Sexto dia da Assembleia Eclesial finaliza atividades dos grupos de trabalho

26 de novembro de 2021

Testemunhos dos delegados sobre sinodalidade e sistematização de ideias partilhadas nos últimos dias da Assembleia Eclesial foram as ações principais de hoje (26).

Saudação de Rodrigo Guerra

O dia de trabalhos da Assembleia Eclesial começou com a oração da manhã, às 11h (horário de Brasília). Em seguida, Rodrigo Guerra, secretário geral da Comissão Pontifícia para a América Latina, saudou os delegados do evento.

Rodrigo Guerra em sua saudação, no dia 26 de novembro. Foto: Prensa CELAM.

Em sua fala, Guerra destacou a disposição dos delegados para relacionar os trabalhos realizados e a preocupação para dar solução às urgências pastorais, na intenção de colocar sobre a mesa os desafios e reconhecer os limites que impedem avanços concretos.

Nessa perspectiva, ele explicou que experimentar a fragilidade e o limite, próprios da condição humana, não é um sinal de fraqueza e não pode se relacionar com uma preocupação negativa frente a todas as iniciativas que se gestaram nesses dias.

Para o secretário, o mais importante da Assembleia é aprender que estamos começando a aprender.

O chamado de Deus à missão acontece a partir da humildade e não se deve negar a valente atitude de pedir perdão, porque a Assembleia Eclesial é apenas um passo de um grande processo chamado sinodalidade, destacou Guerra.

“Creio que é muito importante que em nossa Assembleia nos reconheçamos lentos em compreender, incapazes, fracos e necessitados de inclusão”, reconheceu Rodrigo.

Ele advertiu também que corremos o risco de viver em ambientes eclesiais que simulam unidade, mas carecem de confiança entre aqueles que os integram.

O secretário recomendou aos delegados a se acompanharem no processo, a se darem a oportunidade de pedir perdão, libertarem-se das teias de aranhas da cabeça e das mesquinhezes que habitam o coração e se ajudarem para que os processos sigam seu caminho com esperança, convencidos da necessidade de reforma na Igreja proposta pelo Concílio Vaticano II, afastando-se da tentação da suspeita e da desconfiança que freiam as possibilidades de aprender e crescer na unidade. Rodrigo Guerra reforçou: acompanhemo-nos, abracemo-nos, acolhamo-nos.

Por fim, Rodrigo sugeriu aos delegados a revisão dos números 11 e 12 do Documento de Aparecida, os quais, segundo ele, são a chave para entender o processo de Assembleia Eclesial.

“A Igreja está chamada a repensar profundamente e relançar com fidelidade e audácia sua missão em novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Não pode se fechar frente àqueles que desejam só confusão, perigos e ameaças, ou pretendem cobrir a variedade e a complexidade de situações com uma capa de ideologismos desgastados ou de agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho enraizada em nossa história, com um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que suscite discípulos e missionários. Isso não depende de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem a tradição e a novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários do seu Reino, protagonistas de vida nova para uma América Latina que quer se reconhecer na luz e na força do Espírito”, concluiu Guerra.

Testemunhos sobre sinodalidade do Povo de Deus

Em seguida à saudação de Rodrigo Guerra, Rafael Luciani, teólogo venezuelano e membro da equipe teológica do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), e irmã María Dolores Palencia, HSJL, mexicana do Centro de Redes e Ação Pastoral do CELAM, apresentaram testemunhos sobre a sinodalidade do Povo de Deus.

Irmã María Dolores Palencia, HSJL, e Rafael Luciani deixam testemunhos sobre sinodalidade no sexto dia Assembleia Eclesial, dia 26 de novembro. Foto: Prensa CELAM.

Rafael Luciani iniciou sua fala recordando-se do papa Francisco, que recomenda a sinodalidade como o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio. Para ele, essa ideia é um chamado a toda a Igreja para discernir um novo modelo eclesial que seja fruto de uma nova fase na recepção do Concílio Vaticano II.

Para a irmã Dolores, a América Latina tem sinais emergentes de um novo modelo eclesial em chave sinodal, como a criação do CELAM, da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), os sínodos diocesanos, os concílios plenários e a Assembleia Eclesial.

Para o teólogo, o primeiro passo desse processo é a conversão da Igreja por meio da escuta, da organização de conselhos e da construção de consensos. Segundo a irmã, esse caminho de sinodalidade acontecerá na revisão do modo da escuta e a quem se escuta, principalmente os que sempre foram calados: povos originários, afrodescendentes, mulheres, pessoas e comunidades LGBTQIA+.

Um caminho apontado por Rafael Luciani foi a superação das relações desiguais, de superioridade e subordinação próprias do clericalismo, e a aposta na recíproca necessidade e no trabalho em conjunto. Para ele, a participação não pode ser concessão, mas direito de todos, assim como a existência de conselhos de escuta para quem exerce a autoridade deve ser um dever. Para o teólogo, a escuta não deve ser genérica nem abstrata. A escuta não tem um fim em si mesma, disse o teólogo.

Nesse sentido, a irmã Palencia destacou que o desafio é abrir as mentes e os corações ao Espírito, que surge na diversidade, nas periferias, entre os vulneráveis e silenciados. É algo necessário para se trabalhar em conjunto, para se tomar as decisões pastorais, para se alcançar o sentido e a meta de um processo eclesial sinodal, o que acontecerá com passos pequenos e simples, talvez insignificantes, explicou a irmã.

O teólogo venezuelano ressaltou que são necessárias mudanças concretas para superar o atual modelo institucional clerical. Assim, segundo ele, é preciso aproveitar a Assembleia Eclesial para avançar na sinodalidade.

Para a irmã Maria Dolores, é necessário deixar para trás o modelo clerical paralisante e seus privilégios e fortalecer a ideia de que “todo o Povo de Deus é responsável pelas ações transformadores, flexíveis, atentas às necessidades das novas gerações e, junto com elas, poder recriar uma comunidade eclesial participativa, de consenso, com novas e diversas maneiras de viver a autoridade e tomar as decisões”.

Luciani reforçou que é importante a criação de mediações e procedimentos para o envolvimento de todos os fiéis e o estabelecimento das modalidades de participação permanentes, que considerem o laicato como sujeito pleno na Igreja.

A irmã Palencia, por sua vez, convidou os delegados a recriarem as redes de comunicação e participação para que o desafio de um laicato reconhecido plenamente chegue realmente a todos, proposta que deve ser assumida pelos bispos do continente.

O teólogo venezuelano lançou perguntas para questionar a concretização da sinodalidade na Igreja. Respondendo-as, a religiosa ressaltou a necessidade de aprender com realidades sociais e eclesiais amplamente silenciadas, perguntando-se também como vamos nos ajudar, como vamos gerar novos caminhos.

Com isso, Luciani insistiu na perspectiva e no desafio de criar uma nova cultura do consenso eclesial, citando São Cipriano como um modelo do caminho sinodal e desafiando a Assembleia a ser um primeiro sinal emergente do novo modo eclesial sinodal.

Por fim, a irmã Palencia ressaltou que mais vale uma Igreja com erros e equívocos disposta a voltar a se levantar e recomeçar o caminho do que a paralisia e o pânico, que detêm o Espírito e causa estagnação. Com essa provocação, os delegados responderam com a maior salva de palmas da semana de trabalhos.

Depois dos testemunhos, os delegados se dividiram em grupos de trabalhos. Na tarde de hoje (26), esses grupos finalizaram suas atividades de escuta, reflexão, partilha e sistematização de ideias.

Dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., escolhido pelo Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como delegado da Assembleia Eclesial, participou durante toda a semana das atividades dos grupos de trabalho.

Dom Majella participa de grupo de trabalho da Assembleia Eclesial. Foto: Arquivo pessoal/reprodução.

Ao final da tarde, ocorreu sala de imprensa e sistematização das atividades dos grupos e apresentação de testemunhos de delegados.

Bíblia e círio pascal compõem ambientação para Leitura Orante. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

O dia de trabalhos foi encerrado com a realização de Leitura Orante da Bíblia, pelo padre Gabriel Naranjo, CM, de Lc 10,25-37 (o bom samaritano) e do segundo capítulo da Fratelli Tutti.

Padre Gabriel Naranjo, CM, que conduziu a Leitura Orante.

A missa de encerramento foi presidida pelo cardeal Mario Grech (secretário geral do Sínodo dos Bispos).

Cardeal Grech na missa de encerramento do dia 26 de novembro. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

 

Com informações e imagens de Prensa CELAM. A imagem destacada da notícia traz reprodução das telas dos delegados da Assembleia Eclesial que participam na modalidade virtual. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.