Sinodalidade e a relação Fé e Política
No mês de outubro, também dedicado à Missão e ao Rosário, aconteceu em Roma a primeira Assembleia Geral do sínodo sobre a sinodalidade, proposto pelo Papa Francisco. A segunda Assembleia será em outubro de 2024. Muito se tem falado sobre o sínodo e é necessário também relacionar o sínodo com a Fé e Política, uma experiência muito rica do Brasil.
Comecemos pelas definições básicas dos termos:
Sínodo significa “caminhar juntos”, sendo essa uma experiência surgida nos primórdios da Igreja como uma forma de resolver as grandes questões internas do cristianismo. A experiência sinodal não quer exatamente resolver as questões, mas fazer um caminho de autoconhecimento e conhecimento do outro para que, no seu tempo, se possa chegar a um possível encaminhamento das divergências. Um sínodo sobre a sinodalidade é um sínodo sobre a forma de caminhar da Igreja que quer ser o mais acolhedor possível do outro, respeitando seu modo de pensar, mesmo que seja diferente.
É preciso aqui fazer um aceno histórico e lembrar que na Igreja Católica do Ocidente os sínodos se desenvolveram até o século III. Ao entrar no século IV, a experiência sinodal desembocou nos Concílios Gerais ou Ecumênicos. Porém, tal experiência permaneceu uma prática comum da Igreja Católica do Oriente. Entretanto, o Concílio Vaticano II recuperou a proposta sinodal para a Igreja do Ocidente como uma forma de debater as questões que vão surgindo, necessitando de aprofundamento. Assim, criou-se no Vaticano uma secretaria especial para o sínodo que funciona permanentemente. Essa secretaria organizou, desde então, vários sínodos.
Com o sínodo sobre a sinodalidade, o Papa Francisco quer fazer a Igreja ouvir a si mesma e apurar os ouvidos para ouvir seus diversos setores ou representações, como bispos, padres, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas, assim como ouvir o que a Igreja sente e pensa nas diversas partes do mundo.
Fé é a aceitação consciente e racional que as pessoas fazem, também com o coração, de uma verdade sobre Deus e seu desejo para os seres humanos. No caso dos cristãos, a proposta trazida por Jesus, que Ele mesmo denomina de Reino de Deus, consiste em uma situação em que todos vivam bem e se sintam acolhidos.
Política é a arte do bem comum, do cuidar da felicidade de todos e todas, é a organização e o governo da sociedade, é a correlação de forças que defendem os interesses dos respectivos grupos sociais e econômicos. Política tem a ver com o governo e há diversos modelos de governos que oscilam entre democracia representativa e participativa até a autocracia, seja de uma pessoa, de um grupo político ou de uma família. Também há as Políticas Sociais, que são as formas de atendimento à população feitas pelo governo com o dinheiro que retira da própria população e, por isso mesmo, é chamado de imposto.
Disso podemos concluir que política e fé cuidam do bem comum, daquilo que é de todos, tendo o ser humano como o centro. Hoje, a humanidade está mais consciente de que, para cuidar de si mesma, precisa também cuidar do outro, do seu entorno, do meio ambiente, do planeta Terra, nossa “Casa Comum”, e assim um novo humanismo vai surgindo. Nesse âmbito do cuidado, mais uma vez, fé e política se encontram. O cuidar é a meta e a humanidade, juntamente com toda a natureza, é o centro.
A relação Fé e Política se dá na construção de um mundo melhor para todos e todas, que pode ser traduzido pela “arte do bem comum”, “do cuidar do que é de todos” ou, ainda, de acordo com a sabedoria de nossos povos ancestrais das terras Ameríndias: a busca da “Terra sem males”. O Movimento Nacional Fé e Política surgiu a partir de um grupo de teólogos e teólogas que, motivados pelo Concílio Vaticano II e pelas Conferências do episcopado Latino Americano em Medellín (1968) e Puebla (1979), passaram a refletir a fé conjugando-a com a vida. Ou, em outra linguagem, usando o método Ver, Julgar, Agir do Pe. Belga Joseph Cardin, fazia o discurso teológico nascer da realidade do povo sofrido da América Latina.
A reflexão Fé e Política, bem como a experiência das CEBs e das Pastorais Sociais, sempre pautaram-se pelo diálogo: uma escuta sincera, paciente e respeitosa do outro, mesmo quando o outro diz coisas das quais discordamos. Assim, a proposta sinodal do Papa Francisco como um caminho que a Igreja deve percorrer e aprofundar na experiência sem pressa, mas atenta à voz do Espírito Santo, por um lado reforça a caminhada da relação Fé e Política, por outro mostra que a Igreja do mundo todo hoje aprende com a experiência latino-americana de uma Igreja dialogal e sinodal, em que a Fé e Política têm seu espaço e algo a ensinar.
Terminada a primeira Assembleia do Sínodo, caminhemos atentos e participativos para a segunda Assembleia em outubro de 2024.