#Reflexão: 18º domingo do Tempo Comum (31 de julho)

29 de julho de 2022

A Igreja celebra, no dia 31, o 18º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Ecl 1,2.2,21-23

Salmo: 89(90),3-4.5-6.12-13.14 e 17 (R. 1)
2ª Leitura: Cl 3,1-5.9-11
Evangelho: Lc 12,13-21

Acesse aqui as leituras.

ILUSÃO DOS BENS MATERIAIS

            Escutando a primeira leitura deste domingo, temos o conteúdo principal para aprofundarmos o que Jesus propõem no Evangelho deste final de semana. O autor do livro do Eclesiástico representa muito bem a angústia daqueles que descobrem, após tanta loucura pelas coisas materiais que, ao final de tudo, não restou nada de importante e de bom. Muitos passam a vida acumulando bens e propriedades, pensando em um dia poder usufruir de tudo, mas acabam não vivendo o presente e o futuro nunca chega. Não deixa um bom exemplo como pessoa, mas somente aquilo que ele correu atrás toda sua vida: seus bens. Dessa forma, os herdeiros não fazem outra coisa que brigar por aquilo que não conquistaram, conforme o próprio autor descreve na primeira leitura.

Jesus no Evangelho também se deparou com uma situação muito semelhante. Dois irmãos não estavam de acordo sobre divisão de seus bens. Um deles pede que Jesus fosse juiz entre os dois e obrigasse a divisão justa da herança. A reação de Jesus é muito significativa pra nós. Nosso Senhor não entra no mérito de quem tem razão ou se há alguma injustiça, mas sim sobre o fato que querer envolver Deus em negócios que nós mesmos podemos resolver. Existiam leis (religiosas e civis) que regulavam aquela questão, bastaria apelar para aquilo que já existia e tudo estaria resolvido. Jesus critica a atitude de um deles que não pede, mas ordena o que Ele deveria fazer.

            A questão suscitada pelos dois irmãos deu margem para Jesus ampliar a questão e apresentar o principal problema entre eles e ainda muito presente no mundo de hoje: a ganância. A parábola proposta por Cristo revela que Ele tinha uma ideia mais profunda sobre a questão. Jesus apresenta, inicialmente, uma advertência fundamental sobre o excesso de apego aos bens deste mundo, pois mesmo que alguém esteja na abundância (de bens), isto não significa que ele já descobriu o fundamento para sua vida. Para ilustrar isto, Jesus conta uma parábola.

O homem da parábola de Jesus não é descrito com uma pessoa ruim, um ladrão ou um injusto. Ele representa aquilo que muitos neste mundo vivem. Ele possuía sua propriedade, já era rico, tinha trabalhado muito, já tinha obtido progressos no ano anterior (os celeiros já estavam cheios) e tinha obtido grande progresso na nova colheita, mas tudo isto não lhe trazia paz e sossego. A riqueza que a terra tinha produzido naquele ano lhe trouxe novas preocupações.

São Basílio de Cesareia (século IV) afirma que a sua pergunta: “Que farei?” é a mesma que os pobres fazem diante da fome e da miséria. Em certo sentido, o rico agricultor se sentia ainda pobre e sem solução. A forma que procura resolver seu dilema é mais estúpido ainda: destruir o que já tinha construído. A riqueza que já tinha acumulado não era ainda capaz de lhe produzir paz e tranquilidade, a solução foi aumentar espaço para acumular ainda mais; ter tudo ao seu lado e bem protegido.

Pobre homem! Pois, achava que poderia dar segurança investindo em mais depósito e guardando tudo que tinha (seus bens) e aquilo que a terra lhe tinha dado. Segundo Jesus, tal rico fazendeiro concluiu seu pensamento achando que somente assim, poderia dar sossego a sua alma e segurança em relação ao futuro. A impressão que se tem que tal proprietário, até aquele momento não tinha vivido sua vida normalmente, mas passou sua existência correndo atrás de ter mais, acumular o máximo e proteger todos seus bens. Uma vida sufocada pela insegurança de não ter o suficiente e inseguro com o seu futuro.

            O seu modo de pensar revela toda sua vida. Ele sempre apresenta tudo somente na primeira pessoa: eu e meu (em um texto com mais de 50 palavras, 14 estão ligadas a “meu”). Em nenhum momento, ele pensa na família, nos parentes e nem nos amigos. Certamente, ele tinha muitos operários, nem eles faziam parte de seus planos. Um homem isolado em seu mundo, valores e prioridades onde não existem pessoas, somente seus bens. Vivia em um deserto e em profunda solidão, por isto era preocupado, por isto era inseguro e não encontrava motivo para viver uma vida normal: comer, beber e se divertir. A impressão que se tem que ele imagina “curtir a vida” (comendo e bebendo) fazendo tudo sozinho.

Jesus não é contra nem a riqueza e nem contra a propriedade, mas ao sentido da vida que aquele homem construiu para si onde ninguém, nenhuma pessoa, fazia parte. As coisas matérias podem nos oferecer certos prazeres e alegrias, mas se utilizamos tudo isto somente pra nós mesmos, tudo se transforma somente em problema, angústia e preocupação. O rico proprietário organizou sua vida em uma ilusão de que as coisas materiais poderiam dar segurança, paz, satisfação e futuro, mas nada disso ele conseguia obter com suas riquezas que já possuía (já era rico) e a nova colheita lhe trouxe mais problemas.

Seu modo de vida, somente ele e seus bens tinham espaço, mas o pior de todos os seus erros: seu fechamento para o próximo, principalmente para com aqueles que nada possuíam. O povo da Bíblia afirma que os frutos da terra não nos pertencem, mas são dons de Deus, pois aquele que trabalha a terra faz o mínimo, os verdadeiros responsáveis por uma colheita são a natureza e Deus. O homem é somente administrador de tudo, não para si, mas para os outros. Esta riqueza da partilha, aquele homem da parábola não tinha descoberto. Por isto que Paulo (na segunda leitura) afirma que a cobiça (no Evangelho foi traduzida por avareza) é a principal idolatria.

            O rico agricultor tinha sua vida tão fechada em seus bens que em nenhum momento se recorda de Deus, nem para agradecer pela colheita e nem para pedir por seu futuro. O mundo de hoje ainda insiste na ilusão de que a nossa vida não vai além de nossa existência na terra: as pessoas vivem para o momento e não para a eternidade. O futuro e o amanhã com suas etapas naturais (velhice e a morte) não fazem parte dos projetos de muitos. A vida é um constante correr buscando cada vez mais bens; de construir celeiros e esperar um dia usufruir sozinho de tudo que acumulou.

Jesus conclui a parábola chamando o sujeito de “insensato”, não de pecador ou criminoso, mas de uma pessoa que viveu sua vida correndo atrás de coisas que nunca conseguiram dar paz para sua alma. Uma vida inútil e vazia. Para Jesus o verdadeiro sentido da vida é aprender a compartilhar aquilo que temos e somos com outras pessoas. Quem mais sabe doar, mais rico se torna não de bens, mas de paz, amizade, satisfação e sentido de vida. Domingo passado, na oração de Jesus recordamos que pedimos o básico e fundamental para nossa vida “pão nosso de cada dia”, confiando que Deus Pai nunca nos deixará faltar o necessário para nossa existência. Jesus ao terminar sua vida neste mundo foi a pessoa rica que existiu aos olhos de Deus, pois doou tudo que tinha, inclusive nos deu tudo de que precisamos para a alegria eterna junto de Deus.

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