O Brasil que queremos

20 de outubro de 2022

No segundo turno das eleições teremos a oportunidade de dizer qual o Brasil que queremos. E como temos visto, a questão religiosa tem ocupado lugar central das campanhas eleitorais com o envolvimento de ministros ordenados, sobretudo padres, o que não era comum. Isso prejudica o debate eleitoral e político, pois o desvia do que realmente é importante para o país e que se deveria ser debatido nesse momento. Podemos citar: o cuidado com a vida e o meio ambiente, políticas públicas, proteção às populações vulneráveis, protagonismo do país no cenário mundial. No entanto, uma vez que o tema está posto, como cristãos e cristãs católicos não podemos nos omitir. Não é essa a hora de discutir se é adequado ou não votar de acordo com temas religiosos ou a pauta de costumes. É preciso fazer uma discussão mais ampla: qual o Brasil que queremos? E qual o Brasil a Palavra de Deus nos indica.

Para isso é preciso levar em conta que foi nos dado viver no Brasil e no tempo atual. E o Brasil tem uma história que não pode ser negada. É um país que foi colonizado e roubado de suas riquezas naturais de forma violenta. Essa colonização violenta, em sua primeira fase, assassinou a maior parte de sua população, os povos indígenas. Depois criou a mais longa e mortífera escravidão do mundo, trazendo milhões de pessoas escravizadas de África para ser mão de obra nas lavouras, mineração, serviços domésticos e comércio. Esse sistema perverso e desumano foi nocivo à humanidade e à economia do Brasil e do mundo. Levou à morte milhões de pessoas à morte, atrasou a evolução industrial da economia brasileira e naturalizou o racismo, o preconceito e a violência contra seres humanos. Esse é o nosso DNA, nosso maior mal, como apontam os estudiosos Jessé Souza e Laurentino Gomes. É desse Brasil que estamos falando e para o governo do qual vamos votar em 30 de outubro

Levando em conta a história é preciso falar do que o Brasil é capaz de ser, no futuro. Grosso modo, podemos falar de dois projetos de país em disputa no Brasil, segundo o economista Bresser Pereira em sua obra de “A construção política e econômica do Brasil: Sociedade, economia e Estado desde a Independência”. São os projetos “Nacional de desenvolvimentista” e “Liberal Dependente”. O projeto liberal dependente é o que está em vigor desde o início da colonização, com pequenos períodos de recesso. É um projeto que hoje se identifica com o modelo econômico neoliberal que tem como centro o lucro dos bancos e das grandes empresas em detrimento da vida, tanto das pessoas quanto do meio ambiente. É um projeto que não acredita nas potencialidades do país e cujos sujeitos, na maioria das vezes, vivem no exterior. Assim, continuam a política colonial de exploração dos recursos naturais extremamente abundantes no país, da mão de obra, do sangue, da vida de seus povos. Os lucros obtidos, estratosféricos, os depositam em bancos nos paraísos fiscais. Esse projeto sequer acredita numa “elite brasileira” que capaz de levar em frente um ideal de país. Por isso, além de liberal, esse projeto é dependente. É dependente capital financeiro internacional, que já não tem pátria. As consequências desse projeto estão aí. Do ponto de vista econômico, o “carreamento” das riquezas naturais como madeira e minério para fora do país, sem deixar nenhum lucro internamente. Isso causa a desindustrialização do país. Sobra aos brasileiros e brasileiras os danos ambientais e o empobrecimento. No campo social, o aumento das desigualdades sociais e da pobreza. Consequentemente o país torna-se cada vez mais violento e instável, abrindo espaço para o crime organizado, o tráfico e as milícias.

A proposta nacional desenvolvimentista, segundo Bresser Pereira, prevê um desenvolvimento em todos os âmbitos: econômico, científico e social. Esse modelo se fundamenta na certeza de que o Brasil tem uma liderança política interna capaz de propiciar esse desenvolvimento a partir de suas riquezas naturais, humanas e culturais. Entende que o país pode crescer mais economicamente à medida que favoreça a justiça social, melhorando a vida de seus povos. Para isso, basta investir em políticas públicas de distribuição de rendas e oportunidades. Colocar os bancos públicos a serviços dos pequenos e médios empresários, o dinheiro dos impostos em educação, saúde de qualidade para todos. Investir em ciência, tecnologia e infraestrutura, fundamentais para a geração de riquezas. Um Brasil que produza muito e, ao mesmo tempo, seja referência mundial na preservação do meio ambiente, sobretudo a Amazônia, seu maior patrimônio. Um Brasil desenvolvido e internamente harmônico torna-se uma liderança regional e mundial. Essa proposta de país esteve presente poucas vezes nos governos do Brasil e deixaram um excelente legado de melhora econômica e social. Nesses períodos o Brasil conheceu grande crescimento econômico e científico, a melhoria de vida do seu povo e reconhecimento internacional

Como cristãos, no entanto, é preciso olhar para a proposta do Evangelho. Essa proposta pode ser resumida no texto do evangelho de João, 10,10: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Vida plena e abundante para todos os seus filhos e filhas e para toda a criação é a vontade de Deus. Inclusa nessa proposta está em primeiro lugar a defesa da vida, que como nos ensina o Papa Francisco na exortação apostólica Gaudete et Exsultate – GE, n. 101, é a defesa da vida tanto dos bebês que ainda não nasceram quanto dos que já nasceram e se debatem na pobreza. Inclusa nessa proposta está a paz que é  fruto da justiça, como no-lo ensinam os profetas, a fraternidade, a solidariedade. E é mediante esses critérios que o cristão deve fazer sua escolha. Que essa escolha propicie a construção de um país que saiba potencializar suas riquezas materiais e humano culturais e assim propiciar a vida digna para o seu povo prestar serviço para o mundo.

 

Imagem destacada: Nelson Jr. | Ascom TSE