São Bruno: monge que viveu a alegria no silêncio

4 de outubro de 2023

“Bem-aventurado aquele que está separado de tudo e unido a todos” (Evágrio Pôntico).

Encantou-me as leituras que pude fazer sobre a vida e obra de São Bruno. Muito especial para mim, pois nosso filho tem o nome desse santo e, saber sobre ele, tive grande motivação.

Bruno nasceu na cidade alemã de Colônia por volta do ano 1030. Filho de pais famosos, muito jovem sentiu o chamado do Senhor para o sacerdócio. Bruno, certamente se desconcertava pelas lógicas das escolhas de Deus sobre vocação e santidade e, foi se preparar para bem servir o Senhor. Estudou na famosa Escola Catedral de Reims, recebendo sólida e completa formação, sobretudo em literatura sagrada. Já, em 1506 fôra nomeado reitor de sua escola e, por mais de vinte anos, trabalhou nela, distinguindo-se pela sua cultura, qualidades pedagógicas e pelo afeto aos seus alunos.

Bruno trazia em seu coração um chamado bem elevado: o de viver a solidão e “deixar o mundo”. Esse desejo cresceu após enfrentar uma luta com o arcebispo Manassés e Gournay, eleito para a Catedral de Reims, um homem ávido pelos bens materiais, que acabou deposto pelo papa Gregório VII. Mesmo sendo candidato ao lugar de Manassés, por sua dignidade e até por sofrer perseguições pelo nome de Jesus, Bruno abandona seus bens, todas as honras ao seu ofício e as riquezas mundanas e, com o coração ardendo em amor divino, pôs-se a buscar bens eternos e receber o hábito monástico.

Bruno percorre o caminho para realizar seu sonho e sai a procurar um lugar adequado para a vida eremítica. Foi até o bispo Hugo de Grenoble, em Chartreuse, com seus companheiros, que comungavam do mesmo sonho. Chegaram movidos de esperança, atraídos pela vida santa do jovem bispo, que os recebeu com imensa alegria e respeito, acatando o pedido de Bruno. O lugar era o deserto de Chartreuse e ali construíram um mosteiro. Fato pleno de mistério foi o sonho do bispo Hugo, pouco antes. Ele sonhara com Deus construindo no deserto uma morada para sua glória; viu ainda sete estrelas a mostrar-lhe o caminho e o grupo de Bruno era em número de sete.

Bruno foi escolhido por Deus, cuja bondade infinita nunca desampara os interesses de sua Igreja. Um homem de pura santidade fundou e governou o eremitério de Chartreuse por seis anos, que ao dizer de São Pio XI, regou profundamente com seu espírito amoroso, oferecendo uma regra viva aos seus filhos. “O que a solidão e o silêncio do deserto trazem de utilidade e de divino gozo àqueles que os amam, só o sabem os que já fizeram a experiência disto. (…) Aqui nos esforçamos por adquirir este olho cujo claro olhar fere de amor o esposo divino e cuja pureza nos concede ver a Deus” (São Bruno: Carta a Raul, o Verde §1).

Outro caminho é pedido a Bruno: o papa Urbano II chama-o para junto de si. Obediente, ele parte para a Cúria Romana. Seus companheiros sentem-se desanimados sem sua presença. Bruno consegue encorajá-los e eles retomam a vida no eremitério. Porém, Bruno não pode suportar a agitação e os costumes da Cúria, ansioso por reencontrar a solidão, parte para um deserto de Calábria, chamado La Torre. O amigo Raul, do Cabido de Reims concede a ele o novo eremitério chamado Santa Maria de La Torre. Lá passou o resto de sua vida, rodeado por grande número de leigos e clérigos.

Ao eremitério de Chartreuse, Bruno escreve uma carta aos seus amados filhos, quando da visita de frei Landuino, que veio até ele para discutir coisas relativas ao interesse do estabelecimento da vocação dos Cartuxos. Na carta ele escreve: “… alegrai-vos, então, meus irmãos muito queridos, pela vossa bem-aventurada sorte e pela generosidade da graça divina derramada sobre vós… alegrai-vos por haver alcançado o repouso tranquilo e a segurança de um porto escondido”.

Na Calábria, Bruno viveu para a vida solitária. Foi lá que morreu onze anos após sua saída de Chartreuse, rodeado de amor pela veneração de seus irmãos.

“Sabendo que a sua hora tinha chegado de passar deste mundo para o seu Senhor e Pai, convocou os seus irmãos, passou em revista todas as etapas da sua vida desde a sua infância, e recordou com muito espírito os acontecimentos notáveis do seu tempo. Em seguida, expôs a sua fé na Trindade num discurso prolongado e profundo. E assim no domingo seguinte, 6 de Outubro do ano 1101 de Nosso Senhor, a sua alma santa deixou a sua carne mortal” (Carta Encíclica Eremitas da Calábria)

Em 1514, o Capítulo Geral da Ordem, sob a direção do Reverendo Padre Geral Dom Francisco du Puy, decidiu pedir a canonização de Bruno. Leão X acolheu com bondade o pedido dos Cartuxos, confirmando que estava bem fundado, e a 19 de julho de 1514 autorizou a festa canônica de Bruno de Colônia. Uma canonização que não passou pelo processo habitual, foi um decreto emitido pela própria autoridade papal. Em 1623 a festa se estendeu à Igreja Universal, celebrada a 6 de outubro, o que provocou um enorme interesse pela figura espiritual de São Bruno. A sua paternidade permanece viva!

Homem sedento de Deus, seduzido pelo absoluto, mas sempre discreto, o seu epitáfio traça um belo retrato do seu equilíbrio e da sua personalidade radiante: “Em muitas coisas, Bruno deve ser elogiado, mas sobretudo nesta: homem com uma vida com uma muito grande igualdade, ele foi nisto singular. Sempre tinha o rosto em festa, e a palavra ponderada. Por detrás do rigor de um pai, ele manifestou as entranhas de mãe. Ninguém o achou altivo, mas doce como um cordeiro. Numa palavra, ele foi nesta vida o verdadeiro israelita [um homem sem falsidade]” (Tutilli funbris §1).

Rezemos, pedindo a intercessão de São Bruno, pela nossa conversão diária ao projeto de amor de nosso Deus! Que nosso rosto esteja sempre em festa, mesmo nas tribulações e nossa “palavra seja certa, na hora e do jeito certo” no trato com nossos irmãos e irmãs. Que nosso coração seja doce como um cordeiro e forte o bastante para amar como Bruno amou!

São Bruno, rogai por nós!

 

Referências:

Site Monges Cartuxos – Les moines Chartreuse – Monastère de La Grande Chartreuse.

Santo do Dia – Canção Nova

Referência da imagem: http://www.vaticannews.cn/pt/santo-do-dia/10/06/s–bruno-da-calabria–presbitero–fundador-da-ordem-dos-cartuxos.html