Da oração conjugal à oração familiar – Parte 1

15 de fevereiro de 2023

Padre Henri Cafarrel, fundador do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, em seu livro “Espiritualidade Conjugal – uma palavra suspeita” reflete sobre a oração conjugal, que deve evoluir para a oração familiar. Neste artigo, refletiremos sobre o tema que ele trabalhou com tanta sabedoria e profundidade.

 

O casal dispõe de um tempo privilegiado diariamente: a oração conjugal. Contudo, para que esse tempo não seja submerso pelas muitas demandas domésticas e pessoais, o casal precisa se organizar dentro da rotina diária. Talvez não consigam fazer a oração conjugal todos os dias no mesmo horário. Muitas vezes, será necessário adaptar o momento de oração com as realidades conjugais e domésticas. Contudo, a oração conjugal deve ser diária, e, se necessário, adaptada a rotina do casal. A fidelidade para esse momento é fundamental. Se o casal teve uma sólida formação cristã no tempo do namoro, será mais fácil inserir na vida conjugal esse momento diário de oração. Mesmo para aqueles casais cuja formação cristã enquanto eram solteiros não foi suficientemente profunda, poderão, com esforço e disciplina, incorporá-la a seu novo estado de vida.

Para compreendermos o valor da oração conjugal, é necessário, antes, entender o valor do matrimônio cristão. O matrimônio não é apenas o dom recíproco do homem e da mulher, mas é o dom da consagração do casal a Jesus Cristo. O Senhor está presente na vida do casal que se ofereceu a Ele. Na vida matrimonial, há uma aliança entre Cristo e o casal. Não é unicamente na oração conjugal que o casal louva o Pai. A oração conjugal constitui-se um “tempo forte” na qual os cônjuges louvam a Deus.

Quando Jesus une sacramentalmente o casal, ele deseja estabelecer na vida conjugal um “santuário”, uma Igreja Doméstica, sendo o lar cristão. Para que a oração conjugal gere frutos na vida do casal, é necessário, em primeiro lugar, que os cônjuges estejam unidos espiritualmente. Todas as divergências que possam estar enraizadas na alma de cada um deverá se dissipar para que a paz seja restabelecida. Perdoar-se mutuamente é essencial para que o momento da oração conjugal seja uma ação interior de unidade do casal com Deus e não apenas um rito formal para cumprir uma obrigação diária.

Uma segunda disposição é a renovação da fé na presença de Cristo na vida do casal. Foi Cristo que os uniu e o Senhor se faz presente junto deles na vida matrimonial. Unidos a Cristo, o casal é chamado a escutar o Senhor. Isso significa que toda oração conjugal deve iniciar-se coma leitura das Sagradas Escrituras, acompanhada de um tempo de silêncio e meditação. Após ouvir o Senhor, o casal é chamado a falar com Ele, exprimindo suas necessidades, súplicas e louvores. Nada impede que o casal use orações litúrgicas da Igreja. Contudo, elas não devem impedir que os cônjuges expressem abertamente ao Senhor os anseios e louvores de sua vida conjugal.

Embora a metodologia da oração conjugal seja extremamente simples, muitos casais encontram dificuldades em realizá-la juntos ou, com o passar do tempo, até mesmo a abandonam. Outros casais alegam que haja bloqueios em se expressar espiritualmente diante de seu cônjuge. Outros ainda apontam a formação espiritual como dificuldade de conciliação no momento de orarem juntos. A chave para essas questões será sempre a fidelidade a esse tempo forte na vida a dois. Com o tempo e a prática, o casal irá descobrir que a comunhão de vida que agora ambos vivenciam diariamente será o caminho para a quebra da timidez e a unidade das diferentes formações espirituais que receberam ao longo da vida.

A oração conjugal, tempo forte de intimidade do casal com o Senhor, é um prolongamento do Sacramento do Matrimônio, auxiliando a manter sempre viva a chama da graça da união. A medida que o casal avançar no exercício da oração conjugal, o casal irá colher os frutos desses tempos fortes em sua vida conjugal e familiar.

 

 

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