#Reflexão: 1º domingo do Advento (03 de dezembro)

30 de novembro de 2023

A Igreja celebra o 1º domingo do advento, neste domingo (03). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7
Salmo: 79(80),2ac.3b.15-16.18-19 (R. 4)
2ª Leitura:1Cor 1,3-9
Evangelho: Mc 13,33-37

Acesse aqui as leituras.

RECONHECER, ESPERAR E VIGIAR

             Com o tempo do Advento, a Igreja inicia uma nova caminhada de fé e de esperança procurando nos ajudar a recordar daquele que é o centro de nossa vida e de nossa existência. Advento significa “aproximação”, “vinda”, “chegada”, por isso é um tempo de espera, mas não esperamos algo ou alguma coisa, mas sim, uma pessoa. O Advento nos ajuda a esperar Jesus Cristo que sempre vem ao nosso encontro e um dia nos acolherá na eternidade.

Na primeira leitura, o profeta Isaías nos apresenta um grito do povo que se encontrava perdido e quase sem esperança durante o exílio da Babilônia. Em terras estrangeiras, longe de tudo que expressava a fé de Israel (a terra, a cidade de Jerusalém, o Templo…) sobraram somente as lembranças e a memória do passado. O profeta reconhece que estão pagando o preço por causa dos pecados e da frieza que todos tiveram diante de Deus. São palavras que beiram o desespero pela realidade, mas também de um profundo reconhecimento da grandeza e do poder de Deus que é invocado como “pai”, expressão rara nos texto do AT. O profeta mostra não uma fé nostálgica (presa ao passado), mas uma esperança na experiência que o próprio povo de Deus já teve. Um Deus que é capaz de fazer tudo pelos seus filhos e filhas. Por isso, a prece do profeta é que Deus “rasgue” o céu novamente para defender e salvar o seu povo. Por fim, Isaías renova sua esperança colocando-se, juntamente com seu povo, nas mãos de Deus e deixando-se modelar como barro nas mãos do oleiro.

No Evangelho de Marcos, por bem três vezes Jesus exorta os seus discípulos a vigiar. Para melhor ilustrar isso, Jesus usa uma história de um ambiente familiar: o senhor parte em viagem de sua casa e fala com os seus empregados que um dia retornará. Assim, não se espera uma “pessoa qualquer”, mas aquele que é o senhor da casa.

As primeiras palavras de exortação de Jesus no trecho do Evangelho deste domingo falam do retorno em um “momento oportuno” (kairos = Tempo de Deus), não é um dia determinado no nosso tempo (uma data no nosso calendário), mas afirma que acontecerá em um momento de graça e no tempo oportuno de Deus.

Este senhor parte de sua casa e tudo acontece em um ambiente onde todos se conhecem. Assim, o retorno é nada mais que um reencontro de pessoas que nutrem um grande afeto e intimidade. Ao partir, segundo Jesus, o dono da casa deixa seus bens não para estranhos (e nem para seus filhos), mas para pessoas que ele conhece e que são classificadas por Jesus como “servos, empregados”, pois o dono da casa é um só. Mas, esta forma de mencionar os ocupantes da casa em nada os diminui ou desqualifica, pelo contrário, todos sabendo que tudo pertence a um só, torna cada um responsável pelo bem comum, pois ninguém pode se sentir “dono” e, assim usufruir dos bens de forma irresponsável.

A relação do dono da casa é especial. Ele parte em viagem (não desaparece), mas antes deixa tudo nas mãos dos seus servos, com recomendações fundamentais: o dono deixa tudo e frisa bem que devem zelar com “responsabilidade” sobre seus bens; cada um possui “tarefas” ou atividades para que tudo continue em ordem; e por fim, exorta aos porteiros que fiquem “vigiando”.

O senhor da casa está ausente, mas seus empregados devem continuar vivendo como sempre viveram: com responsabilidade e cumprindo cada um sua tarefa para o bem de todos e da casa. Assim, os empregados devem se comportar como se o dono estivesse sempre presente. Interessante que nas palavras de Jesus, somente o porteiro recebe a incumbência da vigilância.

Sabemos que o “dono da casa” é Jesus que depois da sua ascensão não “desapareceu”, mas se distanciou de nossos olhos para continuar nos visitando em “momentos oportunos”. Ele  sempre vem ao nosso encontro em cada pessoa que nós encontramos e de modo especial nos mais necessitados. Estes são os “momentos oportunos” que devemos ficar atentos até o dia em que se manifestará plenamente na história.

O “porteiro” na história de Jesus é a nossa consciência que deve ser a “porta” de acesso de nossa vida. Por esta “porta”, nós devemos permitir entrar somente aquilo que vem de Deus.

Jesus retoma o tema da vigilância, agora afirmando para todos os seus “empregados” (nós): vigiar sempre, pois não se sabe quando o dono da casa vem. O texto original não diz “virá” (o que poderia ser entendido com algo em um tempo determinado com data), mas que “vem” (algo no presente e constante de nossa vida). De fato, Ele sempre se faz presente em nossa vida e história, muitas vezes, nós é que perdemos a capacidade de sentir sua presença amorosa, como nosso pastor e guia.

Na história familiar contada por Jesus, Ele menciona que o alerta para o seu retorno tem que ser “redobrado” nos momentos mais difíceis. Nosso Senhor menciona quatro momentos da noite que inicia com o entardecer, passa pela meia-noite, depois a madrugada até o amanhecer. Sabemos que a “noite” (momento de mais dificuldade e temor) devemos estar mais vigilantes e atentos. Nos momentos de “noite escura” (desafios e dificuldades) é que devemos estar mais atentos!

Na nossa história, conhecemos muitos que se aproveitaram dos momentos de “escuridão” para se apresentarem como “a melhor solução” ou como “salvador”. Muitos se colocaram como “luz” para iluminar a noite das incertezas, mas se revelaram mais escuridão e trevas para o nosso povo.

O período da noite é também momento do “repouso”, mas isto não deve ser aplicado ao zelo pela “Casa” que pertence ao senhor. Cada vez mais, as pessoas estão se distanciando das “coisas de Deus” e envolvidas somente com os afazeres da vida. O que deve ser principal está se tornando secundário; e aquilo que tem menos importância, está se tornando centro de tudo.

Jesus alerta no final do Evangelho para estarmos sempre atentos para não sermos surpreendidos com o retorno do “dona da casa” e nos encontrarmos “dormindo” para as coisas de Deus.

A fé e a esperança que devem embalar a vida e o cotidiano de cada cristão devem estar bem aprofundadas nesta experiência de quem é realmente Jesus. Muitos, infelizmente, já perderam a referência de quem é realmente o Senhor Jesus em suas vidas. São muitos os “senhores” em nosso tempo que estão no lugar daquele que realmente pode nos dar o verdadeiro sentido de nossa existência.

Paulo na segunda leitura nos lembra que todos já possuímos dons e tudo de que necessitamos para continuar a nossa missão, pois a nossa maior riqueza está no conhecimento e na prática de tudo que Ele nos ensinou.

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