitivamente, presente junto a todos os homens e mulheres!