São Bento: rezar e trabalhar

5 de julho de 2023

No dia 11 de julho, celebramos o dia de São Bento, “Pai dos Monges” e fundador da Ordem dos Beneditinos.

O nascimento de São Bento é datado por volta de 480, assim ensina São Gregório: “ex provincia Nursiae“, isto é, da região da Núrsia. Os seus pais enviaram-no para Roma para a sua formação nos estudos. Mas ele não permaneceu por muito tempo na Cidade Eterna. São Gregório explica que o jovem Bento sentia repugnância pelo estilo de vida de muitos dos seus companheiros de estudos, que viviam de modo dissoluto. Ele não queria cair nos mesmos erros deles. Bento desejava agradar unicamente a Deus: “soli Deo placere desiderans” (II Dial., Prol. 1). Assim, ainda antes da conclusão dos seus estudos, Bento deixou Roma e retirou-se na solidão dos montes, na região leste da cidade.

Depois de uma primeira estadia na aldeia de Affile, onde durante um certo período se associou a uma comunidade religiosa de monges, fez-se eremita na vizinha Subiaco. Lá viveu um período de solidão com Deus. Esse tempo foi para Bento uma oportunidade de maturidade espiritual.

Viveu momentos em que suportou e superou tentações: a tentação da autossuficiência e do desejo de se colocar no centro; a tentação da sensualidade e a tentação da ira e da vingança. De fato, Bento estava convencido de que, só após ter vencido essas tentações, poderia dizer aos outros uma palavra útil para as situações de necessidade. Com a alma pacificada, teve condições de controlar plenamente as pulsões do eu para ser um criador de paz em seu redor.

Após um período de oração e discernimento espiritual, São Bento decidiu fundar os seus primeiros mosteiros no vale do rio Aniene. Fundou doze mosteiros em poucos anos. Antes de Bento, os monges viviam como eremitas, isolados, sozinhos. Ele organizou a vida monástica comunitária e os mosteiros começaram a florescer. Todos eles seguiam suas orientações.

Essas orientações foram organizadas em uma Regra, baseada em ensinamentos escritos por ele e tinha como objetivo formar os jovens cristãos conforme os ensinamentos de Jesus Cristo e a prática dos mandamentos. Acreditava-se que por meio dessa regra e a vida comunitária seria mais fácil atingir a perfeição.

Além disso, a Regra de São Bento deixava todos bem à vontade e era aplicada e moldada segundo a capacidade e limitações de cada um. “Oração e trabalho” era o seu lema principal, no qual a oração era transformada em trabalho e o trabalho em oração, por meio da fé e da obediência.

Após a sua morte, em 547, a devoção a São Bento propagou-se o que lhe deu o título de “padroeiro da Europa”.

Significado da imagem

A imagem de São Bento revela-nos muito sobre a vida e a obra deste grande santo. Vejamos alguns detalhes.

Hábito preto

O hábito ou ‘batina’ preta de São Bento simboliza a Ordem dos Beneditinos fundada por ele. Após ter vivido três anos como eremita, dedicando-se totalmente à oração, Bento passou pelo convento de Vicovaro e depois fundou a Ordem dos Beneditinos, conforme o Espírito Santo lhe inspirara. O hábito preto, como de São Bento, permanece sendo usado até hoje nos mosteiros de seus confrades.

Taça

A taça que aparece nas imagens de São Bento ilustra um acontecimento especial na vida do santo. Após ter vivo três anos como eremita, São Bento foi chamado para ser o superior do convento de Vicovaro. Lá, porém, os religiosos viviam uma vida de poucos sacrifícios e pouca oração. São Bento tentou mudar o comportamento dos monges, o quais, ao invés de acolherem seu ensinamento, tentaram matá-lo colocando veneno numa taça que ele usaria para beber. Como de costume, São Bento rezou e abençoou a bebida antes de consumi-la. Neste momento, a taça quebrou, revelando, assim, a intenção daqueles homens. A partir desse momento, São Bento saiu dali e fundou a Ordem dos Beneditinos.

Livro

O livro na mão de São Bento simboliza a regra de vida que ele, inspirado por Deus, criou para que os monges de sua ordem seguissem. Trata-se de uma regra clara, simples e completa, que é seguida até hoje pelos beneditinos. O lema principal de sua regra de vida é: ‘Ora et Labora‘, ou seja, ‘ore e trabalhe’. Oração e trabalho é a grande mensagem de São Bento para o mundo. A oração alimenta o espírito e dá sentido a todas as coisas. O trabalho ocupa a mente, enobrece o homem, é causa de crescimento e desenvolvimento. Assim, os tempos de oração e trabalho são muito bem definidos na vida dos monges seguidores de São Bento. São dois braços inseparáveis, como as hastes da cruz: uma horizontal, outra vertical. Uma, ligando-nos ao céu; a outra, ligando-nos à terra e ao próximo.

Cajado

O cajado na mão de São Bento é uma referência ao santo como pai e pastor. Ao fundar a Ordem dos Beneditinos, São Bento tornou-se o pai de milhares de monges que seguiram seus passos ao longo da história. O cajado simboliza também a autoridade de São Bento como fundador e sua caminhada na fé.

Gesto de bênção

São Bento é sempre representado abençoando. Esse era um gesto comum em sua vida: abençoar. Ele seguia à risca o conselho de São Pedro que diz: ‘Não pagueis mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes chamados, para serdes herdeiros da bênção’. (1Pedro 3,9) Foi seguindo este conselho, que São Bento ficou livre do envenenamento.

Barba

A barba de São Bento, longa e branca, simboliza sua sabedoria. Sabedoria que guiou sua vida, inspirou-o a fundar uma ordem e escrever uma regra de vida espiritual e comunitária que ajudaria muitas pessoas.

Medalha

A medalha de São Bento é um dos maiores símbolos e heranças deixadas por esse santo e seus significados e simbologia são de extrema importância para a Igreja Católica e para todos os seus devotos.

As primeiras medalhas foram confeccionadas dentro da Abadia de Monte Cassino. Continham a cruz, muito usada por Bento em diversas situações de sua vida, inclusive naquelas em que escapou da morte. Para Bento, o sinal da cruz era como um sinal de coisas boas sendo feitas, um sinal de vitória contra o mal e a morte.

A medalha sofreu variações e, nas mais antigas, é possível encontrar a figura de São Bento rodeada pela frase em latim “Eius in obitu nostro præsentia muniamur” (que a hora de nossa morte, nos proteja tua presença). As medalhas mais atuais têm essa frase substituída por “Crux Sancti Patris Benedicti” ou ainda “Sanctus Benedictus”.

Já na parte do verso, encontramos a figura de uma cruz com as seguintes inscrições:

– CSPB: Crux Sancti Patris Benedicti (Cruz do Santo Pai Bento)

– CSSML: Crux Sacra Sit Mihi Lux (Cruz Sagrada Seja a minha Luz)

– NDSMD: Non Draco Sit Mihi Dux (Que o Dragão não seja o meu guia)

– VRS: Vade Retro Satana (Passe Reto Satanás)

– NSMV: Nunquam Suade Mihi Vana (Nunca Seduzas minha alma)

– SMQL: Sunt Mola Quae Libas (São coisas más que brindas)

– IVB: Ipse Venana Bibas (Bebas do mesmo veneno)

Em 1942, o papa Clemente XIV aprovou o uso da medalha, oficializando-a como um instrumento de adoração e devoção de fé, ao contrário do que muitos pensavam ser apenas um amuleto de superstição.

Oração

“A Cruz Sagrada seja a minha Luz. Não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás. Nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces. Bebe tu mesmo o teu veneno”. Assim seja, amém!

 

Referências:

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-07/sao-bento-o-homem-de-deus-que-brilhou-nesta-terra.html
https://cruzterrasanta.com.br/significado-e-simbolismo-de-sao-bento/130/103/
https://www.catedralgo.org.br/multimidias/noticias/261-saiba-quem-e-sao-bento-e-o-significado-de-sua-medalha

Imagem: @anderson-nikon